Pensar em todas as coisas que Olivia havia me mostrado no nosso último encontro era algo que fazia minha cabeça parecer prestes a explodir, ainda mais por todo esforço que me custava tentar encaixar as peças e principalmente as pontas soltas deixadas pela garota. Afinal, que caralhos é um "pacto"? Mas apesar de tudo, aquilo me fazia sentir um pouco melhor quanto ao meu medo dos pesadelos, mesmo que eu ainda estivesse receosa de andar por aí sem meu protetor ocular. Isso era pior em locais cheios de pessoas, como um refeitório escolar, que era onde eu estava agora.
A quarta feira estava calma, como todos os dias costumam ser. A luz natural entrava pelas paredes de vidro que compunham as extremidades do refeitório repleto de mesas redondas com cadeiras para cinco pessoas. O lugar não estava completamente cheio e era possível ver assentos vazios em vários cantos. Eu estava apenas encarando as duas fatias de pão integral caseiro que minha mãe havia preparado no dia anterior, elas estavam em um potinho de papel reciclável junto com algumas castanhas, isso era bom, principalmente levando em conta que as outras opções eram a comida da escola, que não era nada saborosa, e a máquina de salgadinhos, que com certeza não eram tão saudáveis quanto o que eu trazia de casa.
–Você tá tão voadinha ultimamente... –Julia se aproximava com um saco de Doritos grande o suficiente para alimentar cinco pessoas. –Daria tudo pra saber o que é que se passa nessa sua cabecinha de vento.
Lis, que estava na minha frente fincando seu garfo em um morango, virou o rosto na direção da minha prima ao ouvir sua voz. A cara que ela fez ao se deparar com o tamanho do pacote de salgadinhos que estava na mão direita de Julia foi a coisa mais engraçada que eu tinha visto em dias.
–Você não vai comer isso tudo não né Ju? –Ela encarava incrédula.
–Que isso, mas esse é só pra começar. –Ela retirava uma embalagem de marshmallows da bolsa. –Ainda tem a sobremesa. Gente... vamos almoçar??
Esbocei um sorriso sincero ao me lembrar do meme do tiktok.
–A sua cara recusar salada, por isso que vai morrer de falta de nutrientes antes dos 35. –Eu disse enquanto pegava uma das fatias de pão e levava até a boca. Estava delicioso.
–Ai que exagero, gente, eu tenho uma vida todinha pela frente. –Julia dizia se sentando ao lado de Lis.
–Não, mas você não vai comer só porcaria é nunca, me dê isso aqui. –Em silêncio eu observava o cuidado de Lis com ela. Rapidamente a garota retirou o pacote enorme da frente da morena colocando ao seu lado. –Você tem que comer direitinho!
–Tá, mas agora que você tomou meu lanche você tá me obrigando a comer o da escola. Quer mesmo me fazer ingerir aquela radioatividade que eles chamam de comida? –Ela encarava a mais baixa sorrindo.
Era possível quase ver os neurônios de Lis funcionando como engrenagens, e no momento em que ela olhou para as frutas na sua frente eu soube o que elas estavam pensando.
–Não pera, nem fodendo que você tá pensando nisso. –Eu disse deslizando minha cadeira para trás.
Enquanto eu fazia o movimento, a garota de cabelos lilás me deu um sorriso com o intuito unicamente puro de me irritar, enquanto isso pegou o garfo dentro do pote com as frutas e levou em direção à boca de Julia que apenas recebeu de bom grado o alimento.
–Puta que pariu a vergonha que vocês me fazem passar no meio do refeitório. –Eu dizia quase incrédula com a cena na minha frente.
–Não fica bravinha não, Lore. Quer que eu te dê também? –Eu alternava entre olhar Lore levar o garfo de novo recolhendo mais um morango, olhar pra minha prima que sorria debochando, e voltar de novo para a mais baixa que já vinha com a comida em minha direção.
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A Cidade dos Pesadelos (The Nightmare City)
Roman pour AdolescentsDepois de sofrer um acidente que acarretou na perda da visão de um de seus olhos, Eleonore, começa a enxergar um mundo novo, sobreposto à nossa realidade. Monstros se agarram às pessoas, tornando seu pior pesadelo ainda mais terrível. Como se tudo j...