Capítulo 1

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O som do ônibus chacoalhando pelas estradas de paralelepípedos ecoava na mente de Eduardo Silva enquanto ele olhava pela janela empoeirada. O menino, agora com 17 anos, havia deixado para trás tudo o que conhecia, mas a despedida não foi tão difícil. Aquela casa na periferia de São Paulo nunca teve um lar de verdade. As paredes desgastadas e os gritos abafados de estômagos vazios eram memórias dolorosas demais para serem mantidas.

Eduardo não levava malas, apenas uma mochila surrada com algumas roupas e as poucas moedas que ele juntou, entregando panfletos na rua. Sua decisão de ir embora não foi por rebeldia, mas por pura sobrevivência. A fome era insuportável, e a pobreza, implacável. Sem perspectiva, sair de casa era sua única opção.

O destino levou uma pequena pensão na cidade, onde passou a trabalhar como ajudante de um mecânico, economizando o pouco que ganhava. Os dias eram longos e as noites curtas, mas Eduardo possuía uma determinação de que ninguém poderia tirar dele. Durante o dia, estudou sozinho em bibliotecas públicas, tentando alcançar um objetivo que muitos de sua realidade nem ousavam sonhar: a faculdade.

Anos depois, após um caminho árduo, Eduardo finalmente conseguiu passar em uma universidade pública e se matriculou no curso de Tecnologia da Informação. Ele era o primeiro de sua família a chegar tão longe, mas não havia ninguém para compartilhar essa conquista. Em meio à solidão, Eduardo manteve o foco. Era tudo ou nada. Foi na faculdade que sua vida mudou para sempre.

Certo dia, em uma aula de programação, Eduardo foi abordado por uma garota de sorriso tímido e olhar atento. Ana era tão reservada quanto ele, e parecia carregar seus próprios fardos invisíveis. Eles começaram a estudar juntos, e com o tempo, a cumplicidade entre eles se transformou em algo mais profundo. Eduardo encontrou em Ana algo que nunca tinha conhecido: a sensação de pertencimento.

Eles começaram a namorar, e após dois anos de um relacionamento sólido, eles se casaram. Foi um casamento simples, sem convidados ou cerimônias elaboradas. Era apenas Eduardo, Ana, e o sentimento de que, finalmente, eles tinham se encontrado um ao outro. Não havia família para abençoar a união, mas havia algo ainda mais poderoso: o amor inabalável que compartilhavam.

A lua de mel foi um marco especial. Ana sempre sonha em ver o mar, mas assim como Eduardo, nunca teve uma oportunidade. Com o dinheiro que economizaram com tanto sacrifício, fizeram uma viagem à praia. Quando chegaram à areia branca e viram a imensidão azul pela primeira vez, ficaram sem palavras. As ondas esqueceram o passado duro, como se cada arrebentação levasse embora um pedaço da dor que carregavam.

Após a lua de mel, Eduardo e Ana decidiram iniciar uma nova vida longe de São Paulo. Escolhemos Florianópolis, uma cidade que oferece não apenas oportunidades, mas também a chance de construir um lar juntos. Eduardo conseguiu um emprego em uma grande empresa de TI, o que representou mais uma vitória em sua jornada.

Na varanda do novo apartamento, de frente para o mar, Eduardo refletia sobre o caminho que o trouxe até ali. Lembrava-se de quando saiu de casa sozinho, faminto e sem esperança. Agora, ao seu lado, estava Ana, seu porto seguro. Eles construíram sua própria família, mesmo que composta apenas por eles dois.

Enquanto olhava para o horizonte, Eduardo segurou a mão de Ana e sussurrou com um sorriso genuíno, "Nós conseguimos." Ana sorriu de volta, com os olhos marejados. Não preciso de palavras. Tinham um ao outro, e isso era mais do que suficiente.

Aos 18 anos, Ana se viu em uma encruzilhada. A casa onde cresceu, um lugar que deveria ser de proteção e conforto, era uma prisão marcada pela pobreza e pela violência. Desde criança, aprendendo a suportar o silêncio dos maus-tratos e a falta de apoio, mas ao completar 18 anos, algo mudou. O medo de que sempre aprendia fosse superado por uma necessidade urgente de liberdade, e ela decidiu que não passaria mais um dia naquele ambiente tóxico.

O Amor do Xerife ConcluidaOnde histórias criam vida. Descubra agora