Conforme corria, a intensidade da chuva se amplificava, minhas pernas queimavam pelo cansaço e esforço que fazia, porém, não impediu de continuar correndo e gritar por ela. Não sabia para onde iria, não queria pensar em qual destino iria chegar, só queria chegar o mais rápido possível" Só mais um pouco, só mais um pouco" brigava com minhas pernas, até elas pararem de responder ao meu comando, por estar muito rápido escorrego em algo e caio com tudo sendo jogada para fora da calçada, ao tentar firmar meu corpo ao cair, caio por cima dos meus braços, a dor foi imediata, lateja, como várias pontadas de uma agulha, talvez poderia ter quebrado ambos, mas não verifico, do mesmo jeito que cai, continuei deitada.
Ajeito meu corpo de barriga para cima e admiro a tempestade se formar em cima de mim, e a chuva cair sobre minha pele, gélida, sufocante, desesperador, no entanto, o frio não incomodava minha pele, era como um acalento. Pressiono os olhos e os mantenho fechados, tento escutar algo em volta, porém a chuva cobria todos os sons, os relâmpagos, o soprar dos ventos, o barulho das árvores sacudidas de um lado para o outro tentando se manter de pé, era semelhante a mim. O uivar dos ventos gritava simultaneamente a cada ruído e luzes azuis que se formavam no céu nublado e escuro, meu coração se recolhia para mais longe da luz. Para mais longe da esperança e menos gosto nos dias que estarão por vir.
— Por favor, alguém me ajude...—Falo franzindo todo o meu rosto, prestes a chorar. "Não consegue salvar nem a si mesma". Suas palavras percorriam como uma lâmina em meu cérebro. Um pouco da sensação que achava ter sumido voltou, voltou sacudindo toda a minha estrutura, relembrando que estou sozinha, sempre estive e isso não mudará, não importa quantas vezes tente procurar, ninguém virá me salvar, as respostas que tanto ansiava fizeram questão de relatar o quanto estou quebrada.
— Desculpa. Eu estou cansada, Charlie, estou exausta. Estou cansada de lutar, não vou conseguir te ajudar, tenho a sensação de que não irei durar por muito tempo. — Não esperava uma resposta, mas tinha o pressentimento de que alguém estava escutando cada palavra.
— Você tem lidado tão bem com essa situação. — Escuto essa voz suave e distante. Não assusto com a mesma, e não verifico para ver de onde vinha, continuo na mesma posição com os olhos fechados.
— Ela tem doído tanto que tem tirado de mim o sentido da vida. —respondo com a voz tensa e arrastada, apenas com o anseio de desabafar pelo menos uma vez o que sentia de fato.
— Eu queria ter tido mais tempo, teria vivido mais. —Um nó na garganta sobrevem, meu coração pesado fica disparado. Não era só a Charlie que estava vagando por aí, tinha mais seres assim como ela.
— Sinto muito.
— Não precisa se desculpar, mas você ainda tem essa chance, não desperdice, a vida é curta demais para viver se ressentindo. — Toca meu peito e, ao fazer isso, meu corpo se levanta instantaneamente, recebo um impulso. Abro os olhos rapidamente e não contemplo ninguém, logo à frente vejo uma luz se aproximar, quando chegou mais perto tomou forma, era um caminhão se aproximando.
— Não vou conseguir sair a tempo. — Sussurro, as lágrimas rolavam pelo meu rosto de forma lenta, elas misturavam-se com a chuva. Com a velocidade do automóvel, não conseguiria desviar do mesmo, talvez não tivesse força de vontade o suficiente. Após segundos aceitei meu destino, meu coração, que outrora estava disparado, foi desacelerando, desacelerando, uma paz percorreu o meu corpo.
— Espero que agora viva uma vida feliz, mamãe. — Pressiono meus olhos com força e grito ao ouvir o som da buzina e dos freios.
— Me ajuda.— Abro os olhos no mesmo instante por reconhecer a voz, meu cabelo acompanha a jogada de pescoço. Tudo pareceu parar por um segundo, avistei Charlie sentada na calçada onde havia tropeçado, seu corpinho estava coberto de sangue, a água escorria por ela e saía com coloração vermelha. Seus olhos me encaravam profundamente, senti vergonha por estar desistindo de tudo. Ao virar para frente, com a última força que tinha, levanto e pulo para o outro lado, rolo duas vezes ao cair no chão, assim desviando dele por pouco, centímetros, foi o que me salvou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O que os meus olhos podem ver?
Fantasy🥇 Colocado no Concurso Alice In Bordeland/ Fantasia. ••• Você acredite ou não, a cortina que oculta as criaturas que habitam o outro plano, onde passam desapercebidos pelos seres humanos é inexi...