Capítulo 6 - A ponte

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Ao inspirar meus pulmões se encheram com o ar, preenchendo também o meu corpo com uma calma que a muito tempo eu não sentia. Em seguida meus olhos se abriram expondo um ambiente que não era desconhecido, as pequenas luzes brancas já não iluminavam tanto o local por conta dos feixes de raio solar que adentravam entre as cortinas iluminando o chão do quarto de Olivia. Senti seus braços em volta de mim tão quentes quanto o sol devia estar lá fora, sua respiração forte contra meu cabelo me fazia sentir os fios serem separados, mas era tão bom. Por isso eu a abracei sentindo seu corpo nu ainda mais próximo do meu, não tanto quanto eu gostaria, mas sentir sua pele contra a minha me fazia pensar que era realmente um privilégio estar viva.

–Eii... bom dia. –A voz súbita de Olivia me fez encarar seu rosto que continha um sorriso tão leve quanto aquela manhã de domingo.

–Bom dia. Eu te acordei? –Eu sorria de volta.

–Não, meu sono estava levinho já. –A garota apertava ainda mais nosso abraço, eu queria continuar ali pra sempre. –Você está bem?

–Sinceramente, eu não me lembro se um dia estive melhor. –Eu tocava as costas expostas de Olivia deslizando meus dedos pela pele.

–Quer ficar mais um pouco comigo? Passar o domingo aqui...

A oferta era boa demais para ser recusada, então apenas respondi com um "uhum" afundando minha cabeça no peito da garota. Ali eu conseguia sentir o mesmo perfume tão marcante, que eu já decorara como sendo o cheiro dela.

O tempo parecia não passar enquanto estávamos apenas em silêncio deitadas naquela cama aproveitando a companhia uma da outra, fomos apenas interrompidas pelo ronco da barriga de Olivia que nos tirou algumas risadas para então decidirmos que era hora de levantar e comer algo.

Eu estava vestida com uma das camisas cinza oversized da mais velha enquanto observava ela virar uma das panquecas que preparava e logo em seguida a colocar numa pilha com outras 3 ou 4. Era notável a delicadeza de Olivia enquanto ela passava a geleia de morango em algumas torradas ou o cuidado com que suas mãos colocavam as cápsulas de café na máquina de expresso. Passar aquele tempo com ela ali era incrível, não me lembrava de sentir tanta paz quanto enquanto nos deliciávamos com o café da manhã e conversávamos sobre coisas aleatórias do nosso dia, nada de cidade dos pesadelos, nada de monstros, apenas duas adolescentes que estavam se descobrindo e apreciando algum momento juntas.

–Então... –Eu quebrei o silêncio enquanto ajudava Liv a organizar a cozinha. –Você mora sozinha?

–Claro que não. –Ela sorriu com a pergunta. –Eu moro com meus avós, mas eles estão comemorando aniversário de casamento e com muito custo eu os convenci de fazer uma viagem.

–É muito fofo da sua parte fazer isso, sabia? –Eu colocava um dos pratos no lava louças.

–Não é nada, eles apenas nunca se divertem, entende? Têm vivido esse tempo todo para me criar e acabam esquecendo deles.

–Você cresceu com seus avós então? –Questionei.

–Sim... –Olivia apoiou as duas mãos no balcão como se estivesse precisando de apoio, o que me deixou bem preocupada, já que a expressão em seu rosto era de dúvida.

–Você tá bem? –Eu me aproximei deixando que minha mão fizesse carinho nas costas da garota.

–Eu estou... é só que... –Ela hesitou, e depois de respirar fundo continuou. –Acho que eu devia ser sincera com você nessas alturas, principalmente te pedir desculpas pelo que fiz ontem.

Olhar para Olivia assim era algo que me machucava, ela com certeza sentia culpa de ter invadido meu encontro com Rui, mas não era algo com que precisava se preocupar. Toda minha raiva havia desaparecido desde aquele beijo. Então eu puxei a mais alta para perto de mim envolvendo seu corpo com meus braços.

A Cidade dos Pesadelos (The Nightmare City)Onde histórias criam vida. Descubra agora