Preciso Me Encontrar - Cartola

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- Ramiro! - Suspira aliviado ao encontrar o marido no deque dos barcos do resort que fazem passeios pelo rio Perdido.

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

Como o outro se sentia.

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver

Perdido.

Como pôde sair de tanta paz espirítual para uma crise desencadeada pelas memórias que aquela marca no pescoço de Kelvin trouxe?

Deixe-me ir
Preciso andar

O dia que matou Antônio.

Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar

O dia que foi preso.

Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar

Até essa manhã, aquele foi o último dia que havia acordado ao lado de Kelvin. Bem, técnicamente ainda era, pois eles acordaram hoje no meio da tarde.

- Kevinho - Chama, envergonhado.

O outro se aproxima, tomando cuidado onde pisa devido a pouca iluminação do lugar e o fato que já era de noite.

Kelvin havia procurado Ramiro por todo canto, por uns trinta minutos até que voltou para o quarto esperando encontrá-lo lá. Ele aproveitou e colocou uma gargantilha, o item que sempre amou usar para incrementar seus looks agora tinha uma outra função, esconder a marca que carregava.

- Você me deixa doido! Te procurei por todo esse tempo - Se senta na borda do deque com as pernas cruzadas, o outro tinha as pernas penduradas para fora, mas pela altura da estrutura não encostava na água.

Como pedir perdão ao marido? Começaria por onde? Pelo surto? Por não ser capaz de protegê-lo daquela vez? Pela dor que sentia de Kelvin carregar essa marca?

Ele sabe que nada disso importa para Kelvin.

- Me perdoa por ter fugido daquele jeito, fiz uma cena e te deixei sozinho, de novo. Eu sou um idiota.

- Concordamos nesse ponto - Os dedos tatuados se enrolam nos cabelos negros - Você me deixou preocupado e depois morto de vergonha - Riu se lembrando da cena na aula de yoga - Drama queen - Sussurra.

Ao longo dos encontros semanais que tinham, Kelvin notava o drama que o outro fazia só pela manha em receber carinho, aliás até mesmo antes de namorarem Kelvin percebia a atitude do peão, mas apenas Kelvin recebia o modo 'Ramiro dramático', então ele explicou um dia a expressão em inglês, e Ramiro fingiu odiá-la por ter sido pego no flagra.

- Você não me deixou de novo - Suspirou - Porque você não me deixou daquela vez. Fez o que tinha que ser feito, ninguém te culpou - Era verdade, nem a justiça nem Caio ou Petra, não que a opinião deles importasse para os dois - Eu sabia que a hora ia chegar que você ia ver, e talvez, surtasse. Toda vez que ia te ver eu escondia com maquiagem, já que não podia entrar com acessórios no presídio. E hoje eu esqueci da gargantilha.

Ramiro se vira, o encarando pela primeira vez.

- Ocê não precisa esconder nada de mim, nunca - Toca na gargantilha, os dedos trêmulos - Eu não sei porque me senti assim, eu tava tão em paz, mas bati o olho e foi... foi horrível a sensação.

- Uma crise? - Abraça o maior por trás, posicionando as mãos nos músculos dos ombros massageando-o.

- Uhum - Suspira.

KM - KELMIROOnde histórias criam vida. Descubra agora