Acho engraçado como só conseguimos valorizar a vida em face da morte, se é verdade que a morte começa no momento em que nascemos, passamos então toda uma existência a espera de um fim inevitável e ainda assim o lamentamos profundamente. Sendo a vida somente um breve sopro, não deveríamos nos permitir flutuar tal qual uma folha solta ao invés de fincarmos raízes tão profundas em mundo no qual estamos apenas de passagem?
Pensamos tanto no que deixamos ao partir, mas a verdade é que tudo continuará da mesma forma, o vazio que deixamos é rapidamente preenchido por outra existência e assim o ciclo segue.
Será que a vida é só o passar e repassar de páginas em brancos a serem preenchidas por memórias que vão se desbotando como um álbum de fotografias antigo? As lembranças que criamos são para os que partem ou para torturar aqueles que ficaram?
Sendo o ser humano essencialmente egoísta, imagino que exista um prazer quase sádico na morte em ver que ao levar mais uma vida, as pessoas queridas que ficam para trás, se veem esquecendo gradativamente daquela existência e fica somente a saudade, a raiva e o vazio.
Essa espiral de dor é como uma ferida aberta que já não sangra, um incômodo, a gente se acostuma aquela dor ao ponto de quase se sentir confortável com ela, uma forma de manter viva as lembranças...