Eu não quero te amar.

89 8 10
                                    

1912

Os cabelos loiros estavam opacos, os lábios rachados e os olhos não conseguiam focar em um lugar só. Graça tremia de febre e seu irmão segurava um pano com água fresca enquanto tentava baixar a temperatura do seu corpo em vão.

–Kelvin, meu irmão... -Ela tentou dizer chorosa notando o desespero do mais velho em tentar ajudá-la - Pode parar...

–Não, - ele negou passando o pano molhado pelo rosto e colo da loira - eu não vou parar, a febre vai baixar, você vai ficar boa.

Graça gemeu de dor e as duas enfermeiras que Kelvin havia contratado foram correndo buscar a medicação antitérmica, porém não a encontrando em lugar nenhum.

–Deve estar em outro quarto! - Kelvin gritou ao escutar as queixas - Corram, liguem para o médico! - Ordenou fazendo as duas mulheres baixinhas correram assustadas para dois lados opostos - Graça, olha pra mim, você não pode me deixar eu não quero ficar sozinho - Disse em tom choroso - não vou aguentar cercado de luto nesta casa, não posso ser o que sobrou minha irmã.

–Eu estou sentindo muita dor, Kelvin...- Reclamou fraca e Kelvin segurou suas mãos.

–Você só precisa ser forte, o medicamento vai funcionar, - Tentou tranquilizar percebendo que as íris da mulher moviam frenéticas e sua respiração começava a ficar fraca - Seja forte, Graça, você tem tanto para viver ainda, Jonatas está chegando e vocês vão casar e viver uma vida linda juntos.

–Eu amo ele...

–E ele te ama, depois de tudo o que passou o amor de vocês venceu, e isso é lindo de ser ver minha irmã, - se assustou com o som estranho que ela fez para tentar respirar - Santa Senhora Mãe de Deus, olhe para minha irmã agora. - Pediu deixando um beijo na mão da mais nova.

Porém não conseguiu fazer nada quando ela começou a convulsionar, seu corpo estava pegando fogo e a língua começou a se enrolar muito presa na sua garganta. Desesperado, Kelvin gritou, mas quando as enfermeiras chegaram Graça estava dando seus últimos espaços. Conferiram o coração da mulher e nada escutaram, afirmando que a moça havia os deixado.

Kelvin escutou aquilo em silêncio, enxugando as lágrimas que deixavam suas bochechas molhadas. Depois de minutos a sós com o corpo da irmã olhou para os lados procurando onde estava o médico que havia pedido gritando uma das enfermeiras que ele sabia ter a língua mais solta.

–Estamos respeitando seu luto, patrão, não acredito que estamos com boas novas, o doutor passou o dia todo na casa dos Almeida.

–O que houve com os Almeida?

–Seu cunhado, Jonatas, foi encontrado quase morto à beira da estrada, levaram ele para casa e o doutor está lá desde cedo tentando salvar o rapaz, não acredito que conseguiu.

–Ele morreu? - Perguntou e a mulher não soube o que responder - Ao mesmo tempo que minha irmã?

–Será? O amor deles era tão grande que...

–Não quero escutar o que você tem a dizer, se não tem certeza que o Sr. Jonatas morreu não invente essas coisas. - Cortou se levantando, deixando o quarto com o queixo erguido e gritando pelo seu empregado mais fiel - Matias?!

–Sim, Sr.Kelvin. - O velho empregado chegou com passos rápidos, tirando o chapéu na presença do patrãozinho.

–Mande alguém para buscar e preparar o corpo de minha irmã, quero fazer toda a cerimônia fúnebre amanhã de manhã. - Ordenava enquanto olhava a chuva cair do lado de fora da casa - Convite Pereira e o Delegado Marino para jantar hoje comigo, gostaria de uma companhia nesse momento de luto, mas faço muito mais questão da presença do Delegado Marino.

passado presente - kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora