O domingo passou rápido demais, principalmente por eu ter ficado o dia inteiro trancada no meu quarto maratonando Stranger Things. Era a desculpa perfeita para não ter que encarar minha mãe depois do que fiz na festa de sábado, apesar de que ela não parecia fazer ideia, tinha a evitado desde que entrei no carro e a primeira coisa que fiz foi fingir que estava com sono demais pra conversar sobre como tinha sido a festa e logo em seguida apoiei minha cabeça para tentar dormir. Eu não iria arriscar, mesmo que soubesse que o efeito do MD já havia passado.
Agora já era segunda feira e eu estava no vestiário me trocando para a aula de educação física. Hoje a aula seria diferente. Iríamos jogar contra a turma do terceiro ano, uma forma de fazer os alunos interagirem, eu acredito. Mas para mim isso não era uma notícia muito feliz já que queria dizer que teria que encarar Rui depois de eu ter sido uma ingrata com ele na festa. Ele literalmente salvou de um trauma que com certeza me perseguiria por bastante tempo e eu não queria mais uma coisa na minha cabeça.
Saí do banheiro já vestida com o uniforme adequado observando que o local estava meio cheio, haviam muitas meninas que eu não conhecia. No meu primeiro mês aqui eu tratei de me situar e me acostumar com a mudança de horários, fazer amigos e socializar com as outras turmas foi algo que eu julguei ser bem menos importante, portanto, poderia ficar para depois. Eu passei ao lado de duas garotas que estavam se trocando enquanto conversavam sobre os caras que elas ficaram na festa, o que me ativou memórias, que apesar de não serem ruins, eu me esforçava muito para esquecer.
Eu queria esquecer porque eu não faço a mínima ideia do que aconteceu nos episódios que assisti durante o domingo, afinal tudo que a minha cabeça fazia era voltar para o momento em que Olivia me beijava naquele banheiro, sobre como a sensação dos seus toques pareciam ampliados para mim, sobre como ela era quente e tão... provocante. Além disso, passava pela minha cabeça como eu conseguia ouvir sua voz tão clara quando ela sequer estava dentro do banheiro. Era estranho demais, mas eu sabia que ela tinha informações que eu queria. As memórias voltarem naquele exato momento me fizeram pensar que talvez eu quisesse um pouco mais que apenas informações, mas me obriguei a ignorar os pensamentos para me concentrar em Julia e Lis que estavam me esperando na porta do vestiário.
–Por que vocês se trocam no banheiro? Um monte de gente se troca do lado de fora. –Julia me perguntava um pouco confusa.
–Nem todo mundo se sente confortável de ficar nua perto dos outros, Julia. –Elisa respondeu.
–Nossa acho um absurdo. Tava doidinha pra te ver sem roupa. –A morena provocou sua amiga. Minha primeira reação foi encarar Lis que estava completamente vermelha, fazendo sua pele contrastar com o cabelo lilás.
–Ah por favor, até quando vocês vão fingir que eu não sei que vocês comem? Aliás acho que todo mundo já sabe. –Tentei acalmar a garota, mas isso apenas serviu para deixá-la com ainda mais vergonha.
–A aula já vai começar, parem de falar de coisas bestas. –Lis saiu andando pisando alto, mas eu pude perceber seu corpo mais relaxado quando Lis colocou seus braços nos ombros dela a abraçando por trás enquanto andavam.
Eu sabia que elas não tinham nenhum problema quanto a sua sexualidade. Já até me peguei pensando no porquê de nunca terem deixado essa amizade evoluir para um pouco mais que isso, mas cheguei a conclusão de que elas se amavam demais para arriscar um futuro término que resultaria no fim de algo tão bonito e que fazia bem para ambas. Às vezes o que temos é exatamente o que precisamos.
A quadra da escola era enorme, o suficiente para a prática de diversos tipos de esporte. A julgar pelas duas redes colocadas no local dividindo a quadra grande em duas menores, já ficava claro que o que faríamos hoje era um jogo de vôlei. Um dos professores na nossa frente explicava as regras do jogo, mesmo que todos já soubessem, afinal não era a nossa primeira vez jogando. Ele dividiria as turmas entre homens e mulheres, cada sexo em uma quadra, o terceiro ano contra o segundo. Logo depois deixou para que nós nos dividíssemos entre quem seriam os primeiros a jogar e os reservas.
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A Cidade dos Pesadelos (The Nightmare City)
Ficção AdolescenteDepois de sofrer um acidente que acarretou na perda da visão de um de seus olhos, Eleonore, começa a enxergar um mundo novo, sobreposto à nossa realidade. Monstros se agarram às pessoas, tornando seu pior pesadelo ainda mais terrível. Como se tudo j...