Índole- Capítulo IV

4.6K 409 1.1K
                                    

Playlist- Look What You Made Me Do ( Taylor Swift )

———————
Marinette

Meu celular parece que vai explodir de tantas notificações, o que eu mais temia após o caos de ontem aconteceu, os holofotes se voltarem para mim. Pessoas que nunca vi na vida me perguntam se estou bem, não as respondi e nem vou respondê-las, um bando de hipócritas. Largo o celular na bancada da pia e entro de uma vez na água congelante do chuveiro, esperando que as gotas levem a impureza da minha alma. Pego a esponja ensaboada e esfrego com afinco, esfolaria minha pele se fosse preciso. Grunho, largando a esponja no chão, com meu glúteo latejando e queimando. Me espatifo no chão rente à parede, eu poderia arrancar minha pele, mas as mãos de Karl ainda vão ficar, a sujeira e a ardência vão permanecer, irei carregar para sempre o peso de ter sido assediada e quase estuprada no corredor do colégio, que deveria ser um local seguro para todos.

Passei horas no chuveiro apenas no silêncio exterior, mas aos gritos do âmago.

A noite de sono foi atribulado, uma mistura de passado e presente sem fim, um loop de sepulcro. A cada ida e vinda a minha estrela guia de olhos verdes me reivindicava, clamava por mim, dizendo que sou sua. Os mesmos braços que me seguravam, beiravam à insanidade e me empurraram, num penhasco tão ambíguo como o limbo. E tudo se repetia num ciclo sem fim, o sangue da estrela em minhas mãos, em seguida o corpo afundado no rio Sena e o silêncio, e onde as mãos de Adrien tocaram uma única vez, agora doía e era tão sujo quanto nossa balada.

Alya: "Te espero no portão, o diretor foi suspenso por uma semana, vão conversar com todos os envolvidos no intervalo..."

Guardo o celular na mochila e sigo meu caminho, agora mais difícil que nunca. Reparo no sol, mas ele é tão frio e opaco, o rio Sena que nunca mais espelhou um crepúsculo celestial, as construções já não refletem o brilho matinal, as gárgulas não mais afugentam as almas ruins ruins que usam o nome de Deus e adentram em sua casa, com uma cruz cheia de heresias escondida por belos ternos e gravatas. Algo morreu em mim, não sei explicar o que, mas sei exatamente quando se foi. O que o senhor entrega com uma mão, com a outra tira, em troca de todas as cores e belezas da vida, ganhei a bolsa de estudos e sementes de um bom futuro. Mas anteontem havia mais um cadáver, o meu. O que restava da pequena garotinha que entrou como se este instituto fosse o paraíso, foi enterrada no fundo de minha alma, e agora só carrego suas cicatrizes.

E espero logo matar a garota de Agreste também.

No caminho até a sala de aula , fui parada diversas vezes por alunos que nunca vi, e agora, quase todos meus colegas de classe exceto Chloé e Sabrina formam um paredão na porta. Rosé dá um passo à frente representando o grupo. Penso por que simplesmente não falam, mas logo tenho minha resposta. Todos de alguma forma são escravos do demônio loiro. Silêncio e obediência são a única ordem. Olhando por essa ótica, finalmente percebi o ponto de Alya. Chloé cala um por um individualmente e garante que fiquemos calados, mas se nos unirmos contra o regime, ela não terá forças. Tento desviar, mas a vozinha fraca e trêmula finalmente ecoa, mesmo relutante paro para ouvi-la. No final das contas, afastei todos de mim tanto quanto eles se afastaram.

-Me desculpa, Marinette! Nós éramos amigas, e eu te deixei - Ela gagueja- Gostaria ter te ajudado, ficado ao seu lado, mas a Chloe...

A corto- Você não deve culpar os outros pelas suas atitudes. Vocês todos se afastaram porque quiseram, cederam porque aceitaram ter medo. Esta turma virou um inferno porque deixaram!-Aproveito a deixa para me esguelhar pelo grupo com Alya-

Talismã-A balada do gato e a joaninha Onde histórias criam vida. Descubra agora