6. me mataram ontem.

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oi gente!!!!!!!!

fiz umas notinhas no final, leiammm!

vocês tem lencinhos? vão precisar.

rsrs.





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Eu despertei com o peso da terra sobre meus ombros.

Era outro dia 15.

Mais um mês desde que meu pai partiu.

Ou melhor, quando o destino o arrancou de nós de maneira rápida e inesperada.

Quando o toque irritante e familiar do celular cortou o silêncio da manhã, apenas me virei na cama. Enviei uma mensagem rápida para João, explicando que não me sentia bem para ir à escola naquele dia e sugerindo que ele viesse depois das aulas, se quisesse.

Meu celular desapareceu sob as cobertas, um refúgio contra o frio cortante de julho. Fechei os olhos e soltei um suspiro longo.

Os passos conhecidos da minha mãe ecoaram pelo corredor e, com um gesto suave, ela abriu a porta do quarto. Um beijo no rosto, um afago breve nos cabelos e um suspiro pesado acompanharam aquele gesto carinhoso, mas eu permaneci imóvel, como se cada movimento pudesse reavivar a dor que pulsava em meu peito.

Os minutos se arrastavam no quarto silencioso, apenas interrompidos pelo som da minha respiração entrecortada. O barulho dentro da minha cabeça competia com o ritmo acelerado do meu coração, ambos refletindo a angústia que me consumia.

Meu pai fazia uma falta imensa. Sua presença alegre, suas canções, suas brincadeiras com espetos de churrasco eram parte integrante da nossa rotina. Seus olhos calmos e sua voz suave contrastavam com a imagem robusta e muitas vezes carrancuda que ele passava. Era o tipo de pessoa que cativava todos ao seu redor, deixando um vazio irreparável desde sua partida.

Quando tomei coragem, arrastei meus pés cobertos por uma meia branca até o banheiro e me enfiei debaixo do chuveiro quente, podendo sentir a água abraçar meu corpo com um afago quente para o dia dolorido que eu precisava enfrentar. Demorei tempo demais no banho, ansiando que a água levasse pelo ralo a dor que eu ia carregar comigo até o fim da vida.

Quando desci as escadas a minha mãe estava assistindo o noticiário na televisão, segurava uma caneca de café nas mãos e o rosto cansado. Sem dizer nada, sentei ao lado dela e me encolhi em seu corpo como costumávamos fazer quando eu ainda era um menininho.

Ela não disse nada, apenas passou a mão pelos meus cabelos como costumava fazer nos momentos difíceis. O silêncio entre nós falava mais do que qualquer palavra naquele momento. Éramos dois corações dilacerados pela mesma perda, buscando consolo um no outro.

O aroma do café se misturava ao vapor do chuveiro e do sabonete que ainda estava em minha pele quando ela quebrou o silêncio suavemente:

— Pedro, sei que não é fácil, mas precisamos seguir em frente. Seu pai estaria orgulhoso de ver o homem que você está se tornando, lindo, inteligente e cuidadoso.

Apenas concordei com a cabeça, mesmo sabendo que estava em um estado de confusão emocional, incapaz de enxergar um caminho claro à minha frente. Após um café da manhã silencioso, minha mãe se preparou para sair, dando-me um beijo na testa antes de partir para mais um dia de trabalho. Fiquei sozinho em casa, assistindo televisão e evitando pensar em pensamentos deprimentes.

No almoço, comi uma pizza quase inteira e requentada que sobrou do jantar e tomei um litro de Coca-Cola, permanecendo de pijama durante todo o dia.

À tarde, decidi arrumar um pouco a casa, buscando afastar a sensação de vazio que dominava meus sentimentos naquele dia. Lavei a louça do café e do almoço, arrumei a sala e as almofadas no sofá, e dei uma organizada no meu quarto, abrindo as janelas para deixar a luz do sol entrar e trazer um pouco mais de alegria. Enquanto abria as cortinas, avistei João cruzando a rua com sacolas penduradas no guidão da bicicleta. Um sorriso leve surgiu em meu rosto quando ele parou em frente ao meu portão e o abriu, empurrando a bicicleta até o gramado.

AZUL - PEJÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora