Capítulo oito

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Abigail

Estou sentada no chão do meu apartamento e toda a minha vida, empacotada em caixas de papelão, está ao meu redor. Acordei com uma das piores ressacas que já tive, e para piorar, tudo isso depois de ter me embebedado com Benjamin. Pois é, com Benjamin.

Estou perdida, mas esse não é um daqueles sentimentos que vai embora. Era como se em mim tivesse feito morada e eu fosse incapaz de achar a saída. Mas eu precisava. Por isso, antes mesmo de começar minha manhã com o café sagrado da Milo's, comecei meu dia mandando uma mensagem para Benjamin.

"Bom dia, Benjamin. Espero que não esteja me culpando pela vodka barata da noite passada. Podemos conversar?" - Brinco, e desta vez espero que ele perceba.

Bom, talvez até perceba, mas nada ainda. Enquanto sua mensagem não chegava, uma ligação fez meu telefone vibrar e meu coração dar um salto ao ler o nome na tela. Victoria Bellinger, minha mãe. Estaria com o contato salvo como tal se não trocasse de número todas as vezes que viaja, e isso acontece tantas vezes que ela nem se preocupa mais em me avisar. Se essa aposta estivesse valendo meu salário, eu diria que agora, antes mesmo de atender o telefone e perguntá-la, tenho certeza de onde está. Budapeste. Quando me elogiava, ocasiões das quais consigo contar no dedo, mamãe dizia que eu estava como Budapeste em maio. O que eu, como uma criança, supus que seria lindo. E até hoje espero que não esteja enganada.

- Tori! Tori, ela atendeu. - Ouço uma voz grave e meus ouvidos se acanham com o barulho que mais parece de um motor ao fundo da ligação.

- Mãe?

- Gail, querida! Te liguei várias vezes, porque só estou conseguindo falar com você agora?

- Troquei de celular. - Troquei mesmo, mas essa desculpa já tinha ficado velha. Já até menti com ela, acho - Esse não identifica suas chamadas direito, mãe. Desde Mattia não atendo mais números desconhecidos. Você podia ter me enviado uma mensagem.

- Não precisei de nada. Por isso não te enviei!

- E desde quando precisa de algo pra me mandar mensagem? - Suspiro.

- Não foi pra isso que te liguei, minha filha. - Mamãe quase cantarola. Ela tinha essa mania quando percebia que eu estava ficando irritada. Cantarolava palavras, desculpas esfarrapadas. Achei que ficaria livre dessa mania dela quando crescesse, mas certas coisas nunca mudam mesmo - Seu pai está te procurando.

- E você achou que fosse esse o momento perfeito para me contar? - Minhas sobrancelhas se franzem e agradeço ao universo por essa não ser uma ligação vi Facetime. Estou a cara dela.

Papai foi o primeiro a saber que Mattia havia me deixado.

Sempre fomos muito próximos, muito mais do que eu era de minha mãe, inclusive. Mas se tinha algo que ele desprezava, isso era Mattia. Nunca consegui entender ao certo a razão, até por que ficamos juntos por muito tempo, e seria normal que meu pai se acostumasse com a presença dele. Mas não se acostumou, e adorava me dizer o quanto aquilo era uma furada para mim. Talvez tenha sido, afinal.

Eu estava prestes a entrar para o curso de História da Universidade do Michigan, mas bem, era em Ann Arbor, não Coney Island. Não preciso nem dizer o quão desapontado meu pai ficou, apesar de ter superado com o tempo. Até que numa terça-feira ás duas da manhã bati como uma maluca na porta de sua casa. "O que foi, minha filha?", ele repetia, mas nenhuma palavra sequer escapava dos meus lábios.

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