Capítulo 3: Uma Transformação Necessária.

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Aos 11 anos, eu me via envolta em uma mudança que transformaria não apenas meu ambiente, mas a essência de quem eu era. Tornei-me uma pessoa profundamente reservada, desencadeando desafios, principalmente na escola. Minha avó, percebendo essa metamorfose, tentou desvendar o que se passava em meu mundo interior. Contudo, a coragem de abrir meu coração à pessoa que mais amo não se manifestou facilmente. Como poderia expressar que não me sentia suficiente? Como admitir a saudade de alguém que deixou claro que não me queria?

Impulsionada pelo meu comportamento, minha avó tomou uma decisão impactante: sugeriu a mudança para a casa do meu pai. Nesse novo lar, meu pai havia recebido mais um filho, o levado Ravi. Eu o amava intensamente, a ponto de estar disposta a sacrificar minha própria vida por ele. Não queria que ele sofresse como eu já havia sofrido.

Entretanto, essa mudança não trouxe alívio na escola, que continuava a ser meu pesadelo. Sentia-me deslocada, como se não pertencesse àquele ambiente, e, por isso, construí muros ao meu redor. De uma menina alegre, capaz de iluminar o dia de todos ao seu redor, transformei-me em alguém fechada, cujas dores passavam despercebidas, seja por falta de tempo ou pela relutância em perceber.
Naquele ano, encarei a dura realidade de repetir de ano, um choque de realidade que deixou claro que, se eu não corresse atrás dos meus sonhos, ninguém o faria por mim. Apesar do desconforto, enxerguei uma nova oportunidade com a mudança de turma e o início de um novo ano. Contudo, a recepção não foi calorosa; ao contrário, o ciclo de desafios se reiniciou, agora com a reprovação como novo motivo.

A escola tornou-se um ambiente sem paz, e mesmo tentando alertar meu pai, ele, como sempre, não deu a devida atenção. Decidi então me aproximar de Thais, mas a falta de confiança em abrir meu coração a ela me atormentava. O receio de que ela pudesse contar tudo ao meu pai, piorando a situação, me mantinha em silêncio, aprisionada em meus próprios pensamentos.

Ignorar o que estava acontecendo revelou-se uma escolha prejudicial, evidenciando que poderiam fazer o que quisessem comigo, enquanto eu permanecia inerte, uma tola movida pelo medo e pela vergonha. No entanto, tudo mudou no dia em que, ao sair da escola, fui alvo de zombarias e até mesmo agressões físicas.

Aquele foi um dos piores dias da minha vida, mas também o ponto de virada. Tive coragem de compartilhar tudo com meu pai, que, desta vez, tomou uma atitude. Sua ida à escola, embora não resolvesse tudo, evidenciou a necessidade de sua presença para minha defesa. Percebi, de maneira dolorosa, que precisava aprender a me defender, pois ser uma tola que não se posicionava estava longe de ser a solução.

Aquela experiência impactante desencadeou algo novo em mim. Pela primeira vez, enfrentei uma crise de ansiedade, um peso no peito insuportável, falta de ar, corpo trêmulo. Aos 12 anos, eu vivenciei algo que já ouvi falar, mas nunca imaginaria experimentar. Decidi guardar isso para mim, afinal, não compreendia totalmente o que era, mas estava determinada a não deixar que definisse quem eu seria.
Passadas três semanas desde esse turbilhão, reuni coragem e pedi ao meu pai para morar com minha mãe. Inicialmente, ele relutou diante da ideia, mas com o tempo, o convenci. No fundo, ele reconhecia que algo não estava bem, e, pensando no meu bem-estar, acabou concordando. Conversamos com minha avó, que, mesmo não gostando da ideia, cedeu diante da minha vontade.

Minha mãe, por sua vez, não recebeu a notícia com entusiasmo. Sempre deixou claro que minha presença não era desejada, mas logo vislumbrou uma vantagem: minha contribuição nos afazeres domésticos. Isso não me incomodava, pois minha avó sempre me ensinou a trabalhar. Assim, dei início a uma nova fase, frequentando uma escola onde, pela primeira vez, me senti acolhida.

Conhecia Daniela, que se assemelhava a uma prima para mim. Embora fosse um tanto ciumenta e encrenqueira, sua bondade se destacava. Ela prontamente me apresentou à turma, que, de maneira calorosa, me recebeu. Pela primeira vez, senti que era conhecida antes de ser julgada. Aquele ano se revelaria crucial, repleto de altos e baixos, proporcionando valiosos aprendizados.

Sempre enfrentei o medo da mudança, mas hoje reconheço que cada desafio moldou quem sou. Cada detalhe, cada dificuldade, contribuiu para minha força interior e confiança. Acredito que Deus estava presente em cada aspecto dessa jornada, guiando-me e fortalecendo-me a cada passo.

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