14. heartache melody, eletric enemy.

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ALICIA

Não consegui dormir hoje. Era como se não pudesse pregar os olhos sem antes escrever todas as ideias que estavam me assombrando naquele momento.

Quando chego no Zama, completamente desacompanhada, faço uma pausa na mesa que costumo ficar com os meninos. Preciso descansar um pouco, recuperar o fôlego.

Dou uma conferida nas redes sociais, sempre mostrando uma pequena quantidade de seguidores novos, novas curtidas em todas as fotos e muitas solicitações na DM. Arrisco abrir algumas e responder da melhor forma.

Katia mandou mais de dez mensagens. Arquivo a conversa dela. Não quero pensar nisso agora. A única coisa que quero ter em mente são as novas ideias de música e sugestões do que podemos fazer no Natal. O tempo está passando muito rápido.

Outras pessoas começam a aparecer para as suas tutorias. Consigo reconhecer qual banda cada um pertence só com um olhar e algumas informações que Esmeralda compartilhou nas nossas noites acordados.

Vejo o Túlio do Deep. Piercing no septo, jaqueta de couro, calça jeans larga, lápis de olho borrado,  um físico bonito - não tão musculoso - e por fim reparo nas unhas pintadas. Some no primeiro corredor.

Seguro uma risada quando a Yngrid dá de cara com a porta de vidro. Ela percebe que estou ali, observando, mas não acena. Desvia o olhar e joga o cabelo cacheado para trás do ombro e segue para a sala da Judith na secretaria.

A última eu já vi em algum lugar, mas não consigo me lembrar exatamente onde. Tem o cabelo curto, um moreno iluminado, botas de salto e saia. Sobe as escadas. Espero que esteja no último degrau para começar a subir.

Bato na porta antes de entrar. Liliane berra de dentro me pedindo para entrar.

Procuro-a primeiro na sua mesa, depois meu olhar a encontra na outra extremidade da sala, se equilibrando numa cadeira, ajustando as cortinas enormes. Corro para ajudá-la.

- Não entendo essas janelas enormes só nessa sala! - Reclama. - Obrigada minha linda.

- De nada. - Limpo minhas mãos na calça. - Pensei que gostasse dessa sala.

- Eu adoro o espaço, mas essas janelas... - Balança a cabeça em negativa. - Dão um trabalhão! Ainda mais pra alguém da minha altura.

Ela tem um e sessenta e alguma coisa. No máximo. Me sinto levemente ofendida, mas sei que não foi a intenção. Reprimo os anos de bullying na escola - e em qualquer outro lugar.

- Quero saber o que andou escrevendo! E o que o grupo tem discutido... - Ela se senta atrás da mesa, puxa um cadero e abre numa página específica. Escolhe uma caneta no seu pote, coloca o bocal na outra ponta e me encara. - Trouxe seu caderninho?

- Sim. Não consegui dormir muito bem hoje porque estava terminando de escrever uma. Nós chamamos de "Karma", mas eu tô pensando em mudar o título. - Explico, tirando o caderno da minha bolsa e mostrando a letra já passada a limpo. - Usei uns marca-textos para saber quem canta o quê. A Dana deu essa ideia e todos aderiram.

- Achei isso muito legal! - Diz, com entusiasmo. - Essa aqui é só sua, né?

- É. - Rio, sem graça. - Queria que fosse mais minha e das meninas que deles, entende?

- Aham. - Seus olhos percorrem as últimas linhas. - E como você pensou nessa música?

Paro por alguns segundos. Não quero falar do Gustavo nem nada do tipo. Seus olhos encontram os meus.

- Como você pensou na sonoridade. Foi isso que eu quis dizer. - Passa a palma da mão na folha em branco, ansiosa para escrever. - Não precisa falar do processo criativo se não quiser. É pessoal do artista.

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