Capítulo 2 - Garota estranha

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Enquanto eu secava as lágrimas o mais rápido que podia, eu me levantei. Jamais me permitiria outro momento de fragilidade perto de alguém. Essa garota ter me visto chorar foi apenas um momento de descuido, eu não tinha visto ninguém quando cheguei.

Levantei os olhos e pude reparar melhor no seu cabelo cinza escuro, era estranhamente bonito. Ela vestia jeans largos e um cropped bege, seus ombros estavam expostos, mas os braços eram cobertos por uma manga preta. Eu diria que estava um pouco frio demais para usar aquele tipo de roupa naquele dia, mas a garota não parecia estar se incomodando com o vento que passava por nós duas balançando um pouco seu cabelo, mas sem deixar tudo bagunçado.

–Eu estou bem, obrigada. –Disse tirando um pouco das folhas e da terra que ficaram grudadas na saia quando me sentei.

–Está tendo problemas com seu olho? –A menina disse sem emoção nenhuma na sua voz, mas eu senti algo dentro de mim se revirar. Como ela poderia saber sobre meu olho? "Provavelmente porque ele tem uma cor diferente, Lore? Não é nada demais. Se acalme." Pensei.

Soltei uma risada nervosa.

–Haha! O que poderia ter de errado com isso?

A expressão no rosto dela mudou rapidamente para deboche, e da sua boca saiu uma risada baixa. Ela se levantou do banco caminhando lentamente até mim. Quando estava próxima o suficiente ela levantou a mão encostando seu polegar levemente sobre minha pálpebra direita que já estava fechada por conta do reflexo.

–Você pode só manter ele fechado assim... –Ela sorriu levemente com os lábios. –Não tem do que ter medo.

Eu fiquei apenas ali parada. Não esperava que ela fosse fazer isso, fazia tempo que ninguém me tocava assim, tanto tempo quanto eu não permitia que alguém o fizesse.

–Qual seu... –Fui interrompida.

–Lore, pelo amor de deus. Você tá bem? –Julia gritava com um pouco de desespero em seu tom.

–Me desculpa. –Me virei reparando que Lis estava atrás dela um pouco sem fôlego.

–É um pouco inseguro esse jardim ser grande demais, não faz nem sentido, que isso? Dá pra cometer um crime aqui e ninguém perceber. –Lis comentava fazendo pausas entre as frases para recuperar o fôlego.

–Minha nossa, isso é coisa de você pensar, garota? –Me virei para continuar a conversa com a menina misteriosa, mas o que aconteceu foi estranho. Ela não estava mais lá. Senti um calafrio percorrer meu corpo, será possível que eu estava tendo alucinações? Apesar de que, contar que eu via monstros pras pessoas realmente as fazia pensar que sim, eu estava tendo alucinações.

Julia chegou mais perto e pude perceber que estava com minha mochila quando ela a tirou de um dos seus ombros me entregando.

–Você tem mais protetores aí, né? –Ela me perguntou.

Sim, claro que eu tinha. Uma caixinha reserva. Jamais me permitiria sair de casa sem uma delas. Por isso eu retirei rapidamente do bolso da frente entregando um dos adesivos que minha prima se apressou em colocar sobre meu olho, já que eu não tinha nenhum espelho por perto para fazer isso sozinha.

Na minha cabeça a imagem da garota que eu tinha visto alguns minutos atrás ainda me deixava intrigada. Eu poderia sentir o toque se ela fosse apenas uma alucinação? Eu ainda me lembrava da sensação do mesmo modo que eu sentia o ar entrar pelo meu nariz e chegar até meus pulmões. Definitivamente, eu pensei, definitivamente é bom que eu tenha terapia hoje.

–Vamos pra aula, já tá quase na hora. –Eu chamei as garotas enquanto jogava a mochila preta no ombro direito.

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A Cidade dos Pesadelos (The Nightmare City)Onde histórias criam vida. Descubra agora