••● Capítulo 7: Preservando o Ecossistema ●••

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Havíamos nos divertido bastante, ainda não conseguia acreditar no quanto eu estava me sentindo livre por poder ser um pouco do que gostaria de ter sido, por ter agido como eu gostaria de ter agido durante todos esses anos que me julguei "maduro". aproveitamos em um dia o que por anos, eu gostaria de ter aproveitado antes. E ainda era só o começo do dia.
O parque foi projetado aos arredores de um gigantesco lago. Haviam bicicletas disponíveis gratuitamente para os cidadãos, que podiam alugá-las para passear pelo local se fizessem um cadastro de identificação, que era bem simples, e concordassem em devolvê-las após o uso, estacionando-as em pontos específicos para que outras pessoas pudessem utilizá-las.
O parque tinha muito para ser visto e admirado, então, decidimos ir descobri-lo de bicicleta. Seguimos por um caminho de tijolos muito bem encaixados no chão, inicialmente, havia somente uma paisagem de árvores aos arredores daquele percurso. O dia estava ensolarado, fazia um reconfortante calor, mas, preferia sentir o vento passando suavemente em meu rosto enquanto seguia aquela magnífica garota que se divertia tanto a cada pedalada. Ao avançarmos com as bicicletas haviam belíssimos gramados floridos que coloriam as paisagens, davam lugar à presença de borboletas, aves, grilos, até mesmo animais de estimação acompanhados de seus donos e, assim como no bosque, o som da sagrada mãe natureza expressava-se melodicamente com total calma na cantoria dos pássaros, das cigarras e no tranquilo sacudir das folhas das árvores. Estávamos em um lugar realmente muito agradável. Pude sentir o aroma semelhante ao da terra molhada pelas gotas de chuva, o aroma das flores, da natureza, o sopro umedecido do vento graças à presença de tantas plantas. Nós dois estávamos muito impressionados com as vistas que vinham a presentear nossos olhos, mas vale enfatizar que nada passava despercebido por ela, tudo o que via lhe fascinava, tudo lhe era incrível. Havia uma alameda  com plantas exóticas e cores diversas, repleta de chafarizes e canteiros floridos muito bem organizados que chamou sua atenção, então, encostamos as bicicletas na entrada do local.
Ela suspirava de emoção, tudo era esplêndido para seus olhos, sua expressão demonstrava todo o amor que ela tinha pelas coisas simples que a vida oferece. Aparentemente, flores eram as coisas que ela mais gostava, pensei em dar uma para ela, mas, haviam tantas de tantos os tipos e espécies que eu não sabia ao certo, qual escolher. Devido o tempo que demorei escolhendo uma que combinasse com os seus cabelos, acabei por não conseguir decidir a ideal para a surpresa a tempo.
Yamasy chamou por meu nome. Seu olhar resplandecia enorme bondade. Ela então me disse:
— É um gesto belo e gentil para os terrícolas o ato de entregar uma flor a alguém. Mas neste momento, você esta fazendo algo que me agrada imensuravelmente mais.
— O que estou fazendo?
— Ainda está mantendo-as vivas. Quando não estamos arrancando coisas da natureza, movidos por motivos pouco importantes, já estamos sendo enormemente úteis para o ecossistema. Os seres que sustentam a vida na Terra nos agradecem.
— Seres que sustentam a vida na Terra? — Imaginei pessoas importantes, vestindo-se de ternos e trabalhando em grandes negócios pra que as coisas funcionassem no mundo.
— Não, eu me refiro a um daqueles ali — apontou para uma abelha, das muitas que voavam pelo jardim florido. Aliás, incomodava-me a "ameaçadora" presença delas.
Vi em seu antebraço uma abelha um tanto desgovernada que parecia ter pousado nela sem intenção, mas que decidira ficar, talvez por curiosidade, no tecido da roupa que Yamasy vestia. Observando o que acontecia, considerei alertá-la sobre o inseto que nela estava pousado, mas, Yamasy o olhou com amorosidade, com felicidade, levando sua mão gentilmente à abelha que em sua veste encontrava-se, para que pudesse pegá-la.
— Esse bicho é perigoso! O que está fazendo? — perguntei-a, temendo que ela fosse atacada pelo inseto.
— Essa é uma meliponínea  — não entendi o que ela disse.
— Cuidado! Ela pode te ferroar! Mata!
— As meliponíneas não possuem ferrão — ela confiava no perigoso inseto, como se fosse o mais inofensivo ser deste mundo, que não demonstrava estar mesmo lhe fazendo qualquer mal; seu olhar apreciava o pequenino ser, repleto de sublime compaixão e apreço.
Fiquei em silêncio, apenas tentando entender como ela sabia mais do meu planeta do que eu. E já faziam muitos anos que eu morava nele, porém, fui interrompido por suas palavras, que me levaram à reflexão; ela dizia-me:
— Se a resolução dos problemas fosse simples como matar, mais fácil seria para os terrícolas iniciarem uma guerra de proporções globais que devastasse tudo, do que resolvê-los; os problemas materiais iriam embora, não? Talvez, munir  todo o planeta com espadas e se auto destruírem em guerras primitivas. Pobre abelhinha, não tema... matar nunca é opção, se fosse, pra quê serviria o cérebro em nossa cabeça? A violência é pensar com um senso de superioridade,  justificar a suposta insignificância de outro ser diante de si ou a invalidez de sua escolha e usar isso pra fugir do caminho da compaixão e sabedoria, é pensar com os músculos. Já a paz é admitir que o problema pode ser resolvido, e deixar que o órgão solucionador de problemas use a criatividade para resolver isto, basta admitir ser possível que as barreiras então, desaparecem, possibilitando que se tome ações positivas pra todos, pra que tudo sempre possa harmonizar-se. 

