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— Olá? — Enquanto caminhava até meu apartamento, vi uma pequena garota no corredor, na porta ao lado da minha. Ela parecia procurar algo, pois seus olhinhos de coelho, rastreavam alguma coisa por aquele corredor. — Tudo bem, pequena? — Perguntei a ela, assim que parei em frente a minha porta.

— Moça, você viu um gatinho laranja? — Se aproximou em passos curtos. — Ele é pequeno, e tem olhinhos verdes.

Era fofo a maneira que ela descrevia o pequeno felino.

— Me desculpe, não vi nenhum gatinho por aqui. — Ela soltou o ar pela boca, chateada, e foi quando eu senti algo peludo se esfregando em minha perna. Quando me deparei, era apenas um gatinho. — Olha só, — Ela caminhava até a casa ao lado, quando a chamei. — Talvez esse pequenino pode nos dizer onde está seu gatinho.

Seu olhar se direcionou para baixo, vendo o gatinho laranja que tanto procurava. Com enorme e cativante sorriso, se aproximou de mim novamente.

— Luke!

— Luke? É o nome dele? — Me abaixei em sua frente, vendo-a acariciar o felino, que agora estava em seus braços.

— Uhum. — Assentiu ainda com um sorriso. — Ele gostou de você...

— Gostou?

— Sim. Ele não costuma se aproximar de pessoas desconhecidas. — Sorri ao ver como aquela garotinha era especial.

— Posso pega-lo? — Usei a gentileza ao meu favor, afinal eu estava falando com uma criança.

Ela assentiu, me entregando o gatinho, que não se recusou a ficar em meus braços.

— Mi-ha! — Ouvi uma voz surgir atrás de mim de repente. Quando me levantei, e virei para ver quem era, meu coração parou. Minhas pernas amoleceram. E minha garganta secou.

— Jeon?... — Eu podia apenas estar enganada.

— Jimin... — Mas, não era apenas um engano.

— Papai, ela encontrou o Luke.

Papai? Como assim? Jeon se tornou pai?!

— A, — Lembrei que ainda estava com o gato em meus braços, então o devolvi para a pequena, que por acaso, se chamava Mi-ha. — Obrigada por deixar eu pega-lo.

— Pode pegar sempre que quiser. — Sorriu largo, e era impressionante como uma garota tão pequenina falava tão bem.

Com um sorriso, vi ela se afastar. Assim que olhei para Jeon meu sorriso enfraqueceu drasticamente.

— É...hum, — Limpei minha garganta. Era claro o quão nervosa estava. — Está morando aqui?

— Nos mudamos hoje.

— Entendo. — Eu procurava brechas para escapar daquele momento tão constrangedor. — Bom, seja bem vindo.

Quando estava prestes a entrar em meu apartamento, senti uma mão forte, segurando meu pulso com sutileza.

— Jimin. — Eu o olhei. — Eu queria me desculpar...

— Pelo o que?

— Não terminamos bem. — Soltei um suspiro frustrado, virando meu corpo em sua direção, já que eu estava o olhando por cima de meus ombros. — E eu não tive a chance de me redimir com você.

— Não tem que se redimir, Jeon.

— Por favor... — Soltei o ar um tanto chateado. — Não diga que eu não lhe devo desculpas.

— Olha só,  — Com gentileza, fiz com que sua mão soltasse meu pulso. — Todos erramos ao menos uma vez na vida. E se não erramos, ainda vamos errar...

— Eu me arrependo do meu erro.

— Quem não se arrependeria? — Eu tentava ser compreensiva acima de tudo, mesmo sabendo, que me machuquei tanto a ponto de ficar dias sem comer, por causa dele. 

— Papai! — Mi-ha o gritou de seu apartamento, e mesmo estando evidente que Jeon queria terminar aquela conversa, ele não poderia deixar a filha de lado.

— Eu sinto muito mesmo. — Seu tom carregava arrependimento, mas era tarde para se arrepender.

Quando se retirou e seguiu para seu apartamento, senti o peso de meu coração aliviar. Era como na adolescência, meu coração sempre pesava quando eu estava perto de Jung, por pura ocitocina. Era sempre tão bom poder contar com ele para tudo. Mas tudo acabou em um mar de sangue.

[...]

Dia seguinte — 08:10 AM

Dias chuvosos eram os meus dias favoritos, porém, esse clima me fazia lembrar constantemente do meu arrependimento em ter comprado uma moto, ao invés de um carro.

Com a capa de chuva já posta em meu corpo, peguei meu capacete, e a chave da minha moto. Apesar de correr o risco de chegar encharcada no trabalho, era meu único meio de transporte.

Não era comum ver o elevador vazio durante as manhãs, mas por acaso, não havia ninguém por lá.

— Oi. — Acenou ao entrar no elevador. Minha mão travou na posição em que estava, eu paralisei e mau conseguia mexer meus dedos.

Apesar de ter passado anos, eu ainda não havia superado, ao contrário dele.

— Jimin? Tudo bem? — Perguntou ao se dar conta de que eu estava completamente travada.

— Tudo. — Voltei ao normal, logo após sua pergunta. — Vai para o térreo?

Ele assentiu, então acionei o botão no qual nos guiaria até o andar desejado.

— Moto? — Perguntou de repente, me fazendo olha-lo confusa. — Pretende andar de moto com essa chuva?

— A, — Sorri sem graça. — Bom, é meu único meio de transporte. Não tenho muita opção.

— Eu posso te dar uma carona.

— A, não, obrigada. — Agradeci sem querer ser rude.

— Qual é, Jimin? Prefere se molhar do que entrar em um carro comigo?

— Não confunda as coisas, Jeon. Somos vizinhos. Não precisa ser tão atencioso.

— Vizinhos? É isso o que somos?

— Por favor, não vamos tocar nesse assunto... — A porta do elevador se abriu já no térreo. — Não de novo... — Me dirigi até minha moto, enquanto jeon se dirigiu até seu carro. E foi aí que nos separamos.

𝐌𝐞𝐮 𝐯𝐢𝐳𝐢𝐧𝐡𝐨 𝐞́ 𝐦𝐞𝐮 𝐞𝐱! Onde histórias criam vida. Descubra agora