⚠️Aρrᥱᥴιᥱ꧑ ᥲ ꧑ᥙ́᥉ιᥴᥲ.
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𝙎𝙖̃𝙤 𝙁𝙧𝙖𝙣𝙘𝙞𝙨𝙘𝙤,
𝙣𝙤 𝙣𝙤𝙧𝙩𝙚 𝙙𝙖 𝘾𝙖𝙡𝙞𝙛𝙤́𝙧𝙣𝙞𝙖
𝟚:𝟘𝟘 𝔸𝕄Todas as noites, os meus gritos ecoavam pelos corredores, sendo abafados pelas quatro paredes à minha volta, suor, calafrios, coração acelerado, medo. O medo sempre está presente, sinto-o o tempo todo, quando esse sentimento irá desaparecer? Geralmente, um ser humano comum teria essa reação natural ligada ao estado de alerta, quando o perigo está próximo, já os meus sempre estão comigo à minha volta, mandando impulsos o tempo todo para meu cérebro.
" Corra, corra"
Diferentemente dos demais os meus não são possíveis fugir, eles sempre me encontram, os vejo em todos os lugares, nas pessoas, eles se alimentam dos nossos medos, inseguranças, mentiras, induzem, outros parecem está tão conectados e fundidos a eles que seus semblantes são mudados, muitos deles não querem os deixar, como uma bagagem que a um tempo você deveria se livrar.
Se eles pudessem ver o que vejo, desejariam a morte. Por um tempo parei de pedir, parei de procurar respostas justificando os motivos para ter essa visão, parei de contar sobre os monstros que me assombram, passei apenas a existir em um mundo onde meus olhos são minha maldição, minha alma no decorrer do processo está morrendo aos poucos, ela grita, não são sons perceptíveis que você ouviria a um quarteirão, são sons silenciosos, que muitos nunca o ouvirão e nem sequer perceberão, estou tão cansada, aquela sensação que você vai desaparecer a qualquer momento, ela está presente em todos os meus dias e o pior, sinto que talvez ninguém perceberá minha ausência, ou se deleitariam em alegria nessa ocasião.
"Ela é estranha. Não fiquem perto dessa aberração. Filha, eles não existem, estão apenas em sua imaginação"
Esses pensamentos passam por mim como uma lâmina, as palavras, sim, têm grande poder de destruição. Se eles soubessem que cada palavra minimamente lançada feria mais que os monstros que me assombravam. Devo acrescentar uma acompanhante, a solidão, ela dilacera todo o meu coração, meu peito dói, sinto falta de ar só de pensar que morrerei sozinha nessa completa escuridão. Embora tenha alguém, minha mãe, ela não entende e nunca entenderá a necessidade do ser humano em ser compreendido, a força da identificação. "Sempre vejo desenhos no céu. Nossa, eu também" coisas assim comigo nunca acontecerão. Resta apenas uma menina medrosa que cresceu, mas seus medos, não morreu, eles não a deixaram, vivendo entre a linha tênue, entre o natural e sobrenatural do saber o que outros não sabem, contemplar o que outros não enxergam, do normal ao anormal, essa dualidade entre ambos os mundos onde para mim não existe essa separação, ando nessa linha há anos tentando não cair, sem bambear, o caminho dela parece não ter fim, os céus no centro parecem sempre ser nublados, nunca faz sol aqui.
Às vezes pergunto se um dia fui normal, talvez, sempre estive à beira do colapso, os médicos não conseguiram tratar, muito menos encontrar a fonte da solução, remédios, mais remédios, eram tantas cores e derivadas funções, nenhum sequer cessou a minha visão.
— Ele não pode te tocar, ele não pode te tocar.—sussurro como um mantra debaixo da coberta em posição fetal, enquanto coloco o meu anel de proteção sobre a boca com as mãos coladas uma na outra suplicando por socorro e perdão, olhos semi-abertos, eles queimam com a necessidade das lágrimas escorrerem.
— Me ajuda... — Uma voz fina embargada de cansaço ecoa sobre meu quarto. Ondas de arrepio tocam a minha espinha cervical, meus olhos ficam esbugalhados de pavor. Até então, eles nunca interagiram comigo, sempre finjo não ver sua presença, os ignorando a todo momento, mas algo essa noite mudou, eles mudaram, não sei o motivo ou a razão. Agora eles tinham noção de que conseguia os ver
— Vai embora, por favor. — Não consigo mais conter, minha voz sai embargada de choro.
— Me ajuda... — A voz insiste. A ignoro, como sempre fiz em toda a minha vida.
