A tinta acabou. A tinta da antiga caneta que Nikolai usava para escrever as dezenas de cartas para um homem morto acabou.
E por que o trabalho de levar mais teve que cair justo sobre Tachihara? É claro que ele é o novato, mas não significa que não tivesse nada melhor pra fazer.
Achava ridículo o fato de ainda permitirem que esse louco tivesse acesso a papel e caneta.
Assim que o ruivo destrancou a porta, deu de cara com um garoto platinado o encarando. Nikolai sorriu para ele, seus olhos bicolores tornavam seu sorriso ainda mais lunático.
— Olá! Você veio me visitar? Eu nunca recebo visitas...
— Disseram que sua tinta acabou. — Tachihara entrou na pequena cela, desviando do outro.
Havia apenas uma cama de solteiro, com um colchão duro em cima, uma porta para um banheiro fedido ao lado, e uma mesa. Na mesa havia três blocos fechados de papel e um aberto, junto de folhas soltas espalhadas pela superfície. Também estavam lá a caneta antiga e o pote onde se guardava a tinta.
O ruivo reabasteceu o pote e guardou mais potes de tinta preta ao lado dos blocos de papel. Nikolai poderia acabar com pelo menos mais 500 árvorez até essa tinta acabar.
O platinado estava deitado de ponta cabeça em sua cama, enquanto observava Tachihara com o mesmo sorriso.
— Pronto. Agora quem sabe da próxima vez não mandem o Jouno pra te... Visitar. — revirou os olhos ao final da frase.
— Obrigado! — Nikolai pulou da cama.
Antes de sair, Tachihara não foi nem um pouco discreto ao começar a ler uma das cartas do outro, que parou ao seu lado.
"Caro, Fedya,
Me sinto tão só
Encarando paredes tão frias
Quanto seu inexistente coraçãoUm tolo, aristocrata,
sobrevivendo nesta
Ridícula ilusão
De justiça falsificadaMe sinto inútil
Tal como minha eterna gaiola
Posso voar
Mas insisto em esperarte
A tua falsa promessa..."
Tachihara riu anasalado. Definitivamente, este homem é completamente louco. Quando se virou para sair, se assustou com a presença do outro atrás de si, encarando o papel que colocará de volta na mesa.
— ainda não terminei.
— Por que a tinta acabou?
— Nahn. Não sei como continuar.
Nikolai sentiu-se novamente na cama, de frente para um espelho trincado que estava apoiado em um canto do chão, e havia passado despercebido pelo ruivo.
Ele começava a desfazer a bendita trança de seu cabelo enquanto cantarolava uma melodia melancólica. Seu sorriso diminuía, mas nunca sumia enquanto algumas lágrimas desciam de seus olhos.
Tachihara suspirou e caminhou em direção a porta, a destrancando novamente.
— Já escreveu sobre você?
— É só o que faço.
— Quero dizer, sobre você. Tipo, não tem como você ter sido... assim... A vida inteira. Quem sabe esse tal Fedya queira saber quem você era antes da prisão. — deu de ombros e saiu da cela.
Gogol pôde ouvir o som da trava e secou suas lágrimas, deixando completamente de sorrir.
— Sobre mim? — caminhou até a mesa. —Fedya sabia exatamente como eu era. Ele me conhecia melhor do que ninguém... — s sentou na cadeira empoeirada e pegou a caneta com a mão direita.
Ele molhou-a na tinta nova e apoiou-a sobre o papel, suspirando. Nikolai sorriu novamente, mas não era um riso lunático, não. Era um sorriso que não sabia mais que era capaz de dar.
"Caro, fedya,
Quero me apresentar:
Chamo-me Nikolai Vasilievich Gogol.
Um homem desiludido
Sem amor a vida.Você se aproveitou desse meu desinteresse
Me impediu de alcançar a liberdade
Me prometendo que ela viria depois.Não, não me arrependo
de acreditar-te.Minha tão patética vida
Ganhou o propósito de servi-lo
E minhas tão sozinhas noites
Se encontravam com tua
Sombra naquele terraço.Gosto da noite,
Me lembra a ti.
Um monstro sonhador
Que me visita em
Sonhos assustadores.Não quero voltar atrás,
Não preciso me arrepender.Necessito a ti,
Porém fui eu que a mim me livrei
De teu psicótico amor.Nikolai."
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Eternal Freedom - Fyolai
FanfictionFyodor está morto, Nikolai o matou. Nikolai foi preso pelo governo, e a única maneira de fugir é pela morte. Gogol passa todos os seus entediantes días e noites em sua cela escura escrevendo cartas e poemas para seu amado, Mas nunca as envia, e muit...