Havia um limite para quanto atrito uma garota poderia aguentar, e Wanda Maximoff chegara ao dela.
Desviar dos carrinhos na frente da vitrine de Natal espalhafatosa da Macy’s e lutar para chegar ao restaurante na hora fizera a calcinha de renda, novinha em folha, enrolar até ficar mais parecida com um cinto do que com o modelo boyshort que originalmente a descrevia. Wanda já estava quase sentindo o gosto do amaciante que usava.
Tentar ajeitá-la por cima do vestido havia se provado inútil. Se contorcer definitivamente não adiantara nada, muito menos se apoiar casualmente no poste antes de atravessar a rua e… rebolar? Um movimento de quadril que foi menos estou aqui no poste trabalhando para ganhar o pão de cada dia e mais um urso no meio da floresta com uma coceira horrível. Enfiar a mão por baixo da saia havia sido o último recurso, o que trouxera a consequência indesejável de fazer parecer com que estivesse cometendo um autoatentado ao pudor na frente do Starbucks. As ruas de Seattle já tinham visto coisas mais estranhas, mas aparentemente o cara observando pela janela do passageiro de um Prius sujo de lama não.
E tudo por culpa daquela calcinha, uma calcinha nova, mais sexy que o restante das que estavam emboladas na gaveta de sua cômoda. Não que ela estivesse esperando que a irmã de Yelena visse a calcinha, mas e se o encontro fosse bom?
E se? Era essa a pergunta de um milhão de dólares, a faísca de esperança que a fazia continuar tentando de novo e de novo – e de novo? O frio na barriga era um bálsamo, cada calafrio aliviando a dor de todas as rejeições e foras que já havia tomado, até Wanda mal se lembrar de como era a sensação quando o celular não tocava. Quando a faísca simplesmente não estava lá.
O nervosismo de um primeiro encontro? Era uma sensação mágica, como ter glitter correndo nas veias. Talvez aquele jantar acabasse sendo bom. Talvez elas se dessem bem. Talvez rolasse um segundo encontro, um terceiro e um quarto e — talvez aquele fosse seu último primeiro encontro. Boom!
Fim de jogo.Uma vida inteira de frio na barriga.
Depois de conseguir ajeitar a calcinha, Wanda parou na frente do restaurante e respirou fundo. O suor escureceu o algodão azul-claro do vestido quando ela limpou as palmas das mãos na saia, secando-as antes de girar a maçaneta prateada. Wanda puxou… mas a porta de vidro mal se mexeu, abrindo menos de um centímetro.
A média de preço daquele lugar estava representada por quatro cifrões, o que gerou uma pergunta: pessoas ricas faziam trabalho braçal suficiente para ter a força de abrir aquilo? Ou elas só eram saradas porque podiam pagar personal trainers e aulas particulares de pilates?
Wanda puxou com mais força.
Será que era preciso inserir uma senha? Tocar uma campainha? Será que era para ela balançar o cartão de crédito – com seu limite ridiculamente baixo, não adiantava negar — diante da porta?
De repente, alguém agitou a mão, com unhas feitas à perfeição, e pintadas no tom mais sem graça de nude, por trás do vidro.
Wanda endireitou a postura e… Santo Saturno. Não era à toa que aquele lugar, com seus preços e portas impossíveis de abrir era tão famoso.
Com cabelo longo e ondulado, em um tom ruivo acobreado, e pernas longuíssimas, a hostess era uma deusa de beleza desleal, do tipo capa de revista, bonita num nível que chegava a doer. O fato de Wanda ver o próprio rosto borrado ao mesmo tempo que a olhava não ajudava muito. Sua franja longa sem graça estava separada e seu delineador havia borrado, fazendo-a pender menos para sexy e mais para gambá suado.
Um senhor golpe na autoestima.— É para empurrar. – A hostess direcionou os olhos para a maçaneta.
Wanda pressionou a palma da mão no vidro. A porta, leve como uma pena, deslizou mais fácil que manteiga derretida. Apesar do vento frio de novembro, ela sentiu o rosto pinicar de tão quente. Que ótimo. Pelo menos sua gafe fora testemunhada apenas por ela mesma e a hostess, e não pela irmã de Yelena. Aquela sim seria uma impressão difícil de tirar.
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Escrito Nas Estrelas
RomanceWanda Maximoff, uma das astrólogas mais populares do Twitter, sonha em encontrar sua alma gêmea, mas depois de apenas um encontro, ela já pode riscar um nome da sua lista: Natasha Romanoff. Natasha é uma auditora, pragmática, certinha, cética e rac...