Por Trás De Tudo

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Sempre dizem que por trás de tudo há uma explicação. Mas naquele momento, não havia absolutamente nada por atrás de mim. Eu era um vazio, nada mais que um vazio. O que você faria se a pessoa que te preenche simplesmente desistisse de você? Era tudo tão difícil. Me olhei no espelho e tive dó de mim. Era uma cena decadente. Sozinha, trancada no banheiro de casa. No peito, sensação de solidão. Nos pulsos, as marcas que essa solidão deixou. Me olhei no espelho e perguntei a mim mesma, talvez pela décima vez, por que essas coisas aconteciam comigo. Logo eu, sempre tão boa, acostumada a dar-me sempre por completo à quem amo, recebo sempre metades. Eu, sempre tão intensa, pareço me magoar sempre na mesma intensidade. Eu, Julya. Eu, não sem defeitos, mas com várias qualidades. Eu, que tão boba, insisto em me apaixonar, mesmo quando aquela sensação de "vai dar merda" bate no meu peito. Olhei pra mim mesma, as lembranças vieram como água que cai ao se abrir uma torneira...
Ele era lindo. Perfeito pra mim. Não era tudo que eu sonhava, é verdade; mas se a vida fosse uma dança, ele saberia dançar muito bem. Conheci ele num domingo de sol, numa fase tão difícil, quando estava só e carente, e ele chegou com aquele sorriso. Já me arrependi inúmeras vezes de ter dado bola para aquele sorriso. Mas sorrisos são meu ponto fraco, e aquele sorriso era o ponto forte dele. Nem preciso dizer, me ganhou fácil. Começamos a ficar, ele me ganhava na manha todos os dias. Brigávamos e tinhamos ciúmes como se fossemos namorados, mas não namoramos. Inúmeras declarações, madrugadas inteiras em claro, um celular cheio de mensagens e um coração cheio de expectativas. Mas em algum momento tudo acabou. Eu senti, a gente sempre sente, alguma coisa dentro da gente sempre sabe quando alguma coisa acaba; e alguma coisa dentro de mim sentiu quando aquela paixão toda acabou. Mas eu sou trouxa. Não sei mandar alguém embora da minha vida, não sei lidar com despedidas. Fico igual uma trouxa esperando até que a pessoa me tire da vida dela, pra quando isso acontecer eu me perder dentro de mim e me afogar nessa tristeza idiota. Assim como estou agora. Inútil sofrer, ele não era meu, então como o perdi? Incrível essa minha capacidade de não ser boa o suficiente para fazer alguém ficar.
No fundo, alguma coisa me dizia que aquilo tudo era idiotice, que eu merecia mais do que ele poderia me oferecer. Resolvi ter um pouco de auto-estima. Se é que isso ainda existia em mim. Lavei o rosto e sorri para o espelho, em algum lugar da casa meu celular tocava. Droga, como disfarçar essa maldita voz de choro?
Saí do banheiro e fui encontrar meu celular jogado num canto da cama. Na tela, o nome da minha melhor amiga avisava que era ela que ligava.
_Alô, Jú?
_Oi, Mary._ Disse, disfarçando a voz o máximo possível.
_Hoje é sexta, já tá anoitecendo, e você aí, sozinha em casa. Topa um role básico?
Pensei um pouco... Afinal, que mal havia? Me distrair até que podia ser legal, mesmo pra mim que não gosto de festas.
_Hoje eu topo, Mary. Passo aí na tua casa daqui a duas horas. Quando tiver pronta te ligo, beijo.
Desliguei o celular e desabei no sofá. Mary era minha melhor amiga, e eu confiava muito nela, mas tinha coisas que eu não precisava contar pra ela. Preferia guardar pra mim. Nunca gostei de fazer as pessoas sofrerem. Era uma qualidade minha, eu era bondosa. Mesmo assim, sempre me fodia. Talvez fosse hora de mudar. Que mal havia, afinal? Mudar é sempre bom. E minha mudança ia começar a partir daquele momento. A partir da decisão. Era o fim de uma menina, o nascimento de uma mulher...

Sweet SeductionOnde histórias criam vida. Descubra agora