Capítulo 5

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O café estava amargo. Dessa vez eu tinha escolhido não colocar açúcar, como um ato de esperança, em ganhar ânimo através do amargor. O dia do lado de fora também não parecia contribuir para qualquer resquício de felicidade. Depois de dias de temperaturas infernais e céu azul, aquela manhã tinha sido diferente. Chovia muito.

Pensei em usar isso como uma desculpa e não aparecer no ateliê naquela tarde. Mas parte de mim queria ir. A outra parte estava se sentindo humilhada pela noite passada e pela incerteza do que poderia vir depois daquilo.

O fato era que sexo casual nunca foi um problema. Mas aquele sexo casual acabara de se tornar um. Como eu deveria agir? Eu não sabia se, caso o encontrasse, deveria me comportar com naturalidade ou talvez questioná-lo sobre seu sumiço. Não sabia se aquilo era o fim do nosso acordo ou o início de um segredo. Porque ninguém poderia saber daquilo. Não é?

                        -


- Você o quê?

- Eu errei. Eu sei. - tentei me justificar.

Apoiei os cotovelos na bancada da cozinha e segurei a cabeça com as mãos. O celular sobre o granito ecoava as palavras de Jin no viva-voz.

- E ele simplesmente foi embora?

- Uhum. - respondi bebendo um gole do café.

- Caramba. Que cafageste.

Eu não sabia se deveria concordar. Já estava em um estágio que eu mesma pensava em fugir se tivesse tido a oportunidade.

- Acha que eu deveria pular fora disso? - perguntei.

Jin não respondeu por alguns segundos. Eu podia ouvir o barulho de talheres sendo descansados no prato, quando ele disse de boca cheia:

- Você está falando sobre pintar ele ou sobre transar com ele?

Uma coisa estava me levando a outra, então achei que "pular fora" era sobre todo o conjunto. Mas eu não disse nada e Jin continuou.

- Acho que ele pode ser um cara legal, mas também acho que isso pode te trazer mais problemas do que teve com Jungkook.

- Não vamos falar sobre meu ex.

- Tá bem, não vamos. - ele concordou. - mas talvez você o deixe confuso.

- Bom, eu já estou confusa. - suspirei. - acho que posso fingir que isso nunca aconteceu.

Nós ficamos conversando por mais alguns minutos. O suficiente para que eu tomasse mais uma xícara de café. Depois de desligar a chamada, me sentei em frente a janela, com meu caderno de anotações. O som do meu suspiro ecoou pelo apartamento, junto com o barulho das gotas de chuva.

Fechei os olhos por alguns segundos e momentos da noite anterior perambulavam por minha tela mental como comerciais de televisão. O lápis entre meus dedos já fazia alguns movimentos no papel e quando meu olhar se voltou para a folha, os traços ganharam direção. Aos poucos eu estava eternizando um momento que era nítido na minha memória.

A forma que o olhar dele parecia sedutor, mas ao mesmo tempo interessado no que eu dizia. As pálpebras quase fechadas, deixando uma linha tênue entre o flerte e o desinteresse. Os lábios sutilmente entreabertos. O cabelo perfeitamente desalinhado na franja.

Deitei a ponta do lápis para fazer o sombreado dos fios.

A mão, delicadamente apoiada no rosto. Mão aquela, que eu podia sentir passando novamente pelo meu corpo. Os anéis gelados pela garrafa de cerveja, deslizando entre minhas pernas.

He(art)Onde histórias criam vida. Descubra agora