Flynt, de repente, se afastou de mim.
_Então, o que aconteceu aqui? - Ele disse olhando pro cadáver aos nossos pés.
_Ah, isso. – Falei encarando o que restara da garota-demônio. _Acho que acabei de matar o primeiro demônio da minha carreira de caçadora. – Eu me esforcei para soar mais contente do que estava. Eu queria muito que Flynt tivesse continuado me beijando.
Flynt balançou a cabeça.
_Não, Milla.
Franzi o cenho.
_Fiz alguma coisa errada?
Flynt olhou pra mim.
_Não, fez tudo certo. Exatamente o que deve ser feito para expulsar um demônio.
_Expulsar?
_Não tem como realmente matar um demônio. Quando você o "mata", ele apenas retorna pro inferno, que é onde todos os demônios deveriam estar.
_Você está dizendo... - Eu disse olhando pra carcaça. _Que não tem como se matar um demônio de verdade?!
_É isso mesmo que eu estou dizendo. Infelizmente.
_A porcaria da fumaça preta! – Exclamei me dando conta de que era o demônio. _Então, o que eu tinha que ter feito?
_Exatamente o que fez. Não poderia, de jeito nenhum, ter feito melhor. Eu não cheguei a te falar como se expulsava um demônio. Como soube?
_Foi um palpite. – Dei de ombros.
_Um belo palpite. – Flynt disse. _Agora, temos que tirar o corpo daqui.
_É. – Concordei a contragosto.
Eu ergui o corpo pelas pernas, Flynt pelos braços. Ele também levou a cabeça para fora, desviei o olhar nessa hora.
Entramos ainda mais além pelas árvores do que íamos para treinar.
Flynt e eu levamos horas para cavar uma cova bem funda. Depois disso, jogamos o corpo lá dentro. Percebi, então, que Flynt trouxera consigo uma garrafa e fósforos.
_Temos que colocar fogo. – Ele respondeu ao meu olhar indagador. _O corpo ocupado funciona como uma ponte para o demônio voltar do inferno. Se o queimarmos, quebramos a ponte.
_E então ele nunca mais volta?
_Sempre há essa possibilidade.
Flynt derramou querosene sobre o corpo e logo em seguida jogou um fósforo aceso. Observei as chamas consumirem a carcaça.
_E ela?
_A garota? Não precisa se preocupar, já não estava aí faz tempo. Um demônio não pode ocupar um corpo vivo.
Encarei o rosto de Flynt, iluminado pelo fogo.
_Mas e... as possessões?
_Possessões? Do tipo que um padre exorciza? – Flynt sorriu. _É um suscetível sob influência.
Digeri as palavras dele. Segundo a definição, meu pai estava possuído.
_Então os padres realmente exorcizam?
_Na verdade, isso é uma estereotipação. Existiram dois ou três padres caçadores... Mas quem exorciza, somos nós, caçadores.
_Entendi. – Respondi voltando a mirar o fogo.

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SOMBRAS I
FantasyVivendo sozinha em Boston, tentando fazer uma vida para si mesma, ela tenta ignorar o frio na espinha e o terror cada vez que cai na inconsciência: Milla está sendo atormentada por pesadelos cada vez mais recorrentes, e cada vez mais reais. Sua vid...