Capítulo IV

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Takemichi nunca pensou que chegaria nessa situação estranha. As coisas para si só iam de mal a pior. Não sabia como ainda estava vivo, com todo o azar que possuía.

Estava agora, nesta situação constrangedora, em completo silêncio na cabine do capitão. Ninguém falava nada, e ninguém olhava para ninguém. Pelo menos o capitão não olhava para nada além do caderno que tinha em mãos. Takemichi não se sentia muito à vontade com o mais velho mexendo em suas coisas. Apenas queria dar um tapa nas mãos dele, pegar suas coisas e pular no mar. Mas essa não era uma opção muito boa se quisesse permanecer vivo.

Depois de aceitar - mesmo hesitante - a proposta do capitão, o homem começou a analisar suas coisas com curiosidade, para ter certeza de que Takemichi não fazia parte da marinha ou algo do tipo. Mesmo que seu porte físico não entregasse isso.

– Você precisa mesmo olhar minhas coisas assim? – perguntou, sem esconder seu descontentamento. Era nítido o quanto era contra essa invasão de privacidade. Mikey desviou a atenção do item em suas mãos e encarou Takemichi com desdém.

– Preciso, sim – resmungou, a falta de paciência evidente em sua voz.

Takemichi suspirou, frustrado e derrotado. Os lábios se transformando em um bico descontente. Continuou a encarar com tédio os papéis que lhe foram dados. Mikey estava fazendo o garoto desenhar mapas dos pontos específicos e das ilhas já descobertas de todo Starlit West. Não poderia reclamar muito, já que pelo menos não teria que passar o dia esfregando o chão, que parecia nunca estar realmente limpo.

Mikey lhe dera o cargo de garoto pintor. E o que frustrava Takemichi era que o trabalho combinava e era completamente digno de si. A pessoa em uma tripulação pirata que possuía esse cargo teria de ser: cartógrafo, criptógrafo, estudioso e perito em idiomas. E, infelizmente, ele era inteligente o suficiente para ter todas essas qualidades.

Assim que o capitão lhe fez algumas perguntas e descobriu isso, Takemichi jurou ter visto uma faísca de surpresa nos olhos de Mikey. Uma surpresa daquelas que a pessoa realmente não esperava tal capacidade da outra. Com essa quase surpresa, veio também a certeza de que o capitão o faria trabalhar até cair. Assim que Mikey percebeu as habilidades do moreno, começou a exigir mais dele.

Takemichi não gostava da ideia de ser explorado, mas também sabia que poderia ser muito pior. Ele observou Manjiro, que agora estava novamente concentrado em seu caderno. O silêncio era quase sufocante, apenas interrompido pelo som das ondas batendo contra o navio.

– Eu não estou aqui para ser escravizado – murmurou quase em um sussurro, tentando encontrar algum vestígio de humanidade no capitão, mesmo temendo o irritar.

– Ninguém está, garoto – respondeu ríspido, sem tirar os olhos do caderno. – Mas todo mundo aqui tem um papel a desempenhar. E o seu é mais importante do que você pensa.

– Por que me chama de garoto como se fosse tão mais velho do que eu? Você deve no mínimo ter uns 19 anos. – resmungou, soltando a pena que usava para escrever no tinteiro ao lado. Encarou o capitão com uma carranca irritante.

Mikey ergueu uma sobrancelha e, finalmente, levantou os olhos do diário. Um pequeno sorriso de lado apareceu em seus lábios, mas era difícil dizer se estava sendo amigável ou se divertindo com a irritação do outro.

– Talvez porque já vivi coisas que você não consegue nem imaginar. E também porque, apesar da minha idade, sou o capitão deste navio. Tenho responsabilidades que pesam mais do que você pensa. Enquanto você, é só um garoto que ainda não sabe de nada desse mundo.

Takemichi bufou, a frustração se transformando em resignação. Ele sabia que argumentar não o levaria a lugar algum. Mikey parecia ser do tipo que não cedia facilmente. Talvez fosse isso que o tornava um bom líder, mesmo que a liderança dele não fosse a que mais seguia a lei.

Corsário da meia noite (Mitake)Onde histórias criam vida. Descubra agora