— Me ajuda... O som dela parecia estar cada vez mais perto, se aproximando da minha cama. Mesmo não enxergando sentia sua presença, até a ouvir próxima do meu rosto, jogo o cobertor assustada sentando sobre a cama, estava de pé ao meu lado, sustentava o olhar, era de uma criança atormentada, olhos fundos roxos, bem pequenos, olhos de peixe, sua boca tinha uma coloração incomum e sua pele também, estavam uma mistura de branco com roxo, como alguém que se afogou, cabelo curtinho, baixa estatura, parecia ter 9 anos com um vestido de bolinhas vermelho pegando na canela, bem rodado. Pela primeira vez contemplo essas criaturas em forma humana, normalmente eram apenas vultos pretos com expressões aterrorizantes e olhos brilhantes amarelos.
Ficamos extáticas nos entreolhando, pego minhas pernas e deito minha cabeça sobre elas as juntando sobre o meu corpo, balançava de um lado para o outro, as lágrimas escorriam sobre o meu rosto.
— Me ajuda... — A criança repetia por diversas vezes. Não entendia como poderia fazer isso, o que ela queria de mim, só queria que ela desaparecesse.
— Já disse para ir embora. — Gritei tão alto que a sensação era que meus pulmões iriam explodir. Ao fundo, escuto passos pesados vindo ao meu encontro do lado de fora do quarto, passando pelo corredor. É a minha mãe, Melissa. Ela sempre vinha ao meu encontro, mesmo isso se repetindo todas as noites. Abre a porta batendo a mão no módulo, fazendo com que a luz entre no ambiente, iluminando cada cômodo. A menina desaparece assim que a luz foi ligada.
— Está tudo bem? Estou aqui! — Ela coloca meu corpo envolta dos seus braços, desmoronando com seu acolhimento.
— O que aconteceu, Amélia? A mamãe está aqui. — Não conseguia expressar meus sentimentos. O pavor deles agora saberem que os vejo e interagirem comigo me deixava aflita.
— Eles mudaram, eles mudaram, mãe.— Balbuciava em desespero, tremia cada extremidade do meu corpo. Ela passa suas mãos delicadamente em minhas costas, acariciando, tentando me acalmar.
— A mamãe está aqui...—sussurra, sua voz trazia um certo conforto e paz ao meu coração, mas dói vê-la assim, qualquer mãe estaria desgastada com o tempo, bater em porta, em porta e todos dizerem que sua filha quebrada não tem solução, sentia que estava a levando comigo, para esse abismo sem profundidade e fazer isso em contáveis vezes, dia após dia, não era apenas eu que sofria, uma parte dela estava quebrada em ver sua filha atordoada, odiava ser o seu fardo. Meu pai logo no meu quinto ano de vida ele nos abandonou, não aguentava a menina chorosa que não cessava há nenhum instante, abandonou nós duas e foi viver uma vida onde não tenha perturbação, minha mãe nunca confessou isso explicitamente com essas palavras, mas, no fundo, sabia que sua maior razão e motivação para ter ido embora era eu, uma filha doente onde sua mãe sempre abdicou de tudo para estar presente, priorizando ela sempre em primeiro lugar, não podia deixá-la sozinha, ela não tinha amigos, não podia sair, as noites sem dormir e a única forma da criança expressar seus medos era chorar e chorar, pois não sabia explicar o que a atormentava.
— Desculpa.— Quando esses pensamentos dominam, sempre tento desculpar de algo que não pude escolher, não escolhi nascer assim, meu maior anseio era ser normal como os demais. No entanto, a culpa sempre batia em minha porta por ver o que fiz com sua vida. Ela deita meu corpo e acompanha, deitando-se sobre a cama, retira meu cabelo do rosto, me abraça por trás, depositando suas mãos sobre meu braço, deslizando seus dedos sobre ele, o acariciando com movimentos lentos e calmos.
— Agora pode descansar.— Aceno com a cabeça confirmando, tento fechar os olhos, eles tremiam. Mesmo sem aparição de nenhum deles, o que minha mãe não sabia é que não dormia ou repousava há anos, sempre quando pergunta tento fugir do assunto mentindo que as noites foram tranquilas, na verdade, nem cheguei a fechar os olhos, passo madrugadas lutando para não adormecer e ser pega de surpresa, sempre com medo de um dia fazerem algo comigo ou até mesmo com ela, embora que nesses 19 anos nunca notaram que eu os enxergava, até hoje, o que significaria que meus dias de tormento estavam para piorar.
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O que os meus olhos podem ver?
Fantasia🥇 Colocado no Concurso Alice In Bordeland/ Fantasia. ••• Você acredite ou não, a cortina que oculta as criaturas que habitam o outro plano, onde passam desapercebidos pelos seres humanos é inexi...