Quando Juntos, Somos Eclipse | Jungkook

Capítulo 12

Oito meses se passaram, mas algumas
coisas pareciam nunca passar.

   A rotina de trabalho poderia ser bem exaustiva.
   Ao se estabelecer novamente na cidade, conseguiu muitos trabalhos, e alguns muito importantes — fotografar a festa da filha do prefeito era pior do que parecia. Mesmo que tentasse ser mais discreta, alguma criança a encontrava e puxava para algum brinquedo aleatório pedindo para ela brincar. Em uma dessas situações, uma garotinha disse que a moça parecia uma famosa na passarela, por conta do vestido e do batom vermelho cereja. Ella agradeceu, seja lá o que a menina quis dizer com aquilo.
   A questão era que estava crescendo na sua carreira, tanto que não tinha tempo para pensar em fazer mais nada. Basicamente morava em eventos e visitava a própria casa, e se sentia feliz com isso; trabalhava com o que amava e não havia nada mais prazeroso. Sem contar que sua cabeça ficava ocupada, deixando pensamentos tristes em segundo plano.
   A não ser quando estava sozinha.
   Ainda morava na casa dos pais, mas ajudava com as despesas e ainda sobrava uma boa quantia para guardar. Dividia um quarto com Rafael, então foi até a cozinha com um pequeno abajur e escreveu com a ajuda da luz fraca. Era madrugada, quase três horas da manhã.
   Refletia sobre seus sentimentos enquanto olhava para o papel na mesa, uma carta. Não a enviaria, era sua forma de desabafo para si mesma e para aquele a quem ela nem ao menos sabia se ainda o conhecia. A folha estava marcada pelas lágrimas que caíram a cada palavra escrita, como se a carta estivesse sendo selada pela rapidez dos seus dedos e pelas lágrimas cheias de saudade e dor.

"Sinto que traí a mim mesma mais uma vez e tudo isso por sua causa. Tudo parece mais difícil a cada dia, e mesmo que eu tente mil vezes pensar que você não me afeta, eu devo admitir que você sempre vai me afetar. De um jeito ou de outro , você foi criado especialmente para isso, para me afetar de todas as formas.
   Eu fui embora de repente, mas não, isso não foi minha culpa, eu tive uma razão. Vim cuidar do meu pai e faria isso todas as vezes que fosse preciso. Porém, como você pode ter sido tão injusto? Por que me beijou em um dia qualquer? Por que? Por que disse todas aquelas palavras? Por que me fez amar você? Tudo isso pra nada? Eu poderia ter voltado para cá com a consciência de que você era meu amigo, mas tive que ser atormentada por suas lembranças todos os dias. Lembranças bonitas, tão bonitas que me fazem te amar mais.
   Meu pai está melhor, sabia? Eu guardo todo dinheiro que posso apenas para te encontrar, só que estou com medo. Eu poderia ir até a Coréia do Sul amanhã, pois é, porque eu deixaria tudo por você. Isso me irrita porque vai totalmente contra o que é racional, mas não sei o que fazer.  Se eu fosse te encontrar, o que poderia encontrar? Jungkook, será que você ainda lembraria do meu rosto? Será que você me abraçaria?
   Eu disse a você que voltaria, mas você cumpriria a promessa de nunca se esquecer de mim? Pelo amor de Deus, eu estou enlouquecendo. Eu te amo, garoto, eu te amo muito.
   Talvez eu tenha escrito coisas sem sentido algum, no entanto, não ligo. Meu coração está acelerado e não consigo me controlar, é uma saudade que não passa nunca. Às vezes é menos, mas quando paro para lembrar do seu rosto, do seu sorriso, dos seus olhinhos bonitos e de você no todo, eu choro. Choro tanto que chego a passar mal.
   O que você fez comigo?"

   A euforia passou e o que lhe restou foi fitar a folha, desejando que algum fogo a consumisse magicamente. Odiava o sentimento de desespero que vinha como um relâmpago e que logo ia embora, mas a devastava por completo.
   Não mentiu em suas palavras. Todos os meses juntou dinheiro suficiente para voltar à Coréia do Sul quando quisesse, e sim, já tinha a quantia necessária, mas o medo do que poderia acontecer a fazia adiar os planejamentos da viagem. Nada mais a impedia; seu pai já estava quase completamente recuperado e tudo havia voltado ao normal em sua vida, mas caramba, parecia tão difícil imaginar um futuro incerto.
   Passou a mão no cabelo, colocando os fios para trás. Sentia os olhos inchados de tanto chorar e tinha certeza que acordaria com dor de cabeça no dia seguinte, uma das piores sensações.