Abigail
Vou me arrepender deste dia pelo resto da minha vida.
Não falo como uma praga, é mais como um sentimento de incrível dualidade. Mal consigo elaborar o que estou sentindo. Não sei se são os braços de Benjamin quase rasgando a camisa de linho que deve custar um mês do meu aluguel ou o fato de que nem tenho mais onde morar para sequer ter um aluguel a ser pago falando mais alto. Sei que preciso de uma taça de vinho.
Talvez uma garrafa.
Adoraria dizer que Benjamin só ignorou meu pedido e deu meia volta. Mas, por algum motivo, se sentiu obrigado a subir. E pior, a tagarelar em meu ouvido.
- Tá bom. Já entendi. - O olho de soslaio. Ele ainda sobe as escadas enquanto destranco a porta de casa.
- Qual é, Abigail... - Benjamin suspira e, por fim, termina o último lance de escadas - Você não ouviu uma palavra do que eu falei.
- Talvez seja melhor assim, não acha? - Levanto minhas sobrancelhas, tentando passar credibilidade quando a porta de casa se abre.
Kali sentava no chão da sala com sacolas da Sephora ao seu redor.
- Você não deve nem ter empacotado as suas coisas ainda. - Benjamin murmura antes de perceber sua presença.
- Não briguem na frente da minha filha, por favor. - Kali brinca e me olha com curiosidade enquanto Benjamin acha graça. Quero morrer.
- Não tenho culpa se sua amiga tem problemas com organização - Ele abaixa seu tom, numa tentativa falha de fazer que eu não o escutasse.
- Abby, é... - Kali pergunta, e a curiosidade não sai de seus olhos.
- Esse infeliz me tirou de Forest Hills pra almoçar com sociopatas. - Respondo sua pergunta, que não precisava nem ser escutada para saber se era mesmo isso que ela queria saber.
- Pode até ser... - Ele me olha, concordando com a cabeça e apertando os lábios - Mas já pedi desculpas. Aliás, cadê - Assim que Benjamin começa a falar, começo a sinalizar que pare com minha mão perto do pescoço, mas não percebe. Kali vai me matar - As caixas... - Ele retoma, e só depois disso percebe a possível merda feita.
- Estão no escritório. - Kali fecha a cara e me olha, como se pedisse uma explicação.
Benjamin vai até o escritório e consigo ouvi-lo empilhando caixas. É claro que ele não precisava fazer isto, mas quem disse que vai mudar de ideia? Independente do que seja, Benjamin é uma daquelas pessoas que se coloca algo na cabeça insiste até não poder mais.
- Então você vai pra casa do bonitão. - Kali pergunta, sentada no balcão da cozinha me observando enquanto termino de embalar minhas louças com plástico bolha.
- É temporário. - Me viro rapidamente com firmeza, para ao menos para fingir que tenho certeza disso - Pelo ou menos... - Jogo meus cachos para trás, tirando os de meu rosto - Sei lá, até eu achar outro lugar.
- E acharem este outro lugar pra provar que até Mark é mais noivo de Benjamin do que você? - Os olhos de Kali se arregalam, e sua expressão sugere uma falta de paciência descomunal.
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Perfect Strangers
Romance"Pessoas destinadas a se encontrar se encontrarão. Aparentemente por acaso, precisamente no momento certo."