Quando Juntos, Somos Eclipse | Jungkook

capítulo 4

   Três semanas se seguiram após o passeio no jardim do hospital, e bem, Ella não poderia estar mais feliz.
    Apesar das poucas horas que tinha antes do trabalho, todos os dias foi visitar Jungkook. Tudo havia passado de ser obrigação para ser algo preciso, afinal, ele era amigo dela. A aproximação ficou maior depois do passeio e tudo acontecia como se os dois se conhecessem há anos. Como se fossem amigos de infância.
   Eles se entendiam, passeavam no jardim e a garota até conseguiu fazer Jeon dar boas risadas, algo que ele não fazia com a frequência que deveria. Era bom estar com o rapaz, conversar e dar apoio.
    A questão é que a melhora de Jungkook foi tão boa e surpreendente que ele já estava podendo andar mesmo com a perna enfaixada, só que usando muletas. Até sair do hospital para passear, caso fosse da vontade dele. Ella estava tão feliz! A garota fazia parte daquilo também, não fazia? Pelo menos fez alguma coisa, ao contrário dos familiares dele que nem ao menos foram visitá-lo. Isso a enchia de raiva, mesmo sem saber o motivo para tal coisa acontecer, já que toda vez que tocava no assunto de família, Jeon parecia desconfortável e inquieto. No final de tudo, só falavam da vida de Ella no Brasil e em como ela era feliz.
    Bom, a moça tinha certeza de que poderia fazê-lo feliz também.

   
ᝰ.ᐟ

   Ella andava pelos corredores do hospital, não aguentando sua ansiedade. Estava prestes a explodir.
   Há alguns minutos, um médico a parou para informar que Jungkook poderia receber alta em menos de uma semana caso tudo ocorresse bem. Poderia existir uma notícia melhor? Ele iria adorar.
   Apressou os passos, e chegando em frente ao quarto dele, imediatamente abriu a porta.
    Pelo amor de Deus.
   Pânico. Desespero. Ela e sua mania de abrir a porta sem bater.
    Jungkook estava em pé, prestes a pegar uma camisa que estava em cima da cama. Detalhe bem importante: ele estava sem camisa. Provavelmente havia acabado de sair do banho, já que gotas de água escorriam da sua clavícula para baixo. Pelo amor de Deus novamente. Por que ele não trancou a porta?
    Jeon parecia sentir pânico também, pois a garota viu o rosto dele ficar vermelho. O sangue  aparentemente havia subido pra cabeça. Era nítido que ele não sabia o que fazer.
    Que constrangedor. Gostaria de enterrar a cabeça em um buraco.
 

De repente, ele segurou as suas muletas.

— Ella, o que você...

   A moça o viu dar dois passos na direção dela, com um olhar de curiosidade e aparentemente vergonha. No desespero, Ella deu mais um passo pra trás, já com o pé para fora do quarto.

— Desculpa. Tipo, desculpa mesmo.

— Ah. —  seu rosto ainda vermelho. — Essa não é a melhor situação para ver alguém...

   E por que ele acabou de dar mais um passo?

— Que engraçado você. 

   Ela soltou uma risada sem graça e engoliu o seco, vendo Jeon encarar da forma mais profunda que ela já viu.

— Eu... Me avise quando terminar.

   E antes que ele pudesse falar mais alguma coisa, Ella pulou para fora do quarto e fechou a porta com força. As pessoas do corredor a olharam com um olhar de julgamento e a garota sussurrou alguns pedidos de desculpas.
   Seu coração estava disparado, como se fosse sair pela boca. O momento anterior havia sido tenso, tenso demais até. Não que fosse algo demais ver alguém sem camisa, mas se ela tivesse chegado minutos antes, o que poderia ter visto? Jungkook estaria maluco? Até porque não há motivos plausíveis para alguém se trocar e não fechar a porta do quarto.
    Tantas perguntas, mas o que ela sabia era que sentia uma sensação estranha. Sua pele estava quente em um nível anormal. Talvez fosse pelo momento anterior, então encostou as costas na parede e esperou por Jeon. Iria pedir desculpas novamente, apesar de tudo, ela deveria ter batido na porta.
    Burra. Burra. Burra.
    Não passou nem dois minutos, quando a porta do quarto foi aberta e os olhos dele apareceram pela abertura.

— Está tudo bem? Pode entrar.

   Não se deu o trabalho de responder, e com cuidado, abriu a porta. Jeon estava andando de costas com a muleta, indo em direção a maca.
   Pelo menos estava com uma camisa, bem larga por sinal.
    Há alguns dias, Ella havia ido a casa dele buscar algumas roupas para Jungkook usar. Não iria mentir, era um lugar simples e tudo estava meio velho e triste. Não por falta de cuidados, é claro, o local era limpo, mas... A garota não sabia explicar, era estranho.
   Ela respirou fundo e abriu um sorriso, tentando esquecer do que acabou de acontecer.
    Tentando esquecer como Jungkook parecia diferente naquele momento.

— Tenho uma notícia para te dar.

— Sério?

   Acabou de ficar de frente para ela.

— Seríssimo.

— Então por que ainda não disse? Não me deixe ansioso.

— Ah. — limpou a garganta. — O seu médico me disse que você provavelmente terá alta daqui há uma semana, até menos, se tudo ocorrer bem.

   Os lábios de Jeon se curvaram para baixo e suas sobrancelhas levantaram. Não sabia dizer se ele estava surpreso ou triste.
    Quem sabe os dois?

— Que notícia... Boa.

— Eu esperava outra reação.

— Eu também.

    E um silêncio se seguiu durante alguns minutos, que pareciam mais uma eternidade. Pela primeira vez, o silêncio entre eles foi constrangedor. Torturante.
    Como sempre, a garota quebrou o silêncio:

— Jungkook.

— Sim?

— Me desculpa pelo aconteceu. Eu não quis te ver daquele jeito.

— Ella, eu sei. Não é por isso que estou assim.

   O alívio invadiu o íntimo de Ella ao mesmo tempo que a preocupação.

— Então qual é o motivo? Eu fiz mais alguma coisa?

— Não, não é nada. Eu só... — ele estava prestes a falar algo, mas seus ombros encolheram. — Esquece.

    A moça o encarou, o encorajando a continuar, mas Jungkook apenas desviou o olhar. Aquilo estava estranho demais. Era como se ela estivesse vendo aquele mesmo homem que havia atropelado há um mês: frio e distante.
    Será que sair do hospital o assustava? Mas por que o assustaria?

— Você quer ficar sozinho? É só me dizer.

   Não sabia o motivo de propor aquilo, mas algo dentro dela dizia que era o certo a se fazer.

— Por favor. — disse baixinho. — E me desculpa por isso.

    Ella o olhou pela última vez e balançou a cabeça. Não disse mais nenhuma palavra antes de se virar e sair do quarto, mas decidida a entender o que estava acontecendo. Custe o que custar.
     Não ficou com raiva, mas aquilo não era normal. Ele deveria ficar feliz em sair do hospital e voltar a viver normalmente.
     O que quer que ele escondesse, ela iria descobrir.