Prólogo

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Corria afoito pelas vielas estreitas da cidade, sua respiração ofegante ecoando nas paredes de pedra ao seu redor. Ele sabia que tinha que despistar os guardas que o perseguiam implacavelmente. Seus passos eram rápidos e silenciosos, cada esquina uma oportunidade de escapar. O sol escaldante lançava uma luz pálida sobre os telhados, criando sombras que dançavam à medida que ele se movia.

O garoto mergulhou em um beco estreito, a respiração entrecortada enquanto olhava para trás. Os guardas estavam quase em cima dele, analisando com detalhes cada parte da rua suja e mal visitada. O interino daquele beco pressionou-se contra a parede, se esgueirando atrás de algumas caixas velhas de madeira, tentando ser o mais silencioso possível.

Os guardas passaram correndo, suas vozes abafadas pela distância crescente. Mais relaxado pela tensão ter ido embora, soltou um longo suspiro de alívio, mas sabia que não poderia baixar a guarda ainda. Ele se afastou da parede e começou a se mover novamente, buscando uma rota segura.

O garoto contornou uma esquina e encontrou uma escada estreita que levava ao telhado de uma loja abandonada. Sem hesitar, começou a subir, usando cada degrau velho e quebradiço com cuidado para não despencar dali. Quando alcançou o topo, ele se agachou, observando o distrito à sua frente.

A cidade estava barulhenta, sem surpresa alguma, bem movimentada pelo horário do dia, onde os comerciantes aproveitavam a bagunça para vender seus produtos e bugigangas. O garoto respirou fundo, tentando controlar sua respiração acelerada e ofegante. – certo. – murmurou baixinho, quase em um sussurro, e respirou fundo.

Desceu cuidadosamente do telhado da velha loja e continuou sua fuga mais calmamente em direção ao porto. Seus pés tocaram o chão com leveza enquanto ele se movia pelas ruas movimentadas, desviando das pessoas malucas, e se desculpado com algumas, com quem esbarrava acidentalmente. Cobria seu rosto com o capuz que vestia, em busca de chamar a menor atenção possível para si. Ao chegar à orla, avistou o porto agitado à luz do meio dia.

Seu coração acelerou ao perceber que um belo barco, mais afastado dos outros, estava prestes a partir. No último momento, viu o navio começar a se afastar lentamente do cais. Sem pensar duas vezes, ele correu na direção da embarcação, sentindo a urgência de escapar da cidade, dos guardas que ainda o perseguiam e das péssimas memórias que o local o davam.

Quando chegou à borda do cais, viu uma corda pendendo do convés. Sem hesitar, ele a agarrou e começou a subir rapidamente. Com o coração batendo forte, ele finalmente alcançou o convés e se escondeu atrás de alguns barris, ofegante e aliviado por estar a salvo por enquanto.

Já mais calmo, olhou ao redor, e percebeu o quão incrível aquele barco era. A madeira envelhecida, mas imponente. Suas tábuas gastas pareciam contar histórias de muitas viagens pelo mar, cada cicatriz e rachadura testemunhando o peso do tempo e das jornadas passadas. Apesar disso, sua forma elegante e robusta ainda exibia uma beleza resiliente.

A proa alta e orgulhosa se elevava como um guardião antigo, desafiando o mar e o vento. As velas desbotadas, agora enrugadas pelo uso, ainda pendiam dos mastros como asas cansadas de um pássaro de rapina. O convés, outrora polido e reluzente, mostrava agora o desgaste dos anos, mas ainda mantinha um brilho suave sob a luz do sol.

No entanto, apesar das marcas do tempo, o barco mantinha uma aura de grandeza. A pintura descascada revelava cores ricas que um dia foram vibrantes, enquanto as linhas curvas de sua estrutura sugeriam uma harmonia de design há muito tempo esquecida pelos construtores modernos. O casco, mergulhado na água escura, parecia contemplar seu próprio passado glorioso.

Sorriu tendo seus olhos correndo por cada detalhe. – 'este barco é incrível.' – seus olhos brilhavam em admiração.

Ainda distraído, ouviu vozes e passos se aproximando. Ele espreitou por trás dos barris e avistou os marinheiros, todos vestidos de maneira estranha e exibindo adereços incomuns. Foi então que engoliu em seco. A sua volta parecia passar em câmera lenta, enquanto observava aos poucos a bandeira chamativa se erguer.

Uma bandeira tremula com bravura no topo do mastro do navio. É uma visão temida pelos que a avistam ao longe no horizonte. A Jolly Roger, adornada com um crânio branco sobreposto em dois ossos cruzados, tudo em um fundo negro.

À medida que a bandeira flutua no vento, ele sente suas mãos tremerem. Já havia ouvido uma vez antes, que; a Jolly Roger não é apenas um pedaço de pano, é um aviso, uma promessa de perigo iminente para quem cruzar o caminho dos que a carregam. Então foi aí que sua ficha caiu completamente; ele havia se escondido em um navio pirata.

O garoto engoliu em seco, lutando para conter o medo que começava a crescer dentro dele. Ele não tinha ideia do destino do navio ou das intenções dos piratas a bordo. Mas uma coisa tinha certeza, era que estava completamente ferrado. Mal teve tempo de autodepressiar, pois sentiu um toque pesado em seu ombro. Hesitante, se virou e sentiu seus olhos pesarem com a figura assustadora, não parecendo nem um pouco simpática.

– O que pensa que está fazendo aqui?!

Corsário da meia noite (Mitake)Onde histórias criam vida. Descubra agora