O casarão. (part. 3)

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De todos os cenários que poderiam existir no mundo, a mente de Kelvin sempre fantasiava o melhor beijo da sua vida em um jantar romântico ou em uma ilha paradisíaca; pensamentos influenciados pelo o que via em filmes e novelas. Por isso, não imaginou que o melhor beijo de sua vida estaria sendo dado na calada da noite, em um muro de uma casa antiga e com uma pessoa que ele conhecia a pouco mais de uma semana.

E ele podia sim afirmar que era o melhor beijo, já que mal conseguia focar nos detalhes sem se derreter: a mão de Ramiro por debaixo de sua blusa - que já era um pouco curta, mas a ousadia de subir mais o deixou ainda mais animado - o trazia mais para si, a sua boca era macia, quente, molhada e sabia muito bem o que estava fazendo.

Não podia negar que havia sim um desejo entre os dois, talvez desde o primeiro dia que se viram, mas o Santana se pegou em noites pensando que não era mútuo e que tudo era fruto da sua cabeça. Ou seja, não imaginava o quão Ramiro controlava seus sentimentos para não ter o beijado nas madrugadas juntos, que seu corpo tremia a qualquer aproximação do menor, que ele precisava se controlar para não olhá-lo demais ou todos iam perceber.

Perceber o desejo, a intensidade e a curiosidade.

Ramiro se rendia a língua do rapaz que arranhava sua nuca parecendo desejar mais dele. Seus corpos estavam colados ao muro e quanto mais eles se pressionavam mais a respiração ficava falha. Os dois presos em seu próprio momento, a música ao fundo parecia fazer uma trilha sonora e abafava os estalos que aos poucos foram diminuindo, ficando mais calmos, mais conhecedores de si mesmo.

E no mesmo momento que se afastaram, com a respiração pesada e as mãos um pouco trêmulas sobre o corpo um do outro, o microfone do bar caiu no chão levantando um som agudo e agoniante. Ramiro e Kelvin se separaram rápido com o susto, preocupados com o que aconteceu encontrando Graça rindo no chão enquanto a dona do bar conectava o fio corretamente ao som; dando a entender que a loira havia tropeçado de tão bêbada.

–Eu acho melhor a gente ir. - Jonatas falou, observando o estado da noiva se segurando para não rir - Ou espera ela se recuperar mais um pouco? - Perguntou a dona do bar, nem percebendo que Ramiro e Kelvin haviam voltado.

–Ela exagerou um pouco, - Kelvin falou e Jonatas não segurou a risada, contando que os dois fizeram um desafio de quem tomava mais sem cair - Prima? Vamos para casa. - Kelvin perguntou se aproximando, conversando no mesmo tom que conversava com crianças.

No carro, Kelvin tentava fazer a prima beber muito mais água, Ramiro e Jonatas iam na frente tão focados na estrada escura que parecia que ambos dirigiam, o mais velho resmungava quando passavam pelos buracos, enquanto Jonatas reclamava da escuridão.

Ao chegar no casarão tentaram fazer o mínimo de barulho possível, mesmo sendo pessoas adultas não seria de bom tom os pais de Graça a verem naquele estado. Acreditaram que todos da casa estavam dormindo, mas o susto que Kelvin tomou ao ver Agatha parada na porta da sala de jantar fez ele soltar um grito tão agudo que era impossível alguém não ter acordado.

–Me ofendi depois dessa. - Agatha falou e Kelvin pediu desculpas desesperado, notando que a mulher tentava ninar Maria Clara em seu colo, mas que com o grito de Kelvin voltou a abrir os olhos, não demorando muito para voltar a chorar.

–Vem cá com o papai. - Ramiro falou manso, e a menina grudou nele como um filhote indefeso - Calma, pequetita, respira, 1 ... 2 ... 3...

Acostumada com o som de choro, Agatha focou sua atenção na situação de Graça, que tentava se mostrar sã, mas seus olhos estavam tão pequenos que era difícil saber se estavam ainda ali.

passado presente - kelmiroOnde histórias criam vida. Descubra agora