Alguém me empurra para o interior do vagão, meu corpo flutua entre os corpos amontoados dentro do mesmo espaço, me sinto como uma sardinha em lata.
Minha boca esbarra nas costas de alguém, e o braço de outra pessoa acerta minha cabeça, escuto um "desculpe".
Olho para cima e te vejo, desvio o olhar, mas já é tarde demais, me apaixonei. Entre o fluxo de pessoas que entra e sai do vagão, olho para você pelo reflexo do vidro.
Vontade de puxar conversa, nossos olhares se cruzam pelo reflexo e talvez seja você o amor da minha vida.
Olho para o chão corada, finjo mexer no celular, mas capto cada movimento seu.
Tomo coragem de falar com você, perguntar seu nome, talvez seu telefone, mas você desembarca levando meu coração e a certeza que nunca mais te verei.
O caminho até a próxima estação é torturante e infeliz, perdi o amor da vida e agora?
Alguém me empurra e quase caio. Sinto uma mão me segurar.
Meu olhar fita o meu salvador e talvez esse seja o amor da minha vida?
Encaro-o pelo reflexo do vidro, ele está sentado perto da porta e segura minha bolsa. Dessa vez falarei, não perderei minha alma gêmea pela segunda vez no mesmo dia.
Abro boca, mas a voz mecânica informa que minha estação é a próxima. Desembarco triste, com o sentimento de vazio no peito.
Acho que a única coisa que me faz aguentar essa rotina de vagões lotados é a incrível possibilidade de um novo amor a casa estação.