Capítulo 2: O Silêncio

61 3 5
                                    

Meu pai estava alheio ao que se passava, ocupado demais com outras preocupações, sem prestar muita atenção em mim. Minha avó, apesar de sua rigidez, esforçava-se ao máximo por mim, expressando seu amor por meio de cuidados constantes. Ela sempre teve receio de me perder e, diante dos meus problemas, eu aprendi a superar tudo sozinha, apoiada na fé em Deus.

A relação com meu irmão Luciano nunca foi fácil. Seu temperamento explosivo e nervoso levava a frequentes brigas, alimentadas por ciúmes. Enquanto ele expressava seus sentimentos aos berros, os meus se manifestavam em lágrimas.

Ele também sofria em silêncio, algo que compartilhamos. Descobrimos que ele enfrentava problemas na escola, suportando tudo em silêncio, tornando-se um menino cheio de traumas e medos, uma realidade que ninguém enxergava. Eu, por minha vez, me via transformando em uma garota repleta de inseguranças e medos.

Às vezes, me pergunto como seria se eu compartilhasse tudo o que sinto, se me apresentasse completamente, se expressasse cada pensamento. Mas, por receio de sofrer mais ou talvez de não mudar nada, optava por guardar tudo para mim. Sempre amei ir à igreja; eram os dias da semana que mais apreciava, uma fonte valiosa de apoio.
Meu avô sempre desempenhou o papel de pai, oferecendo apoio constante e sendo a pessoa mais forte que conheço. Ele me ensinou a ter fé e a ser forte, mas, mesmo assim, não tinha ideia do que se passava em minha mente. Naquela época, eu não me abria com ninguém, com medo de ser julgada; queria apenas ficar na minha. Aos 11 anos, as coisas pioraram, e a alegre menininha cheia de energia se transformou em alguém que se sentia insuficiente, um peso pesado para uma criança.

Ninguém percebia, ocupados demais para notar. Tentei me abrir, mas voltava a ser aquela menininha de 6 anos implorando por atenção. Era como se um sentimento sombrio me perseguisse para onde quer que eu fosse.

Minha tia Marina desempenhava um papel importante, sendo uma mulher linda, guerreira e forte, um exemplo para mim. Estava sempre por perto, e eu fui criada próxima dos meus primos, Sabrina e Luca. Apesar das diferenças, brincávamos juntos, e o tempo que passamos foi valioso.

Na escola, ouvia constantemente que o ensinamento vinha de casa, e na igreja, aprendi que o amor começava pela família. Assim, minha família era minha avó, meu avô e minha tia. Mesmo com meu pai por perto, ele parecia distante, alimentando o medo de expressar o que sentia. Ser honesta o tempo todo seria uma loucura, e isso eu sabia.
Às vezes, sentia-me inadequada, como se não pertencesse a lugar algum. A verdade é que eu desconhecia os planos de Deus para minha vida, o quanto Ele me amava e ainda ama. Não precisava verbalizar meus sentimentos, pois Ele sempre soube de tudo, enviando sinais constantes de Seu amor e cuidado, ensinando-me a ser forte e a encarar minha história com superação, força e coragem.

Por muito tempo, mantive silêncio por medo, sofrendo sozinha. No entanto, houve alguém que decifrou meu silêncio e minhas lágrimas, enxugando-as. Esse alguém é Deus, que sempre esteve comigo. Nas vezes em que pensei estar só, Ele estava lá, traduzindo meu silêncio e minhas lágrimas. Estou aqui contando minha história porque Ele sempre esteve presente

Relatos de uma adolescente Onde histórias criam vida. Descubra agora