Capítulo Cinco: Serpentinha, Serpentinha.

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Capítulo Cinco
Serpentinha, Serpentinha

Capítulo CincoSerpentinha, Serpentinha

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Setembro de 1993, 3º ano

Era um sonho frágil e delirante; havia um homem, jovem, culto e tão doce que o olhar abatido em seu rosto partia o coração dela. Ele parecia estar chorando, suplicando em uma voz baixa e gentil para que ela voltasse para casa.

"Que casa?," gritou Amelia, no sonho, encharcada por causa da chuva, decidida a aceitar os açoites fervorosos do vendaval como um castigo auto-infligido. Ela merecia sofrer. O homem pensava o contrário. Não era a primeira vez que ele aparecia para buscá-la. Tudo que ela queria era ser deixada em paz. Ela queria que ele desistisse de uma vez, que remoesse seus arrependimentos sozinho, sem precisar usá-la como uma forma de redenção. Ela não era a redenção de ninguém.

"Venha, Lia. Por favor."

"Não me chame assim. Você não tem o direito."

O coração dela doeu. Ela queria feri-lo também, mas estava somente ferindo a si mesma. Aquele olhar magoado, cheio de culpa e remorso cortava-a por dentro. Ele a abandonou primeiro, ela lembrou. Ele fora o único a ir embora. Deixou-a sozinha. O que ela poderia ter feito com a saudade culposa que queimava em seu peito, além de deixá-la se espalhar como uma erva daninha e deteriorar? Quão irônico era. Amelia era uma sedução doce, e lamentava-se como uma coitadinha rejeitada.

Ela preferia o fulgor da paixão, o esquecimento momentâneo do álcool e dos amantes noturnos, do que isso — essa tendência avassaladora e detestável de sentir.

Ela odiava a mágoa no rosto dele.

Odiava a curva cínica no próprio sorriso.

Era a melhor arma dela. Sempre fora. Seus lábios, enganosos e sedutores, sabiam quais lugares perseguir para causar mais dano. Ela proferia maldições como ninguém. Transformava mágoas em ódio. Carinho em rancor.

"É patético," ela disse, sabendo atingir exatamente onde mais doía, "vê-lo agir como um tipo de salvador altruísta. Eu sempre pensei que eu e ele éramos parecidos, mas, depois de tudo isso, eu percebi o quão estava equivocada. Sabe, ele nunca teria feito o que você fez. Acho que faz sentido, no entanto, dada a sua natureza. Acredito que seja parte do instinto, atacar como uma besta enfurecida, então ir embora e voltar com o rabinho entre as pernas. É normal. Os cães fazem isso, mordem e depois choramingam por perdão... mas, você não é bem um cão, é? Não. Só é um pouco domesticado. Um lobo em uma coleira... e a rédea está bem frouxa, não está?"

A expressão ferida dele não a fez sentir melhor. A chuva amortecia a eletricidade ansiosa de sua magia. Ela poderia se aproximar, fazê-lo esquecer aquelas palavras duras. Poderia voltar para casa com ele, se contentar com os afetos e os carinhos do cotidiano. A convivência entre eles poderia ser tão calorosa e amável quanto tinha sido antes. Eles poderiam entrar em uma rotina juntos, se acostumar à solidão de duas pessoas. Haveria para sempre um buraco entre eles, um vazio. Algo faltando. Viver lado a lado com a saudade e a lembrança seria difícil, mas não impossível. Eles se adaptariam. Amelia conseguia vê-los: deitados no sofá, fingindo não sentir a ausência gritante de outra pessoa.

O Olho do Dragão, Harry PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora