I wanted to see you naked, I wanted to hear you scream
Wanted to kiss your skin and your everything
I wanted to be your woman, I wanted to be your man
I wanted to be the one that you could understand
"Vampire Empire — Big Thief"•••
O avião pousou em Londres às 6h15 da manhã, o fuso-horário com uma diferença de três horas não foi algo impressionante para os dois jovens, que já tinham dormido no vôo depois de assistirem um filme juntos. Chiara sentiu o coração vibrar em ansiedade quando ligou o celular no saguão do aeroporto, se deparando com mensagens de Augusto e ligações perdidas de um número desconhecido. Sabia que o vôo do ex-namorado só seria no dia seguinte, iam viajar juntos, mas sua tranferência de horário foi a primeira coisa que fez quando terminaram aquela briga sem volta alguma, o cansaço tinha sido suficiente para não desejar levar aquilo em frente, aquele relacionamento tinha sido o suficiente, ultrapassando todo e qualquer limite de seu ser.
── Gabriel, será que podemos ir até o apartamento do Augusto pegar algumas coisas minhas? Se estiver muito cansado, eu posso ir sozinha, só quero aproveitar que ele só volta amanhã ── questionou o brasileiro, uma insegurança cortante em sua voz. Era como andar em ovos, Augusto tinha mostrado que era daquela maneira ── Fica a 20 minutos daqui.
── Eu vou com você, não estou cansado, dormi antes do vôo ── colocou a mão no ombro da mais velha, apertando em uma demonstração de afeto quase imperceptível ── Meu apartamento fica só a 40 minutos daqui, então tá tudo bem. O carro já chegou, vamos?
O caminho até o veículo foi coberto de um silêncio pouco confortável, os pensamentos de Chiara se voltando apenas para as mensagens do ex-namorado, segurando as lágrimas em sua linha d’água ao ler algumas palavras pela barra de notificação do aparelho. Sabia que terminar o relacionamento poderia ser um erro, mas tudo que desejava era esquecer tudo que sua vida tinha sido nos últimos anos. Tinha aguentado tudo que lhe era dado, até as palavras mais cruéis e descuidadas vindas de Augusto, fechava os olhos até mesmo para os apertos em sua pele, os gritos se espalhando pelo apartamento e os cacos de vidro de seus vasos de flores preferidos. Até mesmo as noites em claro tinham sido ignoradas, mesmo que seu corpo já implorasse por socorro.
As ruas passavam de maneira rápida, assim como os minutos, que em poucos piscar de olhos aceleravam como o motor do carro. O celular era pressionado contra seus dedos, o suor manchando alguns lugares da tela, era impossível não perceber aquela sensação de ansiedade que se espalhava por seu corpo a cada rua mais próxima que ficavam daquele apartamento com lembranças que desejava esquecer. Foi quando sentiu a mão de Gabriel em cima da sua, os olhos encontrando os do brasileiro com um pequeno susto, mas antes mesmo que pudesse afastar as mãos das da mais velha, ela entrelaçou seus dedos, respirando profundamente de alívio.
── Nunca imaginei que estaria mesmo fazendo isso, Augusto se dizia o amor da minha vida, mas aqui estou, indo buscar minhas coisas do nosso apartamento, desejando não encontrar com ele, mesmo que eu saiba onde ele está agora ── desabafou, encostando a cabeça no almofadado do carro, os olhos se fechando, as pálpebras trêmulas eram tão óbvias ── Nunca vi esse filme antes, mas espero que o final não seja como das outras vezes.
── Todos falavam que vocês acabariam se casando, já poderiam até mesmo enxergar o anel em seu dedo, mas eu não conseguia enxergar isso, não depois de ler algumas matérias sobre o relacionamento de vocês ── acariciou a palma da mão da mulher, controlando a vontade de depositar um beijo no local ── Acho que por ambos serem filhos de pessoas importantes, muitos esperavam que fossem ter herdeiros e um casamento feliz. Sinto muito que ninguém tenha enxergado o quão cansativo era pra você.
