Medos E Segredos - Parte I

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Olhava o mar, as ondas quebrando na beira da praia. Era ali meu refúgio, sempre que me sentia confusa. O barulho do mar silenciava o barulho do mundo. E naquele momento, era tudo que eu precisava. As lembranças daquela casa me atordoavam, Edgar e suas mil faces. Ora era um cafajeste, ora era a vítima dos fatos. Não sabia qual era a verdadeira, não sabia realmente quem era Edgar. O amava, isso era claro em mim. Mas não era tudo. Amor não é tudo.
E Eduardo, tão perfeito, tão... Meu. Mas no meu coração, lá no fundo, eu sentia que nunca o amaria. Havia algo entre nós, uma barreira invisível e impossível de ser vencida. "Você não sabe quem é Eduardo, Julya" as palavras de Edgar ecoavam em minha mente. Talvez fosse só uma mentira para me confundir. Mas talvez não. Algo em mim teimava em acreditar nas palavras de Edgar, mesmo sem motivos para isso. Eduardo tinha um segredo... Todos nós temos.
Eu tinha que descobrir. Não era mais curiosidade, era necessidade. Edgar podia ser um cafajeste, mas mesmo com todos os motivos para dedurar seu irmão, ele não o fez. Cada dia eu o amava mais, o queria com a força com que o mundo foi feito. O queria mais que tudo, o desejava o tempo todo, queria ele de modo incessante. Era ridículo continuar atada a um homem frio, por pura dó. O amor talvez não seja tudo, ele não é um castelo perfeito e bonitinho. Esse castelo é feito de carinho, compreensão, amizade e afeto, principalmente da vontade de estar perto. O amor não constrói esse castelo, mas ele é o cimento, é a ligação que o castelo necessita para se manter de pé.
Estava confusa, sem saída, sem solução. Decidi ir para casa. Eduardo havia me emprestado seu carro, no momento em que disse a ele que queria ir embora, que não estava bem. Ele quis me acompanhar, mas insisti em negar. Não queria companhia. Não agora.

Acordei com o sol batendo forte em meu rosto, provavelmente já passava do meio dia. Minha cabeça doía, assim como todo o corpo. Me levantei e fiquei um tempo na janela, olhando o céu. Estava limpo, claro e o sol brilhava alto. Dias claros sempre me deixavam mais feliz, independente da situação. Me davam um ânimo maior, como se a luz do dia iluminasse minha alma. Peguei o celular e passei o dedo pela lista de contatos, sem pressa.
_Oi, Edu? Desculpe por ter saído ontem... Foi mal mesmo. Pode se arrumar? Temos uma visita para fazer hoje.
Escutei com animação enquanto ele assentia do outro lado da linha. A tempos não via Mary, e embora ainda não estivesse muito bem com ela, queria visitá-la, contar as novidades. Não havia jeito melhor do que levando Eduardo comigo. Minha intimidade com ela já não era mais a mesma, então decidi ligar para comunicar que estava indo para lá. Meses atrás eu iria sem aviso e sem vergonha, abriria o portão como tantas vezes já havia feito e entraria, sem esperar que alguém me chamasse. Bons tempos, a felicidade era simples, tão pequena... Que quando a temos nem notamos sua presença.
_Mary?
_Oi, Ju. Quanto tempo! - ela disse, como se estivesse surpresa pela ligação.
_Tudo bem?
_Aham... E você? - sua resposta foi vaga, sem convicção... Diferente da Mary de alguns tempos atrás.
_Também tô bem... Posso ir aí?
_Desde quando precisa pedir permissão? - ela deu um leve sorriso, pouco audível pelo telefone - Lógico que pode, boba.
_Tudo bem então... Tenho que te apresentar... - me esforcei para dizer "meu namorado", mas as palavras não saíam. Nem eu ainda não havia me acostumado com essa ideia. - Tenho que te apresentar uma pessoa.

Estacionei em frente a casa de Mary. Eduardo, no banco do carona, desceu e abriu a porta para mim. Toquei o interfone e o portão se abriu. Eduardo seguia atrás de mim, olhava desconfiado, como se temesse algo. Entramos e fomos até a sala, onde Mary nos esperava.
_Olá, Mary... Este é Eduardo. Edu, essa é Mary... Minha melhor amiga.
Eles se olharam por alguns minutos, Mary o analisava com curiosidade, Eduardo fugia de seus olhos, a olhava rapidamente, como se quisesse fugir. Segredos. Havia algo ali, algo que eu não sabia o que era.
Nos sentamos no sofá e conversamos de modo frio, sem sal. Assuntos banais como o clima, o dia, e como o tempo estava passando rápido. Eduardo estava maia frio do que nunca, respondia sem nenhuma cordialidade, sem se esforçar em ser simpático ou em ser educado. Não estava interessado na conversa, fugia dos assuntos com frequência, respondendo com respostas curtas e nem sempre com nexo. Chegou a um ponto em que as únicas que participavam da conversa eram Mary e eu, ele ficava de escanteio, sem se intrometer e nem se interessar.
Até que ouvimos o portão se abrir. Os pais de Mary logo entraram na sala, me dando um sorriso caloroso e amigável.
_Julya! Querida, quanto tempo! Achei que havia se esquecido de mim! - a mãe dela disse, correndo ao meu encontro. Mas se deteu no caminho, assim que seus olhos encontraram os de Eduardo. - Ah, você! O que está fazendo aqui? - ambos perderam a cor, de repente ficaram pálidos e o clima ficou pesado, como se o oxigênio do ar tivesse se transformado em ferro.
_É meu... Namorado. - disse, de modo singelo, envergonhada e numa tentativa de esclarecer as coisas.
Minha tentativa foi totalmente falha. Vi a mãe de Mary ficar branca como cera, e em seguida cair no chão. Seu marido, desesperado, correu ao seu socorro. E Mary, assim como eu, fitava Eduardo com uma curiosidade, e com assombro. Eduardo suava em bicas, e saiu lá para fora, dizendo ir ligar para a ambulância.
Meu Deus, o que foi aquilo? O que havia acontecido ali? A única pessoa que poderia me responder estava estirada no chão, pálida e com a respiração entrecortada.

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