Capítulo Quatro

288 47 30
                                    

O vapor subiu e fez cócegas no nariz de Natasha quando ela levou a xícara até a boca. Ela fechou os olhos e tomou um gole, suspirando de contentamento e se afundando ainda mais no sofá.

Glorioso. A casa estava em silêncio, seu café quase escaldante e ela não tinha compromisso algum para o fim de semana. Dois dias inteiros para fazer o que bem entendesse, na hora que quisesse. Nenhum encontro sem sentido ou Yelena reclamando que ela estava agindo como uma eremita.

Natasha abriu um dos olhos e olhou feio para a mesinha de centro. Ou melhor, para seu celular, dançando sobre a superfície da mesa, vibrando ruidosamente.

NÚMERO DESCONHECIDO (11:24): vc precisa se explicar

Natasha franziu o nariz e deslizou a tela, desbloqueando o aparelho com a impressão digital.

NATASHA (11:26): Acho que você mandou msg para o número errado.

Depois de clicar em enviar, Natasha tirou um instante para pensar em que tipo de explicação essa pessoa – que definitivamente  não era ela – teria que dar e para quem. Seria uma briga de casal? Alguém prestes a levar uma bronca da mãe ou do pai? Deixou o celular no sofá ao seu lado. Não era da conta dela.

Mas o celular vibrou junto de sua perna, a tela acendendo.

NÚMERO DESCONHECIDO (11:29): mandei, natasha?

Como assim? Natasha se sentou, desbloqueando a tela de novo.

NATASHA (11:31): Quem é?

Ela ficou encarando o aparelho, esperando enquanto a pessoa do outro lado digitava. Naquele meio-tempo, fez um rápido levantamento mental de quem poderia ser.

O número de Yelena estava salvo na sua agenda com uma foto horrorosa dela aos 16 anos, largado no sofá, babando e com molho de tomate no queixo. Os contatos dos pais estavam salvos com seus respectivos nomes.

Natasha tinha o número de Carol, e seu chefe nunca mandava mensagens.

Nunca. E havia também… Bem, era isso. Em grande parte. Tirando alguns conhecidos, que podiam ou não ter seu número, seu círculo social era bem pequeno, seletivo. Selecionado. Natasha apertou os lábios. Claro que havia sempre a chance de ser... não. Ela bloqueara o número de Maria havia muito tempo.

NÚMERO DESCONHECIDO (11:36): seu pior pesadelo

Natasha segurou o celular com força, apertando sem querer o botão de volume na lateral e fazendo a coisa apitar alto em suas mãos. A pulsação dela subiu junto, o coração indo parar na garganta. Mas que merda é essa?

Com o polegar trêmulo pairando sobre o teclado, Natasha olhou instintivamente para a porta de entrada, verificando se estava trancada. A trinca estava trincada, a corrente acorrentada, e pelo visto ela tinha uma grande habilidade de ter reações exageradas. Entre o susto da noite anterior, com a chegada inesperada de Yelena, e isso, Natasha notou que precisava se controlar, mesmo que a mensagem tivesse sido assustadora.

Pronta para bloquear o número e seguir em frente, outra mensagem a interrompeu antes que ela pudesse continuar.

NÚMERO DESCONHECIDO (11:39): tá, isso pareceu meio coisa de serial killer

NÚMERO DESCONHECIDO (11:39): o que eu não sou

Aquilo era exatamente o que um psicopata com uma faca de açougueiro na mão diria.

NÚMERO DESCONHECIDO (11:40): e isso tb foi totalmente algo que um seria killer diria

NÚMERO DESCONHECIDO (11:40): ops

Escrito Nas Estrelas Onde histórias criam vida. Descubra agora