Morte - Capítulo VIII

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Marinette

Limbo, é a definição perfeita do vazio que sinto, a noite já não é tão linda como antes, pois diversos focos de fumaça acinzentada borram o céu em consequência de incêndios que alaranjam o horizonte. E a bela cidade do amor, virou um pedaço de apocalipse. Minha confiança e curiosidade foram abaladas facilmente e deram passagem ao medo e decepção. Sirenes poluem o som assim como buzinas e gritos dolorosos, ando pelas ruas sem direção totalmente perdida em mim mesma. Passo entre filas de carros amontoados
nas vias sem rumo, destroços de prédios também fazem parte do cenário ,os que restaram inteiros servem de abrigo.

Os bombeiros já iniciam os trabalhos de limpeza e resgate de vítimas, todavia amontoam diversos cadáveres em becos, tento ignorar o cheiro de carniça e a imagem terrível da morte, entretanto não consigo evitar o estômago embrulhado quando vejo uma garotinha, ou melhor, o corpo, contenho um grito ponto a mão na boca, os olhos marejam e logo transbordam rapidamente. Sou tombada culpa e pesar, uma criança foi brutalmente morta, por minha negligência, seu corpinho está roxo e retorcido, olhos para fora das órbitas e a mandíbula arregaçada — Me desculpa...— Murmuro para o cadáver desconhecido desolada, a partir do momento que recebi o miraculous era meu dever proteger-lá, mas não fiz, e agora uma inocente perdeu a vida, eu deveria ter agido antes.—

Toco no corpo na tentativa de deixá-la em uma posição melhor, a frieza e rigidez arramcam-me mais um bocado de lágrimas, consequentemente me afasto horrorizada, mesmo nunca a tendo visto sorrir, sei que sonhos foram jogados fora, toda um vida pela frente. Pequenas margaridas resistem em meio aos destroços de um prédio, vou em direção às flores, pego todas que consigo e as coloco em volta do corpo, num sinal de luto, na esperança de não inviabilizar sua morte, engulo seco quando arranco o resto dos olhos e os coloco em baixo da mãozinha.

Um desejo de vingança e justiça ascende, prometo a mim e a todos que perderam a vida por minha causa, que enquanto eu estiver com essa máscara não irei deixar mais ninguém se machucar ou morrer. Algo inexplicável circula junto a todo ódio e indignação, seguro o iô-iô tão forte que minhas juntas chegam a doer, encarando o horizonte percebo que as pessoas serão reduzidas a um dado estatístico, pessoas que eram amadas e amavam. Minha cidade foi destruída, todas as minhas memórias felizes e de muitos outros que se encantam por Paris, tantos que poderiam se apaixonar, eu deveria consertar, deveria ser útil. Caio de joelhos no chão, não contenho a dor que se dissipa, nem a "onda energética" que percorre todo meu corpo após um grito dolorido, abro os olhos confusa, é biologicamente possível uma espécie de "onda quântica" ser gerada com um grito.

Mas aparentemente é possível, é Miraculous! Boquiaberta olho para minhas próprias mãos, ao levantar giro em meu eixo perplexa. Uma onda vermelha reluzente começa a se espalhar consertando tudo que toca, um sorriso de alegria escapa do meu rosto, na verdade, vários, se a jeito para enormes construções deve haver para a morte. Cubro os olhos incomoda com a luz de um holofote sob mim, olho para cima e reconheço o helicóptero da France Télévisions, a quanto tempo estão aqui?

Ouço claramente suas vozes, irritada franzo o cenho com a mão acima da sobrancelha, talvez eu tivesse feito algo icônico, ou possivelmente foi um devaneio e eu sou uma esquizofrênica gritando na rua, entrando não sou nenhum tipo de celebridade para querer holofote.Meu cabelo chicoteia com o vento da hélice cobrindo meu rosto e as poucas flores começam a voar— Após Paris ser arrasada por duas criaturas não identificadas, uma "Heroína vermelha" surge. A bela jovem dos olhos cor de safira protagoniza um momento emocionante e comovente quando, após a morte trágica de mais um indigente, ela foi vista cobrindo o cadáver de uma garotinha com flores em um gesto de luto e respeito. Este momento de compaixão e humanidade comove aos parisienses, mostrando a verdadeira essência da bondade em meio à brutalidade dos últimos acontecimentos. A garota também fez algo inimaginável, após um ataque de raiva, uma espécie de energia foi liberada, que vem concentrando tudo ao caminho. Segundo informações do repórter a bordo do outro helicóptero, o poder da heroína está quase atingindo o museu do Louvre onde uma das criaturas foi aprisionada pelo "Morcego sem asas", que agora traga um cigarro?— A confusão da repórter seria cômica se não fosse trágico. —

Talismã-A balada do gato e a joaninha Onde histórias criam vida. Descubra agora