Capítulo 5 - Desejo

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Eu estava saindo da aula de natação, a bolsa com todos os acessórios pesava no meu ombro direito, mas aquilo era algo que eu teria que suportar até chegar em uma cafeteria perto dali, já que eu havia marcado de comer com Lis. Naquele dia, Julia tinha pilates então não poderia se encontrar conosco. Apesar que eu apreciaria muito a presença da morena, isso não me deixou triste de forma alguma, já que eu estava muito feliz que poderia passar um tempo a sós com Lis.

A cafeteria ficava a algumas quadras da escola de natação então eu decidi ir andando, seria bom usar esse tempo para refletir, até porque apesar de tudo eu ainda pensava demais sobre o mundo dos pesadelos. Desde que comecei a tentar me familiarizar com tudo aquilo eu estava ficando curiosa para conhecer tudo que envolvia enxergar esse mundo sobreposto. Olivia havia dito algo sobre ser necessário morrer para conseguir enxergar, então isso queria dizer que eu tinha morrido no meu acidente e milagrosamente voltei a vida. Não era difícil de acreditar já que eu era o próprio milagre. Segundo os médicos era quase impossível que eu tivesse saído do acidente com tão poucas fraturas e com vida, o carro ficou completamente destruído, e bem... Tomás, que estava comigo, morreu na hora.

Mas de uma coisa eu sabia, talvez esse "pacto" devesse ser feito durante a morte. Isso fazia sentido pelo que Olivia falou. Mas a garota era tão resistente em me dar respostas, e não apenas nisso... Pensar nela me deixava mais irritada do que eu queria, então busquei me afastar de todos os sentimentos que envolviam coisas relacionadas a ela. Eu precisava me concentrar. Era apenas minha segunda vez andando na rua com meu olho descoberto e me exigia muito esforço não me assustar com as criaturas terríveis presas às pessoas, e ainda mais esforço para não encará-las, pois eu imaginava como seria estranho se uma garota esquisita ficasse me olhando fixamente com expressão de pavor. Além disso, aquelas criaturas não me fariam mal, eu não precisava ter medo.

Eu estava me aproximando do ponto de encontro quando resolvi mandar uma mensagem para minha amiga tentando saber se ela já estava chegando, mas recebi apenas a resposta de que ela já se encontrava no local de encontro. A mensagem havia me empolgado e eu senti meu coração acelerar um pouco. Mesmo que eu tivesse encontrado Lis mais cedo na escola, ainda era bom encontrar com ela assim apenas para conversar sobre coisas bobas e descontraídas. A companhia das minhas duas amigas eram uma das coisas que com certeza colaboraram com a minha melhora desde que me mudei para essa cidade.

O café tinha um estilo vintage decorado com móveis antigos que combinavam perfeitamente com a luz amarela do ambiente, isso criava um local aconchegante que me lembrava a casa da minha avó. Ela era apaixonada por decoração antiquada, às vezes eu me lembrava que sempre que ela encontrava algum móvel que tinha no mínimo 50 anos de idade ela logo entrava no modo negociadora com o dono para levar o objeto para a casa. O cheirinho de madeira é uma das minhas memórias afetivas favoritas junto com o bolo de maçã com canela recém saído do forno que apenas ela sabia tornar tão saboroso.

Senti um pouco de ansiedade ao percorrer, com o olhar, todo o ambiente à procura de Lis. Era a primeira vez que eu veria a garota com seu pesadelo. Isso queria dizer que eu teria que conversar com ela com um monstro nas suas costas, mas isso era algo que eu precisava aprender a lidar, e esse era o momento certo para começar. Meu olhar foi sugado pela garota sentada em uma mesa que era iluminada pelo vidro à sua esquerda, mas eu percebi um choque percorrer meu corpo como um alerta, eu estava vendo algo que não tinha me preparado para ver.

Acontece que Lis não tinha em si nenhum monstro sugando seus medos e traumas, tudo que ela tinha era uma névoa densa que fazia círculos em volta do seu corpo, mas seu olhar e o sorriso que tinha entre os lábios me fizeram focar na garota novamente. Tratei de retribuir, mesmo que a minha cabeça estivesse confusa tentando entender o porquê daquilo? Isso significava que Lis não tinha um medo? Mas como isso seria possível? Todo mundo tem medo de algo, nem que fosse da morte. Que pessoa não sentiria medo de morrer? Isso sempre traz tanta dor e...

A Cidade dos Pesadelos (The Nightmare City)Onde histórias criam vida. Descubra agora