4. burning pile, mother mother.

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ALEX

Sinto alguma coisa vibrar debaixo do travesseiro extremamente confortável de encontro à minha bochecha. Pego meu celular e vejo a foto sorridente da minha irmã na tela. O cabelo descolorido de loiro, com as pontas rosa desbotando amarrado em duas tranças, uma em cada ombro. Por um momento consigo me lembrar o que aconteceu na noite anterior. 

- Onde você tá, porra? - A voz suave dela é tão oposta ao seu vocabulário que as vezes chega a ser engraçado. - Fiquei preocupada. Não sabia que dormiria fora, poderia ter avisado.

Passo a mão no rosto tentando lembrar onde exatamente estou. Na minha frente uma estante de livros. Um teclado num canto, cheio de adesivos. Um poster escrito 'AURORA TOUR' e uma banda que não conheço colado na parede. De repente a conversa de ontem me vem na íntegra e quase sorrio.

- Na casa de uma colega. Da escola. - Ignoro o resto porque não quero pensar muito de imediato.

- Qual o nome dela? Onde fica? Usou camisinha?

- O quê? Não!

- Não usou? Tá maluco?

- Quê? Ariel, não é isso. Eu não transei com ninguém. Puta merda.

Ela não para de falar. Consigo imaginá-la andando de um lado para o outro no apartamento, com o celular entre o ombro e o ouvido. Ariel chegou da Europa faz algumas semanas e vai voltar na sexta-feira. Está estudando artes plásticas em Paris, na França. Conseguiu uma bolsa de cem porcento com tudo pago no ano passado.

Largo o celular em qualquer lugar porque Ari não me deixa falar. A porta se abre antes que eu possa tocar na maçaneta.

- Bom dia! - Dana está sorrindo, diferente de como a vejo sempre na escola. - O café da manhã está pronto. Nós acordamos um pouco mais cedo hoje. Já ia te acordar.

Tento sorrir, ainda não sei direito o que tô fazendo com o meu rosto. Ela parece rir de mim. Me acha engraçado sem nem me esforçar.

- Certo. - Levanta o braço até meu cabelo. - Como você costuma arrumar os cachos? A Esmeralda tem creme no armário do banheiro. A Alícia usou hoje, você pode fazer isso também.

Balanço a cabeça. Ela entra no quarto e me deixa passar para a sala. A TV ligada no jornal da Globo, passando as últimas notícias de São Paulo.

Na cozinha, debaixo de uma luz amarelada, está Esmeralda e Alícia na mesa, comendo e conversando sobre futilidades, alheias ao barulho da sala. A de olhos verdes se levanta assim que percebe a minha movimentação, acena. Vou até elas. 

- Espero que goste de torrada e ovo. - Diz, me oferecendo um prato. - Temos geleia como opção, mas acho que está quase fora da validade e o gosto já não é o mesmo. Precisamos urgentemente fazer compras. 

Me sento com tranquilidade, o cheiro do café é ótimo então sirvo uma xícara para mim. Não sou do tipo de pessoa que fica realmente mal humorada de manhã, mas sei que minha cara de sono diz o completo oposto, então nada melhor que um pouco de cafeína no sangue. 

- Alex! Tem uma mulher gritando do seu celular! - Dana grita do quarto. - Venha dar um jeito nisso!

As meninas franzem as sobrancelhas uma para a outra e eu me levanto, voltando para a minha conversa com Ariel. A de olhos puxados está sentada na cama conferindo os itens da bolsa, se estica até a cômoda ao lado da cama e pega um caderninho de capa laranja cheia de adesivos. O enfia com rapidez no bolso maior. 

- Pode me dizer se vai voltar para casa? Pensei que ficaria até seu aniversário. Comprei passagem de volta só para o dia seguinte porque quero passar o natal e ano novo com minhas amigas na França. - Ela continua falando minha orelha, sem pausas. - E precisa de uma casa mais perto do trabalho e de onde você estuda, Lex. 

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