Capítulo 1

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A azeitona corria de um lado para o outro dentro do prato conforme eu a empurrava com o garfo. Minha paciência estava bem perto de acabar. Mesmo que o lugar onde eu estava fosse um dos meus favoritos, minha irmã estava conseguindo me fazer querer sair correndo dali.

Achei que minhas inúmeras olhadas para o relógio no meu pulso, fariam ela entender o que eu realmente queria. O problema é que Celine não é do tipo que se importa comigo quando se trata dos seus amigos. Meu pai falava que eu deveria evitar andar com Celine enquanto ela estivesse com seu, insuportável, ciclo de amigos. Já minha mãe, insistia que eu deveria ser mais como ela.

E você deve estar se perguntando: "Mais como ela?"

Celine tinha conseguido se infiltrar na bolha de Gangnam. Falava como eles, se vestia como eles e agia como eles. E mesmo que, quando estivesse apenas comigo, fosse uma das criaturas mais doces que eu conhecia, conseguia me fazer querer bater a cabeça na parede toda vez que iniciava uma conversa cheia de tópicos fúteis com a sua inseparável amiga, Missy.

Aquela era a segunda vez que eu saía com as duas e eu não sabia nada sobre essa mulher, que ela mesma tenha me contato. Aliás, eu sentia como se fosse a criança no meio delas, mesmo que nossa diferença de idade fosse de um pouco mais de três anos.

- Você quer ir com a gente? - Celine perguntou, finalmente, se virando pra mim por mais de cinco segundos.

Mesmo sem saber ao que se referia, neguei com a cabeça. Não precisaria perguntar para entender que era um convite para gastar um dinheiro que eu não tinha.

- Eu tenho que ir. - eu disse me levantando e colocando a alça da bolsa no ombro.

- Nos vemos no final de semana? - Ela pousou a mão na minha, enquanto eu empurrava a cadeira.

Celine iria se casar e tinha passado o mês inteiro planejando um evento - como ela gosta de chamar - para comemorar esse grande passo. Não dei chance para que ela falasse alguma coisa, depois do meu pequeno aceno positivo com a cabeça, e caminhei apressadamente para a saída.

Do lado de fora, o celular vibrou na minha mão e o nome de Taehyung apareceu na tela. Fechei os olhos e respirei fundo o ar quente do verão de Seul antes de abrir a mensagem e ler que minha inscrição no concurso de arte tinha sido aprovada. "Onde você vai arrumar um homem pelado?" dizia a mensagem seguinte.

Como se não bastasse aguentar os dramas de casamento da minha irmã, eu agora era obrigada a encarar os desafios da minha própria decisão. O fato de ter que buscar algum voluntário que posasse nu, pelo menos uma vez, para que eu pudesse criar uma obra original digna de concorrer na categoria de óleo sobre tela, me fazia ter arrepios em um calor de quase quarenta graus.

"Espero que saiba que não vou chamar você.", escrevi de volta para Taehyung enquanto caminhava para o ponto de ônibus, recebendo emojis com carinha de choro segundos depois.

Eu ainda não tinha decidido o que faria exatamente. Minha vida não estava organizada o suficiente, como eu gostaria e a inscrição no concurso de arte tinha sido por puro impulso em uma noite regada a vinho e conversas no telefone com Ha-yun. Que por sinal era a única que tinha o dom de ouvir minhas lamentações e transformar minhas dúvidas em algum tipo de solução. E eu não pensei duas vezes quando ela insistiu que eu deveria pelo menos tentar.

Ao chegar no complexo de arte, no centro de Seul, atravessei o jardim que dava até o estúdio e encontrei Taehyung no lado de fora, limpando os pincéis no próprio avental. Ele me deu um sorriso ladino quando passei direto, indo até minha bancada de trabalho.

- Estou ansioso para ver esse processo. - ele disse colocando a cabeça para dentro da sala.

- Não enche Vante. - respondi, colocando minha bolsa no chão, embaixo da mesa.

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