Capítulo 10

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Celine achou que "ter todos os amigos e pessoas do nosso ciclo social" fosse uma boa desculpa, quando questionei o motivo de ter adicionado JungKook e Jimin a sua lista de convidados do casamento. Obviamente aquilo não me convenceu, mas eu não conseguia pensar em nada mais plausível para essa escolha. E mesmo que me incomodasse um pouco, eu ainda tinha outras coisas com as quais me preocupar.

- Bom dia, Bibi.

Taehyung entrou pela porta do estúdio segurando nossos cafés, como de costume. Ele estava vestindo uma bermuda marrom de alfaiataria, uma camisa branca de botões com um lenço azulado por cima da gola e uma sandália de tiras grossas no pé. Na cabeça, estava sua tão amada boina.

- Bom dia, Vante. - eu disse pegando o café que ele estendeu em minha direção.

Ele se sentou em seu banco e tomou o primeiro gole olhando para mim. Depois alternou para o quadro que eu estava trabalhando. Eu tinha deslocado a tela que estava pintando para o concurso até o ateliê, buscando um pouco mais de espaço, luz e materiais. Eu já estava nos retoques finais e me preparando para enviá-la para a pré-avaliação do concurso.

- Essa é uma das suas melhores obras, com certeza. - Tae disse antes de dar mais um gole no café. - gostei das asas.

- Obrigada, têm sido bem desafiador chegar às cores reais.

A pintura era quase um retrato. Eu estava empenhada em deixá-la o mais perto da realidade possível. Também tentei deixar um aspecto inacabado, como se fosse um recorte de algo maior. Todos os esboços que fiz de Jimin me ajudaram significativamente a chegar em cada detalhe importante, como as dobras do corpo, músculos e luz e sombra.

Peguei o pincel do cavalete e dei alguns retoques na cor do tecido que tampava sutilmente as pernas de Jimin. Me afastei para olhar o quadro em uma perspectiva maior.

O elogio de Taehyung sobre as asas que acrescentei na pintura realmente me deixou mais confiante. Passei alguns dias debatendo comigo mesma se aquilo era necessário, mas algo dentro de mim pedia para que eu desse asas à Jimin.

Quando eu fechava meus olhos e relembrava os momentos que tínhamos juntos, sentia como se fosse levada ao céu. Naquele momento, Jimin tinha aquele aspecto pra mim, um ser angelical, mesmo que com algumas sombras.

E esse era o desafio que me encarava, traduzir o meu olhar sobre Jimin de forma sútil.

Talvez eu nunca fosse falar sobre as explicações e justificativas exatas por trás de cada detalhe, mesmo que fossem cheias disso, porque apesar de ser uma obra mais íntima, era uma visão muito pessoal que eu tinha dele.

Dei um longo gole no café e suspirei depois de sentir o quente do líquido descer pela minha garganta.

Antes eu tinha uma ideia e precisava de um modelo para executá-la, mas agora a obra tinha se tornado muito mais sobre Jimin do que a minha mera participação em um concurso de pintura. A nudez que retratei no quadro não tinha nada a ver com sensualidade, mas com a forma crua de ver o seu interior. Os tons escuros retratavam a forma que eu percebia sua situação atual. A dualidade de escolhas, o medo, o sofrimento, a rejeição. A fonte de luz do lado esquerdo, a qual ele não olhava na pintura, representava a saída. O outro lado que ele não percebia ser seu também. As asas, apesar da representação angélica, eram escuras.

- Quanto tempo você ainda tem? - Tae perguntou, me tirando dos pensamentos analíticos.

- Para entregar? - eu perguntei e ele acenou com a cabeça. - cinco dias.

- Está segura?

- Acho que sim. São realmente os últimos detalhes e sinto que já fiz o suficiente.



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⏰ Última atualização: Mar 23 ⏰

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