Barganha - Capitulo XII

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Marinette

Obrigada ao silêncio que tanto desejei e agora me enlouquece ecoando o puro nada em minha alma oca.

As lágrimas já não caem há semanas, talvez seja a única coisa que tenho feito por mim mesma, nada nenhuma gotinha sequer escorre pelas minhas bochechas, nem o mais doloroso ressentimento, os mais terríveis pesadelos. Chorar não irá trazê-la de volta, tão quando sucumbir a dor, as lágrimas apenas mostrariam minha fraqueza, meu interior quebrado, explicitam a tristeza que nem eu mesma consigo controlar ou entender. Perdi o controle sob mim. Nunca tive controle. Passei a vida toda me escondendo nas sombras, minha mãe era a luz que me guiava, sem ela quem serei? Talvez a melhor pergunta seja quem eu sou...

A garotinha podada pelo medo irracional de tudo, ou armadura de estudante modelo? Quem eu fui por trás de todas as memórias desconhecidas? O que realmente veio de mim e não apenas uma reação ao ambiente para permanecer na sombra ou tentar ser aceita ou a história contada por alguém sobre MIM, onde está a verdade Marinette? Não sei, é uma busca as cegas porque também desconheço como ela é. Vasculho minha memória a procura de uma lampejo, encontrei o limbo de uma pré-adolescente insegura marcada por todos os traumas de uma infância corrompida, vejo uma menina com ódio de si mesma se escondendo de tudo e todos atrás de um enorme casaco de moletom. No auge da adolescência, a tentativa frustrante de se moldar aos olhos dos outros me derrubou novamente, pelo visto lutar a favor do sistema também não é fácil. Meu peito doeu ao me lembrar que inicialmente eu odiava cuidar de minha mãe, tal tarefa se tornou minha maior obrigação pelos últimos anos e agora acabou.

Tudo acabou.
Acabou.
Acabou.
Acabou

Agoniada fico bolando de um lado para o outro da cama, em busca do tão acalentador e desesperador, sono, bufo de raiva, por que diabos nunca consigo dormir? Talvez se não negligenciasse os remédios do psiquiatra a situação não estaria tão crítica, mas sinto que estou cada vez mais louca quando recorro aos remédios.Ao menos a licença escolar aumentou em mais um mês ou seja, ainda terei as férias longe das atividades escolares.A agonia só cresce quando olho a data no telefone, está passando tão rápido, a escola nem sempre foi uma tortura, mas o bullying, a necessidade der ser aceita e manter uma fachada a tornaram o martírio. Como vou chegar à escola depois de meses sem frequenta-la? O que vão pensar quando me verem? Com que caras e bocas serei julgada? O que irão comentar? Como devo me comportar, o que devo ser ?

Determinada a não deixar os medos me dominarem, vou à varanda, meu lugar de paz, debruçada no parapeito imediatamente meus olhos vagueiam pelo telhado vizinho, nada, é no vazio da distância que por muito tempo tracei uma linha tênue entre loucura e realidade, Alya viu o vídeo, ele é real, o que deveria ser preocupante, para mim torna a situação ainda mais emocionante, inconscientemente espero sua companhia na varanda, o olhar distante e atento, sei que na maioria das noites ele me observa ao longe, me pergunto se é apenas um devaneio, mas sendo a realidade porque me olha as madrugadas? Eu fito o horizonte e todas as luzes urbanas que sucumbem o majestoso brilho salpicado celeste, quando o fantasma captura minha atenção, desvio o olhar sentido o calor em minha nuca, nunca fui de contemplar as estrelas, elas são invisíveis numa vida urbana, mas passei a ser mais atenta em decorrência do fatídico aniversário de dezesseis, um ponto positivo deste dia.

Me mantenho um olhar afiado para meu possível stalker, que ironia do destino, fui de observadora para observada, me revolto porque as luzes que apagam as estrelas não são capazes de iluminar plenamente quem me encara, e está perto o suficiente para distinguir perfeitamente seu olhar, mas o capuz ainda faz uma sombra no seu rosto, deste ângulo o "verde" virou âmbar. Seu corpo é completamente recoberto pelas sombras, mas é grande, um vento gélido sacode meus cabelos, todos meu corpo arrepia, meus seios endurecem rapidamente, o medo acelera novamente meu coração, ao passo que desta vez aquece um ponto critico entre minhas coxas, seu olhar se torna lupino ao passo que o meu fraqueja.

Talismã-A balada do gato e a joaninha Onde histórias criam vida. Descubra agora