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Acordei ja arrumando o quarto, vi um bolinho de feijão doce em cima da mesa, com um bilhete escrito apenas "coma".

Sai do quarto e a vi conversando com um outro hóspede, com o corpo alto e firme ela transparecia frieza, mesmo conversando casualmente.

Fui até ela e me mantive calada com a cabeça baixa, esperando pra seguir alguma ordem.

Pouco tempo depois a conversa acabara e fomos até a carruagem à outro destino. Para minha surpresa toda nossa bagagem já estava lá.

No caminho ela lia umas cartas, as quais eu percebo que estão borradas, não posso olhar, mas tenho certeza que são as lágrimas de minha senhora que borram as palavras escritas as pressas.

Queria poder ajudar nesse momento, mas o medo que sinto de ser repreendida é mais forte.

Adentramos em uma floresta, repleta de carvalho. Consegui avistar um vilarejo ao longe.

Descemos em um templo muito antigo similar ao de uma dinastia rica e gloriosa, ele fica em frente a uma cachoeira enorme.
Parece que ele é propriedade dela.

Passou-se uma semana e nada, tive ordens de ficar apenas no quarto e não sair até que ela viesse me chamar.

Durante esse tempo meus pensamentos não deixaram de me atordoar nenhum só momento. Meu coração ficou gélido, principalmente por ouvir toda noite gritos de dor e desespero.

Era quase rotineiro, me assusto com a ideia de acostumar com eles.

Num dia chuvoso observei da janela minha senhora coberta de sangue, pela primeira vez em todo esse tempo ela usava branco. Que já não estava mais da cor original por conta do vermelho vivo que a cobria. A chuva lavava, tanto seu corpo como posso jurar que sua alma também.

No fim da tarde vejo uma carruagem preta e prateada, um homem forte e robusto desce. Ele entra no templo e posso ouvir a risada pelas frestas da porta.

De repente ouço um gemido de dor, imaginei ser de minha senhora e abri a porta com muita delicadeza, andei na ponta dos pés pelo corredor e abaixei olhando por de cima das escadas.

A cena que vejo é agonizante e doloroza, meu coração aumenta as batidas e ouço um biiiii no meu ouvido, as lágrimas escorrem pelo meu rosto. Sinto um sufocamento por ser um ninguém, inútil, que não é capaz nem mesmo de proteger sua senhora.

Estavam no centro do salão. Ela de quatro e o homem sentado na cadeira ao seu lado, rindo. O vestido que vestia era aberto nas costas, e bem na abertura estavam várias velas, elas respingavam na pele dela cada vez mais, parecia muito doloroso, a pele gritava vermelho.

Não consegui ver mais aquela cena, não sabia o que fazer pra ajudá-la, nem se tentasse, só ia piorar as coisas.

Até que ouço o homem dizer:

-Ah como eu amo o acordo que seu pai me fez, acho incrível que ele já sabia que nenhum homem se apaixonaria por você, seu monstro grotesco e nojento. -Gargalhava, adorando a situação.

-O único monstro aqui é você!

-Cala a boca VADIA! -Chuta a barriga dela com muita força.

Ela grita de dor. Vou correndo pro meu quarto tentando achar uma solução, andando em voltas eu tenho uma ideia maluca, mas quem sabe funciona. Penso.

Visito os outros quartos em busca de uma roupa, vasculho tudo ate que a encontro, visto depressa, prendo meus cabelos num rabo de cavalo alto, limpo meu rosto do rouge, coloco o chapéu que achei na última gaveta e termino colocando os sapatos, por fim me cubro com um manto glorioso, o qual nem parece ser as cortinas do quarto.

Pulo a janela devagar, com medo por ser muito alto, rodeio a casa e vou para a porta da frente, limpo a garganta e me coloco numa pose alta e confiante.

Subo as escadas tentando mostrar soberba e autoridade.

Chuto a porta com toda força que tenho, acho que pela adrenalina que sinto no meu corpo minha força aparenta aumentar.

-MAS QUE PORRA ESTÁ FAZENDO COM A MINHA MULHER!

Os dois me olham assustados.

-Sua mulher? Só pode haver um engano.

-E por que haveria? -Ando em passos lentos direcionados para ela.

-Esse monstro não pode ser sua, isso nem se pode considerar uma mulher.

-Messa as palavras pra falar dela senhor! Como ousa fazer tal crueldade com minha amada, merece a morte.

-Não pode ser... quem é você?!

Ele se para em frente a ela e começa a ficar nervoso com toda a situação.

-Escuta... quero que saia daqui imediatamente. Nunca mais chegue perto da mulher que eu amo! Você não é merecedor de tal felicidade.

-É casado com ela? Onde está os papéis? De que família você é rapaz?! DIGA ME! -Continua a conversa confuso.

-É minha noiva. Olha senhor... tem alguma coisa que eu preciso saber sobre toda essa situação? Ou já pode morrer?

-...

-SAIA!

-Essa... situação toda, está muito estranha. Me chame pro casamento. Pelo visto sua noiva não lhe disse nada, acho bom ela explicar, caso contrário ela ainda é minha posse.

Ele passa furioso por mim, assim que entra na carruagem e alcança uma certa lonjura, ela desaba no chão, vou correndo ajuda-la.

Tiro com delicadeza as velas acesas e ajudo a ir ao banheiro segurando-a pela cintura. Encho a banheira com água morna e com uma espátula de madeira, vou tirando a cera que se fixou na sua pele.

Ela geme baixo por conta da dor, por pouco não fica na carne viva.

-Você é louca. Não sei como não foi pega nessa mentira. Desobedeceu minha ordem e agora me prendeu nessa confusão toda.

-Desculpe me senhora, mas eu não podia ter ficado quieta, pelas cicatrizes nas suas costas o que aconteceu agora á pouco não é algo novo pra você. Me perdoe por me dirigir assim, mas acho que pelo menos por um tempo ele vai te deixar em paz até que possamos resolver essa situação.

-Está corajosa em criada, poderia cortar sua garganta agora mesmo por tal desacato.

-Igual você fez com aquele homem que te tortura? Não morreria se agradecesse uma única vez. Além disso só retribui a atitude que você teve comigo um tempo atrás me salvando daquelas pessoas.

-...

-Me dê licença senhora, vou preparar seu quarto e alguma coisa para comer. Bom banho.

Saio do banheiro furiosa. Como pode ser tão arrogante e querer dar sermão me ameaçando depois do perigo que passei pra salvá-la.

Claro que foi ela quem me salvou primeiro, mas eu agradeci... ah o que estou pensando, ela está em choque, não tenho o direito de cobrar nada pois ela é minha senhora, não fiz nada mais que minha obrigação de criada.

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