Capítulo Treze

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Seja lá quem tivesse permitido que o sol brilhasse tão forte assim, essa pessoa precisava dar uma segurada.

Wanda fechou os olhos com força contra o sol da manhã entrando pela janela ao lado da cama e, mesmo assim, um brilho alaranjado e quente penetrou por suas pálpebras, forçando-a a mergulhar o rosto no travesseiro. Com um quarto de frente para o leste, já passara da hora de investir em cortinas blecaute. As verdadeiras, não as que ela comprara numa promoção na Amazon de um vendedor terceirizado com uma única avaliação positiva, que Wanda agora tinha noventa e nove por cento de certeza de ter sido escrita pelo próprio vendedor.

O sol não sabia que era fim de semana? Que ela não tinha nenhum compromisso, que não precisava fazer nada a não ser ficar na cama…

Cama.

Natasha. Wanda transara com Natasha. Uma transa incrível, aliás.

Wanda escondeu o sorriso largo no travesseiro. Agora com um novo incentivo para enfrentar o dia, ela se virou.

A outra metade da cama estava vazia, as cobertas puxadas e enfiadas debaixo do travesseiro.

Uma verificada rápida revelou que as roupas de Natasha não estavam mais jogadas no chão nem largadas pelo quarto. Natasha não estava mais lá.

A dor brotou entre suas costelas, irregular e intensa, como se alguém tivesse lhe enfiado uma faca e torcido até a lâmina encontrar o ponto certo.

Nem um tchau, nada.

As pessoas gostam de dizer que a definição de loucura é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes. Talvez Wanda fosse louca por esperar que daquela vez fosse diferente, esperar que Natasha fosse diferente.

Talvez ela tivesse enlouquecido por pensar que uma coisa real pudesse nascer de um relacionamento de mentira, mas a noite anterior tinha parecido real.

Em pé naquele observatório, expondo a própria alma, Wanda tinha se sentido de uma forma que nunca se sentira antes. Vista, como se houvesse alguma coisa dentro dela que Natasha tivesse reconhecido.

Não existia uma palavra que definisse o oposto de solitária. Algumas chegavam mais perto que outras, mas nada fazia justiça à sensação de alguém olhando nos seus olhos e se conectando a você num nível de alma.

O que Wanda queria era conexão. Ver e ser vista, dar mais um passo, e que alguém, que Natasha, gostasse o bastante do que estava vendo para querer ficar e ver mais.

Mas Natasha não ficara.

Por qualquer que fosse motivo, um que Wanda talvez jamais saberia, pois o nível de rejeição que ela era capaz de aguentar tinha limites, e havia também um limite para quantas pauladas seu coração podia suportar antes que a esperança por algo melhor não conseguisse mais sustentá-la. Ela já confrontara Natasha uma vez, mas aquilo tinha sido antes.

Quando havia muito menos em jogo. Na época, Natasha não conhecia Wanda; a rejeição não tinha sido exatamente pessoal. Confrontar Natasha agora, exigir saber por que ela foi embora, por que não valia a pena ficar por Wanda… não era óbvio?

Não, Wanda sabia entender um recado.

Levando o lençol até o peito nu, mordeu com força o interior da bochecha e, com a visão borrada, fechou os olhos e fungou com força, porque ela não queria chorar. Chorar era um saco.

Ela fungou mais uma vez. Alguém estava fazendo panquecas no prédio.

Pelo menos o cheiro era de panqueca. Amanteigadas, com baunilha. Ou isso, ou era seu cérebro tentando consolar a si mesmo, assim como os gatos ronronam, fabricando seus cheiros preferidos mesmo sem eles estarem lá.

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