Só Tinha De Ser Com Você - Elis Regina e Antônio Carlos Jobim

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— Anda Ramiro! Já perdemos a aula com o nascer do sol, porque fomos dormir com ele. A de agora eu me recuso!

— Ma'ocê gostou de ficar acordado a noite toda. Não gostou? Ficou até sorrindo enquanto dormia.

— Sabia que você tinha ficado me olhando enquanto dormia! Meu bem se chegar o dia que eu ache isso ruim eu te dou autorização para me internar lá naquela clínica da Petra! Muito difícil não ficar feliz depois de uma noite com direito a 3 rodadas, né? Mas falando sério agora, você tá pronto? Quero muito fazer essa aula!

Chegaram no jardim do resort onde ocorria as aulas de yoga voltadas a casais, agora com o sol se pondo ao fundo, eles se acomodaram em tapetes próximos um do outro e aguardaram a saudação da instrutora.

Os últimos raios de sol da tarde banhavam o jardim com uma mistura de suaves luzes alaranjadas, lilás, rosa a frente do céu azul claro. O aroma de incenso flutuava no ar, misturado ao de grama recém cortada, criando uma atmosfera de paz e serenidade.

Ramiro se sentia tão bem inspirando aquele ar fresco e aromatizado tanto artificialmente pelo incenso mas que somado ao natural de grama, que fechando os olhos para apreciar melhor, para ele tinha cheiro de liberdade.

A melodia suave de um sitar ecoou, guiando os movimentos lentos e precisos de saudação as estrelas. A cada respiração profunda, podia-se sentir os músculos se alongando, liberando a tensão acumulada e abrindo espaço para a energia vital fluir livremente pelo corpo.

Com o corpo aquecido e a mente serena, era hora de explorar as posturas. A instrutora, com sua voz calma e gentil, guiava os hóspedes através de cada asana, convidando-os a prestar atenção às sensações físicas e à quietude da mente. A cada postura, um novo desafio, uma nova oportunidade para explorar os limites do corpo e da mente.

— Quem preferir pode fazer a Tadasana, ou postura da montanha com os pés descalços na grama para sentir a energia vinda diretamente da terra para si.

Kelvin que mantinha os olhos fechados e os pés sob o tapete para a prática, curtindo as sensações, nem percebeu o passo á frente que Ramiro deu aceitando a sugestão da mulher. Um dos contatos que mais sentia falta no presídio era justamente com a terra.

O silêncio era quase palpável, apenas quebrado pelo som da natureza ao redor e pela respiração dos alunos. Na quietude, os pensamentos se acalmavam, dando lugar à presença plena no momento presente.

— Agora para a vrksasana, ou postura da árvore, vamos erguer uma perna, assim, colando nosso pé na parte interna da coxa oposta...

— Aí! - O silêncio foi interrmpido por um Kelvin pagando o preço pela arte que Ramiro fez naquela região horas atrás.

O outro engoliu uma risada.

— Encontrem o equilíbrio entre a força e a leveza, a estabilidade e a flexibilidade. Respirem profundamente, conectando-se à sua força interior e à sua capacidade de superar desafios. Você é a árvore, forte e resiliente, enfrentando as tempestades da vida com serenidade e confiança.

A aula avançava, fluindo como um rio tranquilo. As posturas se tornavam mais complexas, exigindo maior concentração e equilíbrio. Mas a cada desafio superado, a sensação de conquista e autoconfiança aumentava, principalmente em Ramiro que nunca se imaginou nessa situação.

A aula de yoga era mais do que um exercício físico. Era um ritual de autocuidado, uma oportunidade para se conectar com a essência do ser e encontrar o equilíbrio entre corpo, mente e espírito. Conduzia os participantes a um estado de bem-estar cada vez mais profundo e duradouro.

KM - KELMIROOnde histórias criam vida. Descubra agora