Pensando em você.

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2023

Kelvin estava vivendo em uma dualidade necessária. Mesmo que não quisesse escutar todas as desculpas e justificativas de Jonatas e não quisesse, também, escutar a voz de Graça, pois ainda a culpava em silêncio por ela ter tido a ideia de visitar Lagoa Dourada, ele ainda estava ali, os escutando, porque era melhor escutar a voz de terceiros do que seus próprios pensamentos.

Buscava durante o dia focar nos barulhos; começou a escutar rádio pela manhã, a conversar mais com as pessoas, focar no som das crianças no trabalho e dormir com o celular tocando uma música baixa. Tudo isso para que sua mente não o transportasse para dois meses atrás.

Suas férias no casarão haviam se tornado uma tortura, um acúmulo de situações ruins uma atrás da outra que não puderam ser distraídas quando chegou ao seu ponto maxímo. Estava se sentindo mal desde o momento que colocou os pés na casa, sua convivência com seus tios estava piorando, mas aquele dia foi o estopim. A briga com Ramiro alinhado ao fato do seu pai ter caído da escada e precisado ir para o hospital por ter aberto o pulso fez Kelvin colocar um ponto final naquilo tudo e decidir não passar o ano novo em Lagoa Dourada.

E após passar o ano novo no seu quarto sozinho, escutando Alcione, bebendo um champanhe barato e acabando com um maço de cigarro inteiro, Kelvin não tinha expectativa que seu ano seria bom.

Porém, sua mente sempre lembrava de tudo, pouco das coisas ruins que o fizeram tomar a decisão de cabeça quente, mas muito mais das coisas boas. Sonhava acordado com o beijo de Ramiro todos os dias, sem exceção, não havia sequer um turno que ele não lembrava ou não sentia falta de ter o rapaz por perto. E aquilo o fazia se odiar, como ele poderia estar tão envolvido com alguém que nem estava próximo? Que ele pouco conhecia? Que acreditava que tudo era culpa sua?

E sua mente o levou a esse momento rapidamente enquanto guardava as xícaras no armário, e precisou piscar forte para entender que deixou de prestar atenção no que Jonatas estava falando.

–Repete. - Kelvin o interrompeu e o Neves respirou fundo antes de voltar.

–O que eu falei foi: não estamos com raiva de você, ninguém está, sabemos que seu pai é a pessoa que você mais ama no mundo e você tomou a decisão pensando nele, porém, você não pode ter raiva da gente por algo que não tivemos controle.

Jonatas e Graça tinham feito aquela visita em busca de desculpas, e Kelvin garantiu que só faria isso se eles o ajudassem a deixar a cozinha em ordem, por isso Jonatas varria o chão enquanto Graça lavava a louça do jantar. Jonatas havia encontrado Kelvin na escola que o Santana trabalhava e insistiu muito para estar ali aquela noite e conseguir falar tudo que pensava para o mais novo.

–Não estou culpando vocês pelo meu pai ter caído daquele degrau, claro que algo muito pior poderia ter acontecido, que bom que foi só o pulso. - Garantiu terminando de guardar as vasilhas - Eu estou com raiva pelas acusações.

–Eu não te acusei, - Graça falou, havia feito um rabo de cavalo para impedir que o cabelo a atrapalhasse com a tarefa em frente a pia - você sabe que eu penso totalmente diferente dos meus pais. - Kelvin assentiu incerto.

–Eu também não penso como meu avô, meu irmão me contou como você se sente em relação a isso e realmente faz sentido todos seus questionamentos, são bem parecidos com o de Graça.

–A diferença é que vocês têm fé. - Kelvin disse, pontuando todo o problema.

–É, essa é a diferença, mas não muda o fato que eu me importo muito com você.

–E não muda o fato que você é da família, - Jonatas falou colocando a mão no ombro do rapaz - Kelvin, se não fosse por você eu não estaria com essa mulher hoje, e se ela te ama como irmão, logo somos da mesma família.

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⏰ Última atualização: Oct 12 ⏰

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