Aceitação - Capítulo XIV

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Marinette

Foram-se mais de meio ano sem sentir absolutamente nada, estando no completo limbo. Não faço ideia de como aguentei, o que não me fez desistir. Talvez uma fagulha de coragem, ou simplesmente a falta dela para arrancar minha própria vida. Meses agindo como um vírus, apenas fazendo o necessário, sendo levada junto ao curso do tal destino, esta é a direção afinal, certo? É desesperador viver sem estar vivo, o que antes me fazia sorrir, apenas batia numa parede oca e retornava, nem mesmo o medo que arrepiava até o último pelinho não causava nada, nem mesmo os pesadelos intensos me tiravam do fundo do oceano, não existem ondas fortes o suficiente para agitar a parte mais profunda, nem mesmo a calmaria ou luz. Os remédios, a terapia eletrochoque eram como gotículas de chuva, não chegavam ao fundo.

Nada.
Nada.
Nada.

Tentei encher minha mente com tarefas (uma das sugestões da terapeuta) mas nada era suficiente, o ballet e a musculação melhoraram meu corpo, e preencherem um vazio que desconhecia, os vilões tomavam um dia e até madrugadas, mas apenas fazia o necessário e logo deixava de ser a incrível Ladybug. Dizem que mente ocupada não tem espaço para pensar em besteira de depressão, ridículo,realizava tudo perfeitamente todo o tempo, mas era como um grão de areia caindo no mar. Ouvi também que seria necessário superar meus traumas, entender medos, não os superei tão quanto enfrentei, apenas os engavetei e empurrei até torná-los "irrelevantes", mas também não significa que não penso neles ou que durmo tranquilamente todas as noites.

Imaginei por um momento que iria acordar e estaria na superfície vendo o sol. Não aconteceu. Frases de coach de redes sociais, não fizeram um estalo mental e magicamente trouxeram-me a alegria de um segundo para o outro, tão quando um biscoitinho da sorte me fez querer sorrir, levantar a cabeça e sentir que tudo faz sentido. O tempo que tanto desacreditei foi o melhor remédio, mesmo não sentindo nada, mesmo sem um norte, degrau por degrau fui me reconhecendo novamente.

Mas ainda não sei quem é Marinette ou quem ela foi.

Um coração quebrado não cicatrizado, vira apenas um amontoado de correntes e cadeados para protegê-lo.

A um ano atrás, tudo de pior começou, sinto falta de Sabine mas de fato o tempo sucumbiu a dor, sua luz sempre foi minha guia mas sem, pude aprender a nadar no escuro(não me afogar). Não sei o que ela me escondeu, quase todas as noites durmo pensando em seus escritos pós morte, bem como o que minha consciência trancou a sete chaves no passado. Durante o período de depressão a incerteza reafirmava que ainda havia uma consciência em mim, o lago, este fato até então desconhecido mencionado em um dos cadernos que minha mãe deixou, reaparece na forma de apagão.É sempre a mesma coisa, ainda criança estou correndo, muito aterrorizada, caio, e diferente do escrito mamãe me tira do lago. Me tira razão não saber distinguir com clareza, isso também explicaria minha forma de visualizar o desespero como um afogamento. Pensar em quais outras partes de mim foram enterradas com minha mãe me traziam e trazem raiva, indignação e a revolta por tentar recuperar o que foi perdido, a sede por verdade. Estes foram os primeiros sentimentos e sensações que voltaram.

Encaro somente meu reflexo forçando um sorriso em meio a lágrima que arrasta a maquiagem recém finalizada (nota mental, "chorei" pela primeira vez em meses), totalmente alheia ao exterior, tento focar nos exercícios mentais para me manter estável, apenas devo sorrir, estou bem, agora estou mais bem próxima de minha classe, tenho mais colegas, Chloé não vai estar. Quero me sentir bem. Há um ano atrás, neste mesmo dia era uma garota totalmente acanhada, assustada sem qualquer autoestima ou percepção de futuro, com único objetivo de conquistar um garoto do passado, não o esqueci apenas enterrei a obsessão, e o coloquei no lugar, o passado. Mas mudei, ou não ? Já se foi um ano, porque sigo assustada como no ano anterior? Temo voltar ao mesmo estado, temo não conseguir superar Hawk Moth, falhar como Ladybug, falhar comigo mesma.

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⏰ Última atualização: Aug 25 ⏰

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