A Cidade dos Pesadelos (The Nightmare City)

Capítulo 7 - Desespero

Os dias estavam passando rápido demais, tão rápido quanto eu via o professor de química despejando um pouco de vinho no balão volumétrico. Os alunos do segundo e terceiro ano olhavam com atenção a demonstração de um experimento de destilação. Eu estava ficando acostumada com a junção das turmas, era uma tentativa dos professores de fazerem os alunos de diferentes classes interagirem socialmente, mas eu nunca poderia me acostumar com o fato de que de vez em quando teria aulas com Olivia.

Ela estava com o seu grupo na mesa à minha frente, e isso me fazia ver o cabelo cinza preso em um coque mal feito deixando alguns fios caírem sobre o jaleco. Já fazia quase um mês desde que dormimos juntas, e devo dizer que o tempo do intervalo ou as poucas horas que conseguíamos fora da escola nunca pareciam o suficiente para o tanto que eu a queria. As coisas estavam indo estranhamente bem com a gente, era bom passar, nem que fossem minutos, na presença da garota. Seus beijos e carinho eram, para mim, um lugar de paz.

–Lore, presta atenção! –Eu senti uma cotovelada de Domi que estava ao meu lado direito chamando minha atenção. Por conta disso foi possível perceber risadinhas vindo do meu outro lado onde estavam Julia e Lis.

Dominique tinha se aproximado muito de mim e das meninas desde que começamos a conversar. Não era possível a ver muito na escola, além dos intervalos que passávamos todas juntas, mas sempre saíamos as quatro para ir ao cinema ou qualquer outro lugar onde garotas da nossa idade costumam ir. Além disso estávamos observando o comportamento do pesadelo de Julia quando Elisa estava perto, o que nos deu ótimos resultados, já que enquanto as duas conversavam ou se relacionavam de qualquer forma, o pesadelo de Julia tinha uma reação semelhante ao de minha mãe enquanto estávamos jantando a um tempo atrás. Sua aparência ficava cada vez mais irregular e fraca, quase como se estivesse desaparecendo aos poucos.

Isso era uma boa notícia já que pudemos chegar a conclusão de que o pesadelo da minha mãe poderia ser desfeito apenas com minha presença, e era possível superar aquele trauma mostrando para ela que não, ela não me veria daquela forma numa cama de hospital nunca mais. Mas não apenas isso, depois de muito debater sobre o assunto, também imaginamos que Elisa poderia de alguma forma evitar que Rui se tornasse um devorador. Só que a parte mais difícil era: como fazer Lis interagir com ele? Ainda que conversássemos às vezes, eu e o garoto nos afastamos bastante desde a última conversa onde ele sequer tentou calar a boca de Erick que vomitava merdas sobre Olivia que jamais seriam verdade. Mas apesar disso ele era uma pessoa boa, e de forma alguma mereceria se transformar em algo cruel que acabaria com a vida dele sem que tivesse controle sobre isso.

O aviso de Domi para me fazer prestar atenção na aula não tinha sido suficiente, mas uma mensagem que acendeu a tela do meu celular que repousava em cima da mesa foi. A mensagem era de Liv e dizia "Tá distraída demais, desse jeito vai perder a aula." Era verdade, nessas alturas do campeonato o vinho já estava fervendo dentro do recipiente e sendo destilado, o que deixava um cheiro intenso de álcool na sala, só depois de olhar para o professor eu encarei Olivia que olhava pra trás me encarando de volta e sorrindo, mas rapidamente se virou e digitou em seu celular outra mensagem que logo chegou pra mim "Tá quente né?". Eu não estava sentindo calor, então olhei novamente para a garota buscando checar se estava tudo bem, mas ela estava. Eu quem não ficaria.

Com um movimento leve e delicado, Oliva levou a mão até o pescoço tirando os poucos fios que o cobriam deixando agora completamente exposta uma tatuagem que dizia "touched with fire". Como se apenas a visão do pescoço de Liv não fosse o suficiente para me fazer derreter, aquela tatuagem era uma novidade, quase como um convite. Um convite que eu precisava receber não durante uma aula de química, mas sim a sós. Os dedos da garota passando por cima da pele, agora marcada, me fizeram queimar de dentro pra fora. Eram pra ser meus dedos, não os dela. Era pra ser minha boca tocando a pele macia naquele lugar.