Capítulo 3

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A música alta ainda parecia estar tocando dentro da minha cabeça quando deitei no travesseiro em busca de um sono digno. Já eram quatro horas da manhã quando finalmente tinha tirado o vestido apertado e removido a maquiagem que Ha-yun havia dedicado tanto esforço para colocar em meu rosto.

Lembrei que eu tinha recebido uma mensagem de um número desconhecido um pouco antes de chegar em casa, mas por conta da falta de bateria, meu telefone desligou assim que desbloqueei a tela. Eu não estava em condições e nem com ânimo de ligar o celular depois que o coloquei para carregar. Então eu apenas o deixei lá, para depois me jogar na cama como se fosse uma piscina de bolinhas.

Mas meu sono não durou muito tempo e eu precisei me levantar poucas horas depois. O despertador que ficava estrategicamente localizado na cômoda, longe da cama e perto da porta do quarto, me obrigou a sair do meu conforto às oito e meia da manhã para desligá-lo.

No mesmo ritmo de obrigação, passei um café e fui até a janela em busca de algum raio de sol que pudesse trazer um pouco de vida para dentro de mim, além de vitamina D. Meus dedos doíam um pouco contra o material quente da caneca e usei aquilo como uma externalização da dor que sentia ao imaginar que teria que ir até o almoço de casamento de Celine.

- Isso é só porque amo você. - eu disse para o quadro com uma foto nossa, pousado ao lado da televisão.

Quando finalmente liguei o celular, além de notificações conhecidas, lá estava a não identificada. Meu coração palpitou um pouco mais acelerado e eu sabia que não era por causa da cafeína.

xxxxx: Não sabia que você conhecia o Seokjin.

xxxxx: Acabei pedindo seu telefone pra ele.

xxxxx: Não sei bem o motivo kkkkk espero que não se importe.

Então tínhamos mais do que apenas a ex dele como conhecidos em comum.

Me: Você poderia ter pedido diretamente pra mim. Eu não mordo.

A mensagem chegou no mesmo minuto e ele ficou online. Eu não sou do tipo que age desesperadamente, mas bloqueei a tela do telefone e o larguei no mesmo lugar, indo até a cozinha para lavar a caneca já vazia. Antes de voltar a pegá-lo, tratei de me arrumar. Quase uma mensagem forçada para mim mesma de que eu não me importava com aquilo e que não precisava responder rápido. O que era uma tremenda mentira.

Quando eu já estava pronta o suficiente para não parecer que tinha ingerido a quantidade de álcool ideal para me deixar com cara de dependente química, meu celular voltou a acender a tela. Mas desta vez era Celine perguntando se eu realmente iria.

Ela sabia bem que eu daria qualquer coisa para não precisar ir, mas no fim das contas aquilo não iria me matar. Certo?

xxxxx: Bom, mas eu mordo. E ontem eu estava muito propício para isso.

Uma nota sobre Park Jimin: ele flerta, sem estar flertando.

E eu não sabia muito bem como responder. Uma parte de mim gostaria de abordar o que tivemos na noite passada e outra parte queria seguir com a mesma naturalidade que ele estava tendo. O ponto é que eu não tive muito tempo para formular uma boa resposta e acabei deixando a mensagem apenas visualizada.

No meio do caminho para o evento de Celine, o zíper do meu vestido quebrou. E não era bem o que eu esperava de um Dior custeado pela minha irmã. Eu estava aflita e presa dentro de um vestido que provavelmente custava minha bicicleta com cestinha e mais uns cinco anos de trabalhos vendidos.

Não fiquei mais calma quando o táxi parou em frente ao local do almoço e notei a quantidade enorme de carros de luxo estacionados. A circulação fluida de pessoas que nitidamente faziam parte, exclusivamente, do mundo da minha irmã fez com que eu me sentisse um pouco deslocada. Eu não via a hora de me encontrar com Jin.

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