── Ele tinha um anel na mala que fez para essa viagem, mas não era para me entregar, então acho que os planos de casamento dele são com outra pessoa, mesmo ainda corra atrás de mim como se me desejasse ── confessou, um tom baixo que quase não conseguia escutar o que dizia ── Mas para a mídia isso não era óbvio como era pra mim, como dizem “sem corpo, sem crime”.
Ninguém realmente via através da linha invisível, mesmo que ela não existisse realmente, era como uma armadura de vidro, mostrando cada ponto fraco diante dos olhos do inimigo, que se finge de cego e vira as costas para tudo que se mostra verdadeiro demais.
•••
O apartamento estava vazio, um suspiro de cansaço deixou os lábios quando adentrou o lugar, olhando ao redor como se procurasse algo para se agarrar, desejando que tudo fosse diferente, do começo ao fim, mas ali estava, pronta para correr daquele que tinha seu pesadelo durante anos. Nem mesmo o começo tinha sido diferente daquele final, sentiu um grito preso na garganta quando atravessou a porta do quarto que dividiram desde que chegou naquele lugar. Alguns quadros estavam pendurados na parede atrás da cama, fotos de viagens juntos, sorrisos falsos, mas que antes pareciam tão verdadeiros diante de seus olhos.
Usou de uma caixa para colocar cada objeto que não remetia os olhos de Augusto, passando os dedos pelos tecidos de suas roupas, sentindo enjoo ao sentir aquele perfume forte e amadeirado que o homem usava, estava presente em cada peça de roupa que estava naquele guarda-roupa. Os olhos marejaram ao ler o visor de seu celular com outra chamada perdida, uma última mensagem em um tom quase amoroso tinha chegado ao mesmo tempo. Desejou gritar para que não fosse chamada de amor ou de criança, tinha se tornado uma bagunça idiota por alguém que nada merecia. Tudo por gostar de um garoto idiota.
── Precisa de ajuda, Bel? ── a voz de Gabriel acordou-a daquele transe em que estava, segurando a caixa nas mãos, em frente ao móvel que um dia montaram juntos, com sorrisos no rosto e trocas de beijos.
── Por favor, acho que definitivamente não estou pronta para fazer isso com normalidade, tudo nesse apartamento me remete o que um dia eu e ele fomos. Tudo era do jeito dele, mas de algum jeito eu me enganei e isso me machuca demais, poxa, como eu pude ser tão idiota? ── sorriu falsamente, tentando ignorar as lágrimas que queriam sair de seus olhos ── Nunca achei que fosse doer tanto, eu só estou tentando ser eu mesma, mas parece que eu me perdi desde que Augusto entrou na minha vida.
Gabriel se aproximou em passos lentos, tirando a caixas das mãos trêmulas, envolvendo a mais velha em um abraço que seria o suficiente para que ela desabasse, mas mais uma vez, Chiara segurou cada emoção que poderia ter, como se fosse programada para fazer aquilo.
── Vai ficar tudo bem, confia em mim ── sussurrou, passando as mãos pelos cabelos lisos, que caíam como uma cachoeira em suas costas ── Eu posso ajudar você a se encontrar, Chiara, mas tudo depende de você e de tudo que você já sentiu um dia, não precisa ignorar seus sentimentos desse jeito. Você ainda é você, não precisa de Augusto para ser como é, não se molde como se ele ainda controlasse sua vida, porque ele não vai mais fazer isso.
── Acabou, Gabriel.
── Mas você não vai se acabar também, Bel.
── Eu não vou.
── Não vai.
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THE WAY YOU WANTED | Gabriel Bortoleto
FanfictionNunca havia realmente conhecido a vida, presa a algo que estava fadado ao naufrágio. Tinha um oceano diante de seus olhos, mas não tirava os pés da areia que cada vez mais afundava seu corpo. Chiara segurava uma corda mesmo que não tivesse força o s...