Parte 2 💫

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No dia seguinte...

    Acordei assustada com meu despertador, eu estava atrasada! Fiquei desesperada, não conseguiria me arrumar direito. Então fui correndo colocar alguma roupa do meu guarda-roupa e coloquei meu tênis. Por fim, optei por usar um moletom roxo com estampa de cogumelos e um All Star preto. Eu estava me sentindo muito simples. Costumo ir muito arrumada para a escola, pois senão me sinto muito masculina. Mas isso é melhor do que nos anos passados quando eu não podia nem ser eu.

    Quando saí de casa, vi o Daniel parado na minha porta. Então, perguntei meio confusa:

- Por que você está me esperando a essa hora? Estou atrasada, você vai se atrasar também.
- Ah, um dia que eu chegar atrasado não faz diferença. Fiquei preocupado porque achei que poderia ter acontecido algo com você. Além disso, quase fui embora sem você, pois achei que você não fosse comparecer - respondeu ele.
- Ah, obrigada por me esperar. Vamos?
- Vamos - respondeu ele.

  No meio do caminho, conversamos sobre as matérias da escola e como nós dois odiamos matemática. Enquanto isso, eu pensava no quanto foi fofo da parte dele me esperar para irmos juntos. Ele estava sendo super atencioso.

 Chegamos na escola, e a entrada estava vazia; todo mundo já tinha entrado na sala. Eu e Daniel tivemos que esperar para entrar na segunda aula, pois tínhamos chegado atrasados. Então, sentamos num banquinho no pátio e esperamos.

- Desculpe por fazer você se atrasar e ter que ficar esperando pela segunda aula - disse eu.
- Fica de boa, Isa. Eu quis ficar te esperando, não precisa se desculpar - respondeu ele com um sorriso no rosto.
- Essa noite não consegui dormir direito, por isso acordei atrasada.
- Por que não conseguiu dormir? - perguntou ele.
- Estava perdida nos meus pensamentos, sempre acontece comigo.
- Entendi.

   Deu a hora da segunda aula e subimos para a sala. Quando entramos, todo mundo olhou para nós dois com um olhar de desconfiança. Acho que eles pensaram que estávamos nos pegando, vai saber, passa cada coisa na mente desse povo. Sentei na minha mesa e ele sentou na minha frente novamente. Assim que sentei, minha amiga já veio falar comigo.

- O que aconteceu? - perguntou ela.
- Acordei atrasada - respondi.
- E por que você veio com o menino novo? Vocês estão ficando?
- Não, não é nada disso. Ele mora perto da minha casa, e ontem combinamos de ir juntos para a escola, mas ele acabou me esperando e se atrasou comigo.
- Hum, sei - disse minha amiga com desconfiança.

    Enquanto estudávamos, Daniel sempre vinha puxar assunto comigo, comentando sobre alguma matéria ou falando de algum professor. Parecia que ele queria conversar comigo o tempo todo, e isso me deixava toda boba.

  Depois do intervalo, ele chegou até mim e me perguntou o porquê de as pessoas naquela escola dizerem que eu sou trans, então eu disse:

-Então, eu sou uma garota trans. Não disse antes porque não achei necessário, mas desculpa por esconder de você. Provavelmente você não vai querer mais falar comigo, assim como todos os meninos que descobrem que eu sou trans...
- Calma, Isa. Eu não vou me afastar de você por conta disso. Você não é obrigada a contar isso sobre você a ninguém. Estou amando ser seu amigo, por favor, não pense que sou igual aos outros meninos - respondeu ele com um rosto de preocupação.

  Eu só olhei, admirada, para ele, só comecei a chorar. Sempre fui muito sensível quando se tratava dessas coisas. Por todo mundo saber que eu era uma garota trans, nenhum menino se aproximava de mim, então nunca tive amigos homens. Ele me abraçou com os seus braços grandes e fortes e disse para mim não se preocupar.

  Chegando na sala de aula, sentei no meu lugar e fiquei quieta a aula toda. Eu não conversei com ele, pois ele não se virou para falar comigo e eu também não tinha nenhum assunto para falar com ele.

  Deu a hora da saída; fui junto com Daniel. Ficamos em silêncio no caminho todo. Quando chegamos em nossa casa, ele me disse:

- Me passa seu número, eu esqueci de te pedir ontem.
- Ah, claro, eu passo - respondi.

   Passei-lhe meu número e entramos em nossas casas; eu estava muito envergonhada, não sei porquê, não devia ficar envergonhada por algo que sou. Entrei no meu quarto, troquei de roupa e deitei; deixei meu celular perto de mim e fiquei pensando na vida e como as coisas eram estranhas. Fiquei imaginando como seria se vivesse num mundo menos violento e preconceituoso; seria uma maravilha, mas o mundo é assim, todo mundo tem opiniões e sempre vão existir pessoas ruins, por mais que eu não queira...



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