Ouço a porta da frente bater com força, meu corpo tem um sobressalto e um arrepio percorrer meu corpo.
Hoje era uma noite difícil, mamãe aparece na porta e nos manda entrar no armário e ficarmos quietos. Hoje o papai está irritado.O som da louça quebrando, o som dos tapas na pele, o barulho do choro e o nariz entupido de sangue.
Continuo tremendo com coração disparado, lágrimas silenciosas escorrem e sinto medo da aproximação eminente.
A luz do quarto, os passos trôpegos, palavrões ditos altos e o soco no espelho.
Meus olhos permanecem fechados e eu rezo em silêncio para que ele não abra a porta do armário.
A respiração irregular e o corpo desaba na cama, ele grita alguma coisa e mamãe vem correndo.
Agora ouço os soluços abafados e som de ossos sendo quebrados. Gradualmente a respiração dele fica regular e calma, o ronco é suave, mãos cobertas de sangue me tiram do armário. Ela sorri de lado, dizendo baixinho papai teve um dia difícil no trabalho.
Eu queria ter força para não precisar me esconder no armário, eu queria ter forças para fazer o mesmo com ele e dizer que tive um dia difícil. Eu queria que ele tivesse que ficar no armário.