— O pacífico é, aos olhos de um tolo guerreiro, um covarde; pois o tolo não se dá conta em sua vida sobre as consequências inerentes a qualquer ato de maldade, parece corajoso, mas nada recebe ao partir dessa vida por se opor e derrotar tantos inimigos durante sua vida, pelo contrário, paga por isso; é na verdade, tão tolo, que paga até por sua tolice. Já aos olhos do sábio, o pacífico é valente, pois combate o mal sem ferir a ninguém, sabendo e aceitando que pode ser ferido, e entre tantos aqueles que contra tudo e todos disputam, és o único que possui a coragem de lutar sem armas.

Fiquei pensando no que ela disse. O pacífico precisa pôr em funcionamento seu cérebro, quanto que o tolo precisa pôr em funcionamento, suas armas.

— Tem razão — disse admirado por sua benevolência e sabedoria — e porque diz que elas, as abelhas, sustentam a vida na Terra? — perguntei-a.
— Porque elas cuidam das plantas, muito mais do que supõe o seu conhecimento, Saturno. 80% dos grãos, frutas e legumes no planeta precisam ser polinizados por esses pequeninos seres. As abelhas equilibram a flora; sem a flora não há fauna. Se elas sumissem do planeta... acredite! Os humanos também sumiriam. Honrai a existência destes seres sagrados. O que chama de Deus, chamamos de Amor Criador, Ele não está separado de você, nem do pequenino inseto, não criou o universo separadamente, pelo contrário, uma parte de si se transformou em universo, em mim e em você, na flor, na pequena abelhinha... se a Fonte de Amor, a Fonte da Vida, um ser tão grande e infinitamente poderoso, humildemente respeita-nos e divide a vida com você, com cada animal, com um ser tão pequenino como este, se o molda tão especificamente perfeito para ser como é, e para que viva, quem sou eu para pisar nele? O Divino está em sua vida. Se eu pisar nele, estou pisando somente no pequeno inseto? O Divino está em todos nós. Será que não estamos pisando em mais Alguém? Será que quando fazemos bem a outro ser vivo, não estamos fazendo bem a mais Alguém?
Ela fazia perguntas, simplesmente fantásticas! Que me levavam a enxergar a razão em suas palavras de forma nítida.
— Deus está até nas feras?
— Está em tudo, em cada átomo, em cada quark, é uma energia inteligente, consciente e onipresente, que atinge maior ou menor intensidade em certas coisas. Deus está presente na fera também, mas em menor grau energético do que a mãe e seu filho felizes a brincar no jardim do lar que tanto amam, está em tudo, sabe de tudo, de cada sentimento, de quem merece o bem, sabe quem precisa se melhorar de tal forma ou de outra, está presente em cada milissegundo, desde que tudo o neste universo material começou, é a mais avançada e inatingível superioridade consciencial que sequer possamos imaginar enquanto seres de 3° dimensão.
— Uaaau!
—  Portanto, machucar o outro, significa? — perguntou-me.
— Machucar a Própria Consciência Divina Onisciente!?
— Corretíssimo! Então devemos machucar uma inseto, um cachorro ou uma pessoa?
— Não!
— E como se faz bem à Suprema Consciência Criadora?
— Através do amor, sendo generosos, tendo respeito por tudo e por todos à nossa volta, até mesmo com os pequenos seres.
— Ah! — Yamasy suspirava de alegria me ouvindo dizer isto, parecia bastante feliz — Certíssimo! O serviço aos nossos semelhantes é uma forma de gratidão à Consciência Criadora, é servi-la. Mas não se esqueça, debaixo daquilo o que você pensa ser "você", está o Divino Criador.

— Como assim, Yamasy?

— Vós sois deuses. O Todo não criou o universo separado de si, se transformou nele, em mim, em você, na abelhinha... tudo é Deus — era raro ouvi-la dizer essa palavra, mas ela dizia as vezes. Não ousei lembra-la de que ela disse a palavra que pretendia evitar, pois eu estava concentrado em admirar a felicidade que se expressava em seu rosto e perdurava desde que eu havia mostrado a ela que compreendia bem o que ela ensinava.

Quando vi a abelha que ela segurava voar, lembrei-me de um detalhe, aparentemente, sem muita importância sobre o que Yamasy disse sobre as abelhas.
— Acho que já ouvi alguém de minha família dizer algo semelhante, sobre as abelhas serem um dos pilares  da vida na Terra.
— Foi a sua irmã — afirmou de forma certeira, fazendo-me lembrar que imediatamente, que realmente, foi mesmo minha irmã quem me disse isto. Mas... como ela sabia mais do que minha mente informava a mim mesmo?
— Ei! Como sabe disso? — Perguntei-a impressionado.
Ela sorria dizendo as palavras "humano terrícola...". Não compreendi o que ela insinuava com estas palavras. Parecia se divertir com o meu semblante  de incontestável surpresa. Não insisti. Sabia que ela me daria detalhes nos momentos certos, no entanto, deixei-me contagiar pela graça de seu riso tão alegre e bem intencionado. Tínhamos bastante a ver ao ar livre, por isso, voltamos a pedalar alegremente.

Caminhando à Paz, com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora