Capítulo Dez

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Natasha tomou um gole de café e olhou para a sinalização de VERIFICAR O MOTOR no painel de Wanda, mordendo a língua. Quando Wanda esqueceu de desligar o pisca-alerta ao entrar na I-90, ela não se aguentou.

— Sua seta está ligada.

Wanda fez um som de quem acabara de perceber aquilo e a desligou.

— Desculpe, estou um pouco distraída. Não dormi muito ontem à noite.

Natasha também não.

Ela tinha ficado acordada até duas da manhã estudando. Tentando estudar.

A mente divagava entre os exercícios, os pensamentos sempre voltando para Wanda. Na maciez de seus lábios quando elas se beijaram. Em como ela tinha cheiro de morango e fazia um barulhinho, quase um arranhãozinho na garganta, toda vez que Natasha fazia uma piada tosca. Em como ela abraçara a jaqueta que ganhara – uma compra incentivada pelo desejo de colocar mais um sorriso no rosto de Wanda – com o tipo de reverência que as pessoas guardavam para achados preciosos e inestimáveis que elas planejavam valorizar para sempre.

Wanda podia não estar usando a jaqueta agora, mas estava com um suéter de Natal muito bizarro. Muito. Havia planetas coloridos estufados com anéis em paetês brilhando no tricô preto, mas eram as estrelas que acendiam de verdade, por meio de uma bateria costurada nas costas, que faziam dele uma peça única. Natasha mexeu na barra do suéter atroz do Grinch que ela tinha comprado porque faria Wanda sorrir. Mas até que estava se sentindo um pouco menos deslocada do que quando o experimentara.

Tamborilando no couro gasto do volante, Wanda parou no meio-fio diante de uma casa de dois andares, pintada em um tom de verde-claro, em um bairro quieto de aparência antiga. Todas as casas pareciam ter sido construídas nos anos 1950, 1960 talvez, mas estavam conservadas, com gramados aparados e varandas sem folhas caídas. Na entrada da garagem, um carro esportivo chique estava estacionado ao lado de um Honda CR-V branco e um Tesla prata.

— Chegamos – disse Wanda, segurando o volante com força. — Lar, doce lar.

— É bonita.

Natasha pôs a mão na maçaneta e abriu ligeiramente a porta. Wanda continuou olhando fixamente pela janela, mordendo o lábio inferior. Natasha ficou com vontade de interferir, de fazê-la parar. Ela pigarreou e perguntou:

— Então, vamos entrar?

Wanda relaxou o aperto no volante e assentiu.

— Vamos. Acho que é melhor. Pelo visto todo mundo já chegou.

Natasha não diria aquilo, ainda mais porque Wanda parecia preferir estar em qualquer outro lugar, mas ela estava ansiosa para ter um jantar de Ação de Graças em família, mesmo que não fosse com a família dela e que aquela coisa entre as duas fosse armada. O último Dia de Ação de Graças oficial de Natasha tinha sido cinco anos antes, quando sua avó ainda estava viva. E mesmo assim, a família já estava dividida e era pequena – apenas a avó, a mãe, Yelena e ela. Agora, a mãe passava todos os feriados, com exceção do Natal, perambulando por algum país estrangeiro, em um resort de esqui ou destino paradisíaco como Bali com o namorado da vez, deixando Natasha e Yelena de lado. Nenhuma novidade. Era o tipo de comportamento que ela aprendera a esperar da mãe — frívolo, autocentrado, descuidado. Yelena aprendera a deixar para lá. O Dia de Ação de Graças nunca tinha sido o feriado favorito dele de qualquer forma, não importa o quanto Natasha tentara torná-lo uma ocasião para os dois celebrarem juntos, mesmo que fossem apenas eles. Mas, se não incluía fantasias ou estava ligado a alguma franquia cinematográfica, Yelena não estava interessado. Pelo menos, por algum motivo, do Natal ela ainda gostava.

Natasha subiu os degraus de tijolo atrás de Wanda. Quanto mais perto chegavam da porta da frente, mais lentos ficavam os passos da morena, como se ela estivesse marchando até sua execução, e não para dentro da casa onde crescera. No último degrau, Wanda se virou, quase esbarrando em Natasha, logo atrás dela. Ela fez uma careta.

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